Cientistas de nove centros de pesquisa de São Paulo anunciaram ontem o Seqüenciamento genético do agente causador da esquistossome, o parasita schintossoma mansoni. A descoberta, pontapé inicial para a criação de novas drogas, é o primeiro passo para erradicar o mal que atinge milhões de brasileiros.
Se você está se perguntado o que isso tem a ver com seu dia-a-dia em uma cidade urbanizada como São Paulo, basta lembrar da dengue. Assim como a esquistossomose, a dengue - cujo número de casos neste ano na capital é 71,6% maior do que em 2002 - também faz parte das chamadas doenças negligenciadas.
Tratam-se de enfermidades erradicadas nos países desenvolvidos, como mal de chagas, leishmaniose, tuberculose, dengue, malária e hanseníase, mas que, juntas, continuam a provocar 7 milhões de novos casos por ano no país. Como atingem populações pobres, os grandes laboratórios farmacêuticos não estimulam pesquisas para o desenvolvimento de drogas eficazes no combate e prevenção dessas doenças.
Prova disso está em um levantamento realizado pelo médico sem fronteiras. O estudo "Desequilíbrio Fatal" revelou que, nos últimos 25 anos, surgiram apenas 15 novas drogas para tratar essas enfermidades, que correspondem a 12% do total de doenças. No mesmo período, 179 novos medicamentos foram criados para combater problemas cardiovasculares, que representam 11% do total. O anúncio do seqüenciamento do genoma coincide com um encontro inédito, realizado hoje, em Brasília, que vai discutir o papel das universidades, do governo e do setor farmacêutico no combate às doenças negligenciadas. "Essas doenças estão pegando o mundo em surpresa. Até a malária, considerada controlada, voltou nos últimos tempos", diz José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A entidade coordenou o seqüenciamento genético do Schistossoma mansoni, cujo artigo será publicado na mais importante revista do setor, a britânica Nature Genetics. "O Brasil, um país subdesenvolvido, demonstrou estar preocupado com um problema que não é só nosso, mas mundial", afirma Carlos Vogt, presidente da Fapesp.
O tratamento, assim como acontece com as outras doenças geralmente é ineficaz. "Nenhum grande laboratório se interessa em pesquisar essas enfermidades. A desculpa é que não há vantagem econômica, mas enquanto isso, milhares de pessoas morrem", diz Perez.
Na luta contra esse problema, a Iniciativa de Drogas para Doenças Negligenciadas, entidade mundial que reúne entre outros os Médicos sem Fronteiras e a Fiocruz, começou um trabalho em três áreas: mal de Chagas, Leishmaniose e doença do Sono. "As duas primeiras interessam diretamente ao Brasil", explica José Roberto Ferreira, secretário-geral da instituição.
A leishmaniose, por exemplo, reapareceu com força na região de Bauru, Interior do estado. O mal de Chagas também afeta milhões de brasileiros e reapareceu no Rio Grande do Sul e na Bahia
- 15 é o número de novas drogas para tratar doenças negligenciadas desenvolvidas pelos laboratórios farmacêuticos nos últimos 25 anos. Para o coração, foram 179.
SUDESTE
São Paulo: dengue, hanseníase e leishimaniose visceral Rio de Janeiro: dengue, hanseníase e malária Minas Gerais: leishimaniose visceral, hanseníase e esquistossomose
NORTE/CENTRO-OESTE
Amazônia legal (inclui nove estados): malária, leishimaniose visceral, hanseníase maranhão: leishimaniose de pele
NORDESTE
Sergipe: leishimaniose de pele Alagoas, Pernambuco e Paraíba:
esquistossomose
SUL
Rio Grande do Sul: mal de chagas
Notícia
Diário de S.Paulo