Pesquisa da FAPESP mostra que o protozoário causador da doença pode ser identificado por meio de imagens obtidas com câmera do celular
A inteligência artificial se mostrou uma boa aliada na detecção do Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas. Uma nova pesquisa, publicada na sexta-feira (27/5), abre caminho para a identificação do protozoário de forma rápida e com baixo custo — foi criada uma tecnologia que permite detectá-lo por meio de imagens de amostras de sangue obtidas com a câmera do celular.
O estudo, desenvolvido pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), recebeu apoio da FAPESP e reuniu profissionais de várias áreas, desde biologia até matemática e computação.
Após um dos melhores microscopistas da entidade se aposentar, um grupo de pesquisadores começou a treinar um programa de computador com a sabedoria do profissional para atuar na detecção dos microrganismos.
“Conseguimos um bom resultado de aprendizagem da máquina. Tendo o algoritmo funcionado bem para doença de Chagas, ele poderá ser adaptado para outros propósitos que dependam de imagens, como análise de amostras de fezes, dermatologia e colposcopia”, diz o pesquisador Helder Nakaya, do Hospital Israelita Albert Einstein, da Plataforma Científica Pasteur-USP e do Instituto Todos pela Saúde.
Diagnóstico
A forma mais comum de diagnóstico da doença de Chagas é feita por microscopistas treinados que detectam os parasitas em amostras de sangue. Para isso, é necessário o uso de um microscópio profissional, que pode ser acoplado a uma câmera de alta resolução. No entanto, isso deixa o método caro e de difícil acesso para pessoas de baixa renda.
Os pesquisadores desenvolveram uma abordagem de aprendizado do computador criando um algoritmo para detecção e contagem de tripomastigotas (forma do protozoário que não se reproduz, mas está presente no sangue de pacientes com a doença aguda) em imagens obtidas com a câmera de telefone celular.
Os resultados de precisão e de sensibilidade foram considerados altos: 87,6% e 90,5%, respectivamente.
Com essa tecnologia, o grupo conseguiu automatizar a análise de imagens adquiridas com um dispositivo móvel, obtendo uma alternativa para reduzir custos e aumentar a eficiência no uso do microscópio óptico. Segundo o pesquisador, a proposta é deixar o algoritmo aberto para que a comunidade científica contribua com outros dados e recursos.
Sobre a doença
Classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das doenças tropicais negligenciadas (DTNs), a de Chagas é considerada uma condição infecciosa crônica, cuja prevenção está ligada ao modo de transmissão, ou seja, ao controle do inseto barbeiro.
Endêmica em 21 países das Américas, a infecção pelo Trypanosoma cruzi afeta aproximadamente 6 milhões de pessoas, com incidência anual de 30 mil casos novos na região, levando, em média, a 14 mil mortes por ano.
Além disso, estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas vivam em áreas de exposição ao barbeiro e corram o risco de contrair a doença. No Brasil, mesmo com a tendência de queda das taxas de mortalidade, houve uma média de 4 mil óbitos a cada ano decorrentes da doença na última década.