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Aquacultura Brasil

Dr. Fábio Sussel – A aquicultura brasileira agora está na TV! (1 notícias)

Publicado em 06 de junho de 2017

Entrevistamos o zootecnista e pesquisador Dr. Fábio Sussel, apresentador do Aqua Negócios, o primeiro programa de aquicultura da TV brasileira.

AQUACULTURE BRASIL: Apresentar um programa de aquicultura num canal de pesca! De onde surgiu a ideia?

Fábio Sussel: Na condição de pescador esportivo, devo confessar que meu grande desejo era aparecer na televisão pescando. Então, vislumbrei a possibilidade de apresentar um programa com assuntos técnicos sobre aquicultura e no último bloco finalizaria com uma pescaria na fazenda onde estivesse gravando. Inclusive seria uma forma de justificar o programa de aquicultura num canal de pesca. Mas aí, logo na primeira conversa que tive com a Fish TV, cortaram meu barato. Disseram que no canal já tinham um monte de gente pescando e que eles estavam à procura de um apresentador que falasse somente de aquicultura.

AQUACULTURE BRASIL: Mas então a Fish TV já tinha planos de lançar um programa de Aquicultura?

Fábio Sussel: Sim, sim… a Fish TV já tinha visualizado a importância da aquicultura para a manutenção dos peixes nativos nos rios visando a pesca esportiva. Meu primeiro contato foi com o Lawrence Ikeda, apresentador do Biopesca, em uma feira de pesca. Apresentei a minha ideia a ele, bem como o meu histórico com a atividade. Foi extremamente sincero comigo e disse que já existia dentro do canal um projeto similar em andamento. Inclusive o apresentador seria o Eng. Agrônomo Fabio Mori, que trabalha com consultoria em pesqueiros. Mas que, de qualquer forma, ficaria com meu contato e se caso precisasse falaria comigo.

Uns 4 meses após este contato inicial, o Lawrence ligou pra mim e perguntou se a ideia do programa ainda estava em pé. Prontamente aceitei e então começamos a avançar no projeto.

AQUACULTURE BRASIL: E aí já iniciou as gravações da primeira temporada?

Fábio Sussel: Não. O projeto dentro da Fish TV já tinha nome definido, logomarca, uniforme, vinheta de entrada, porém ainda precisava ser registrado na ANCINE (Agência Nacional de Cinema). E pra isto precisava gravar um episódio piloto. Então, por sugestão do próprio Lawrence, gravamos um programa sobre “Construção de Tanque Rede Artesanal”. Por questões de custo, o local de gravação tinha que ser o mais próximo de São Paulo possível. Consultei uma piscicultura nas redondezas de SP se poderia gravar lá. Aí começaram a surgir às primeiras dificuldades. Para surpresa minha, não me autorizaram. Então, fiz reserva num hotel fazenda que tinha um lago para pesca em Jundiaí-SP. Usamos o lago como fundo para filmagens e então deu certo de gravar este piloto.

AQUACULTURE BRASIL: Você quem teve que fazer este cadastro na ANCINE?

Fábio Sussel: Não, isto é algo bastante complexo e exige conhecimento específico para dar entrada. A Fish TV se encarregou de fazer isto. Até por que o programa não é meu e sim do canal. Sou apenas o apresentador. Se um dia desistir de apresentá-lo ou a Fish TV não estiver contente com minha atuação, certamente o canal colocará outra pessoa no lugar e o programa continuará. Entre a gravação deste episódio piloto, aprovação na ANCINE e início das gravações da primeira temporada, se passaram uns 12 meses.

AQUACULTURE BRASIL: Quem define os temas dos episódios?

Fábio Sussel: Isto tenho total autonomia. Depois de definido os temas, até envio para a Fish TV. Mas é mais para conhecimento, pois, nunca fizeram qualquer objeção. Na verdade, os temas acabam ficando condicionados a assuntos relacionados às empresas que apoiam o programa. Os custos para gravação de cada episódio são consideravelmente altos. Então, sem o apoio das empresas, ficaria inviável dar sequência no projeto. E aí o grande desafio meu é desenvolver um roteiro técnico que esteja correlacionado a empresa, mas sem fazer referência direta ao produto ou marca em si. Na condição de servidor público, não pegaria bem, por exemplo, eu segurar um saco de ração e dizer que aquela é a melhor. Então os apoiadores ficam cientes desta questão e eles até participam do episódio, mas sempre fazendo uma abordagem técnica e não propaganda.

AQUACULTURE BRASIL: E como faz para conciliar suas atividades de pesquisador científico e apresentador?

Fábio Sussel: É, isto tem sido algo bastante complicado pra mim. Além de pesquisador, sou chefe da Unidade onde trabalho. Então, tenho que responder pela Unidade no que se refere à manutenção, segurança, outorga pelo uso de água, entre outras questões. Ainda faço toda a parte administrativa, como por exemplo: frequência dos funcionários, pedidos de aposentadoria, afastamentos e etc… Isto tudo sem deixar de lado meus compromissos com a cadeia produtiva do lambari, onde, desde 2013, ministro 2 cursos por ano, diariamente esclareço dúvidas de produtores via e-mail ou telefone e ano passado participei do desenvolvimento da máquina de eviscerar lambari, a qual minha instituição deu entrada no pedido de patente sendo eu o inventor. E tem ainda as participações nos comitês, grupos de trabalho, banca de mestrado e doutorado, parecer em projetos Fapesp, revisão de artigos, escrever artigos para Aquaculture Brasil… Enfim, só gostando muito do que faz para arrumar tempo de modo a conciliar isto tudo.

AQUACULTURE BRASIL: Nota-se que as gravações são em locais distantes da sua base, como faz para se ausentar das atividades e viajar?

Fábio Sussel: Férias, licença prêmio, falta abonada, benefícios que poderia usar pra mim e pra minha família, acabo empregando no projeto Aqua Negócios. Às vezes tiro 30 dias de férias e emendo com 15 dias de licença prêmio. Quando as gravações são no estado de São Paulo, peço falta abonada numa sexta-feira, saio de viagem com o cinegrafista, gravamos no sábado e retornamos no domingo. E o detalhe é que meu cinegrafista também grava os outros programas da Fish TV, então minha agenda tem que estar em sintonia com a agenda dele.

Volto a repetir, tem que gostar muito do que faz! E, lógico, acreditar que estou deixando uma boa contribuição à atividade como um todo.

AQUACULTURE BRASIL: Hoje a Fish TV atinge um público de 46 milhões de pessoas. Mesmo dentro dos pescadores e amantes da natureza há um público bastante eclético que assiste ao seu programa. Isto implica em adotar uma linguagem para focar em determinado público. Qual é o seu público alvo?

Fábio Sussel: Meu foco é quem consome pescado. E, principalmente, quem ainda não consome por desconhecer as vantagens e qualidades do pescado de criação. O público de aquicultores e envolvidos na cadeia produtiva do pescado é minoria dentro destes 46 milhões de telespectadores, então não seria estratégico direcionar minha fala pra este público. Seria até mais fácil falar para aquicultores, mas o meu desafio é comunicar-se com o brasileiro urbano. Pode até soar estranho o que vou dizer agora, mas este brasileiro urbano tem uma visão negativa sobre quem produz alimentos. Pra eles, produtor rural é tudo latifundiário, ganham dinheiro a custas de devastação do meio ambiente, são exploradores de mão-de-obra, matadores de índios e outras coisas ruins. Então, de forma técnica e apresentando exemplos práticos, tento mostrar que não é bem assim.

Tento mostrar que nossa atividade é desenvolvida, usa tecnologias, respeita o meio ambiente, até porque mais do que ninguém dependemos dele, geramos emprego, renda e ainda somos sustentáveis quando comparado com a outra fonte provedora de proteína aquática, que é a pesca extrativa, a qual, dentro do modelo atual de exploração desordenada, está com os dias contados.

AQUACULTURE BRASIL: Qual o maior dificuldade em apresentar um programa de TV?

Fábio Sussel: Então, veja só. Propus-me a fazer algo que é relativamente complexo sendo que não estudei pra isto. Nem estou me referindo à questão de ter desenvoltura em frente às câmeras. Acho que a parte mais complicada é escolher as palavras certas para transmitir a mensagem que desejo. Quando fiz o primeiro contato com a Fish TV o canal ainda era pouco conhecido. Mas aí o canal cresceu rapidamente. Num primeiro momento até achava legal este lance de talvez ser famoso na televisão. Confesso que hoje é relativamente tenso pra mim esta situação, pois, estou colocando a minha imagem profissional em jogo. Bem como da nossa aquicultura também. Até o momento a impressão que tenho é que tá caminhando bem e os objetivos estão sendo alcançados. Mas, uma ou outra besteira que por ventura eu falar lá, pode colocar tanto a minha imagem quanto da nossa aquicultura em cheque. Até porque, comunicação não é o que a gente fala ou escreve. Mas sim o que as pessoas entendem a partir do que a gente fala ou escreve. Então a responsabilidade é muito grande.

AQUACULTURE BRASIL: Quanto tempo de trabalho precisa para cada episódio de 24 minutos?

Fábio Sussel: Via de regra, pra cada episódio, preciso de 1 dia para escrever o roteiro, 1 dia viajando e 1 dia gravando. Depois um time de profissionais da Fish TV faz a primeira edição. Aí enviam para minha conferência. Acertam as correções possíveis e mandam novamente pra mim. Depois ainda tem o tratamento de imagens, de áudio, conferência dos créditos. Em resumo, tenho que assistir entre 3 a 4 vezes cada episódio até que o mesmo fique pronto. Então, somando tudo, pra cada episódio faz-se necessário em torno de 4 a 5 dias e ainda o envolvimento de uma série de profissionais.

AQUACULTURE BRASIL: Era um sonho seu apresentar um programa de TV?

Fábio Sussel: Jamais! A única coisa que sempre desejei pra minha carreira profissional foi trabalhar com aquicultura. Aliás, nada do que eu faço hoje ou já fiz dentro da aquicultura sequer um dia passou pela minha cabeça de fazer aquilo. Simplesmente as oportunidades foram surgindo. Por caprichos do destino, hoje trabalho e moro num local cercado por viveiros, meu quintal é o Rio Mogi Guaçú e apresento um programa num canal que se chama Fish TV. Além disso, minha esposa é Engenheira de Pesca, assim como eu gosta de pescar, e nossa filhinha se deixar come peixe a semana toda. É praticamente impossível fazer um projeto de vida considerando todos estes fatores. Ainda mais que a maioria das pessoas hoje em dia dão ênfase em planejar ascensão financeira. No meu caso, naturalmente fui atrás de fazer o que gosto.

AQUACULTURE BRASIL: E qual retorno espera que o Aqua Negócios proporcione a você?

Fábio Sussel: Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonado por água, peixes, camarões e etc… A cada roteiro que escrevo e a cada viagem para gravar representam uma oportunidade única de aprendizado, principalmente pelas oportunidades de estar no campo em contato direto com os produtores e novas tecnologias. Mas o maior retorno disso acho que vou ter só daqui há alguns anos. Quando de alguma forma o Programa Aqua Negócios tiver algum reconhecimento por ter contribuído efetivamente para o desenvolvimento da aquicultura brasileira. Dizem que quando a gente trabalha para ser feliz, corremos o risco de nos sujeitarmos a qualquer coisa, inclusive desonestidade, para sermos felizes. Enquanto que quando trabalhamos para ser bom naquilo que fazemos, por consequência encontramos a felicidade. Enquanto minha filha e minha esposa compreenderem minhas ausências e minha dedicação neste projeto, irei fazer o meu melhor.

Imagens © Fish TV e Fábio Sussel