Notícia

SC Todo Dia

Droga usada contra leucemia é capaz de combater o parasita causador da doença de Chagas (69 notícias)

Publicado em 13 de julho de 2023

Resultados foram apresentados por pesquisadores brasileiros em artigo publicado

Em artigo conduzido por pesquisadores brasileiros publicado pela revista científica Journal of Biological Chemistry foi identificado que uma molécula – a mesma presente em droga usada no tratamento de leucemia – é capaz de inibir a proliferação do parasita causador da doença de Chagas, conhecido como Trypanosoma cruzi, transmitidos por insetos barbeiros ou bicudos.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Centro de Química Medicinal da Universidade Estadual de Campinas (CQMED-Unicamp), em um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a dificuldade de diagnóstico e de tratamento tornou a doença de Chagas uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias no Brasil, com média de 4 mil casos por ano nos últimos dez anos.

A doença conta com 30 mil novos casos e aproximadamente 12 mil mortes por ano em todo o mundo.

Até o momento, existem apenas dois medicamentos disponíveis para o tratamento: o nifurtimox e o benzonidazol. De acordo com a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), cerca de 20% dos pacientes interrompem o tratamento por causa dos efeitos colaterais, que incluem intolerância gástrica, erupções cutâneas e problemas neuromusculares.

“As opções de tratamento ainda são muito tóxicas, ou seja, para atacar o parasita o medicamento acaba afetando outros processos do nosso corpo, gerando os indesejáveis efeitos colaterais”, explica Katlin Massirer, coordenadora do CQMED e autora do estudo. Uma das alternativas é encontrar medicamentos que atinjam apenas o foco da doença.

A coordenadora ressalta que a identificação de proteínas-alvo no parasita que sejam relevantes para o desenvolvimento de medicamentos ainda é um desafio de maneira geral. “Quando se consideram os protozoários parasitas, isso é particularmente difícil, uma vez que estes têm vias enzimáticas e metabólicas distintas”, explica Massirer.

Os grupos da Unifesp e Unicamp vêm estudando a enzima chamada TcK2, testando 379 moléculas inibidoras, tendo apenas como duas moléculas com potencial.

Entre elas, a molécula chamada dasatinib – já usado no tratamento de leucemias mieloides aguas e crônicas – teve um desempenho melhor na inibição da enzima, provocando a desaceleração da proliferação do parasita em células de cultura, no laboratório. “Dasatinib bloqueia a proliferação do parasita apenas em células que expressam TcK2, validando que esta enzima é o alvo do composto”, complementa Massirer.

Apesar de ter tipo bons resultados, a droga tem um custo elevado, chegando a R$ 15 mil por mês, um valor inacessível a grande parte da população, aquelas mais expostas a doença.

Os cientistas pretendem avançar no entendimento de como se dá a ligação entre o inibidor e a enzima para então estudar formas de tornar a molécula mais potente e específica. Podendo até mesmo reduzir as doses, os efeitos coletarais e as taxas de abandono do tratamento. O passo seguinte será testá-la em animais de laboratório.

O artigo “Identification of inhibitors for the transmembrane Trypanosoma cruzi eIF2α kinase relevant for parasite proliferation” pode ser lido em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021925823018859?via%3Dihub.

Veja Também