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Documentos revelam o Brasil colonial (5 notícias)

Publicado em 15 de dezembro de 2021

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Por Christina Queiroz |

Pesquisas baseadas em estatísticas demográficas antigas, listas populacionais nominativas e registros paroquiais lançaram luz sobre características pouco conhecidas da sociedade brasileira durante os tempos coloniais (1500-1822). O casamento legitimado pelo catolicismo são algumas das facetas reveladas em estudos recentes, que se concentram nos recursos produzidos através da Coroa Portuguesa e da Igreja. As listas nominativas da população paulista são as únicas das antigas colônias portuguesas completamente preservadas, abrangendo a era de 1765 a 1836.

Com estudos sobre essa documentação elaborados desde os anos 80, a historiadora Ana Silvia Volpi Scott, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e do Núcleo de Estudos Demográficos Elza Berquó, da Universidade Estadual de Campinas (Nepo-Unicamp), conta que Portugal fez sua primeira contagem populacional no início do século XVI. No século XVIII também começa a calcupar a população das colônias da África e da América, a fim de controlar seus territórios, como componente desse esforço, entre 1765 e 1836 listas nominativas foram elaboradas anualmente, enquanto os documentos com a enumeração da população de regiões expressas do país foram convocados antes do primeiro censo nacional, em 1872.

No caso da Capitania de São Paulo, as listas começaram a registrar o número de americanos nas aldeias, identificando famílias, chefes de família e outras pessoas que vivem na mesma posição, somando adidos, dependentes e escravos. dados como nome, idade, cor, posição de nascimento dos americanos e produção doméstica, que contêm o tipo e quantidade de peças cultivadas. Quanto às pessoas escravizadas, as listas identificam se nasceram na África ou no Brasil.

“Como tem mantido todas as suas listas nominativas, a documentação do São Paulo é um detalhe básico para entender o passado da região”, diz Volpi Scott, lembrando que algumas delas estão disponíveis digitalmente no Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Volpi Scott lembra ainda que os registros paroquiais de batizados, casamentos e mortes produzidos pela Igreja Católica são outra fonte aplicável para pesquisadores interessados em entender a distribuição da população brasileira nos tempos colonial e imperial. após o Concílio de Trento, celebrado através da Igreja entre 1545 e 1563. “Desde 1563, todas as outras pessoas que foram batizadas, casadas ou morreram eram conhecidas nesses documentos, que envolvem semelhantes às de listas nominativas, como nome, cor, posição de nascimento e estado civil”, explica.

O historiador Carlos de Almeida Prado Bacellar, da Faculdade de Filosofia, Letras e Humanidades da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo entre 2007 e 2013, explica que Portugal fez listas nominativas e mapeia as populações de todas as suas colônias, porém, grande parte da documentação não foi preservada. O tecido remanescente está armazenado nos arquivos de Portugal e do Brasil e foi parcialmente digitalizado através do projeto Contando Populações Coloniais. Segundo Bacellar, essa documentação começou a ser elaborada no século XVIII, quando a ciência estatística começou a ser formada, e cumpriu a Assunção da Coroa Portuguesa de que governar exigiria a disponibilidade de conhecimento sobre suas populações. Em São Paulo, a primeira lista nominativa elaborada em 1765, época de conflitos maravilhosos às margens do Rio da Prata.

“Durante esse período, os espanhóis começaram a avançar pelos territórios portugueses e chegaram à região onde hoje está localizada Florianópolis”, explica Bacellar. Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal (1699-1782), então Secretário de Estado do Império Português, passou a utilizar o conhecimento de papel nominal para atender a população masculina capaz de combater conflitos no sul do país. Além disso, disposto a saber como fazer o esforço do exército, ele também desenhou um mapa da produção de alimentos, dados capturados através de listas populacionais. Posteriormente, Dona Maria I (1734-1816), Rainha de Portugal, usou os dados das listas nominais para acumular a riqueza da população e perceber como a habitação agrícola era utilizada. “Foi o meio descoberto por meio de royalties para identificar novas atividades econômicas para compensar a queda na exploração de ouro na região de Minas Gerais”, disse. Segundo Bacellar, desde então, as estatísticas se tornaram básicas para a definição de políticas públicas no Brasil. “Antes disso, os governadores não tinham certeza de quantos homens poderiam ser convocados para estratégias de luta ou defesa nacional”, diz ele.

Analisando essa literatura em projetos de estudo realizados desde 2000, Volpi Scott constatou que em tempos coloniais, em algumas partes do território brasileiro, cerca de 20% das famílias eram chefiadas por mulheres. “Este é um fato inesperado, que mostra como as mulheres desempenharam um papel seguro no Papel da Mulher nos tempos coloniais, BACELLAR da USP explica que as listas implicam que, com a morte do chefe da família, a viúva ocupou essa posição. Panorama europeu. Lá, em geral, as mulheres não eram chefes de família, mesmo por ocasião da morte de seus maridos. Segundo ele, nessas situações, um filho, irmão ou outro parente do falecido cuidava da família. “Na sociedade colonial, o papel das mulheres não era tão subordinado quanto a historiografia a descreveu até meados da década de 1960.

Outro dado trabalhado nos estudos de Volpi Scott considera os jovens nascidos de casamentos legitimados pela Igreja Católica. Nesse sentido, ele cita um estudo pioneiro realizado na década de 1970 pela historiadora Maria Luiza Marcílio, da FFLCH-USP, que analisou os saberes coletados nos registros paroquiais da cidade de São Paulo entre 1750 e 1850. L O levantamento Sabe-se que 39 em cada cem bebês batizados eram filhas de ervas (de pais solteiros) ou estavam “em risco”. O termo indica que os jovens seriam criados por outras pessoas ou confiados à Roda dos Expostos, estabelecimento das Santas Casas de Misericórdia que conquistava por família americanos desertados. Trabalhando com documentação equivalente, referente ao domínio que hoje corresponde à cidade de Porto Alegre, Volpi Scott estima que, entre as mulheres soltas, 70% dos jovens procedem de casamentos legitimados pela Igreja na época colonial. Entre os escravos, eram menos de 20%. “Isso indica que, em geral, o acesso dos escravos a um casamento válido dificulta isso”, observa. A formalização do casamento pela Igreja Católica é conveniente para os cativos, pois evitou, em muitos casos, a separação dos casais.

Na tese de doutorado “Liberdade e escravos: população e mortalidade na Madre de Deus de Porto Alegre (1772-1872)”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Demografia da Unicamp em 2020, o matemático Dario Scott, casado também com Ana Silvia Volpi Scott trabalhou com conhecimento da região que hoje corresponde a Porto Alegre. Dados de referência cruzada de estatísticas demográficas, listas nominais elaboradas pelos padres de cada paróquia durante a época da Páscoa para monitorar o cumprimento da responsabilidade legal dos católicos de confessar e tomar a comunhão pelo menos uma vez por ano, e outros registros. freguesia, analisou a mortalidade da população entre 1772 e 1872. O inquérito revelou que em 1779 a região contava com 1. 429 habitantes, dos quais 917 eram livres e 512 escravos. Em 1872, havia 8. 284 indivíduos, dos quais 6. 936 estavam foragidos e 1. 348 eram escravos. “O estudo descobriu que as doenças transmitidas pelo trato respiratório tinham o mesmo efeito entre escravos e escravos, mas as doenças transmitidas pela água ou pela comida causavam mais mortes entre os escravos”, disse ele. -la menciona que os registros paroquiais de outros lugares do Brasil serão mantidos em um formato de coleção virtual criado por meio da Igreja Mórmon (ver Pesquisa FAPESP nº 244).

Estudando a expectativa média de vida ao nascer desde o final do século XVIII, descobriu que entre os homens soltos é de 19,1 anos, entre 1772 e 1782, e 30,3 anos, entre 1859 e 1872; entre os homens escravizados, 17,1 anos. e 24,4 anos, respectivamente, e nos mesmos intervalos de tempo A expectativa de vida das mulheres soltas 26,6 anos de 1772 a 1782 e 34,8 anos de 1859 a 1872, enquanto a dos escravos 21,5 e 28,4 anos, respectivamente e dentro do mesmo tempo Intervalos. Segundo Scott, a baixa expectativa de vida está ligada a contextos de aptidão física precária, que favorecem a proliferação de doenças e epidemias recorrentes. No caso dos escravos, o cenário mais grave devido às suas piores condições de vida e funcionamento.

Em relação à escravidão indígena, Bacellar, da USP, observa que ela foi teoricamente abolida no Brasil em 1680, documentação antiga que comprovava que ela continuava a ser praticada disfarçada. “Amo, que era um eufemismo para a escravidão, da lista populacional de 1765 não há mais alguns outros indígenas descritos como administrados, no entanto, eles começaram a ser incluídos em famílias sob a descrição dos pardos, que também foi a categoria seguida. designar mestiços afrodescendentes”, diz Bacellar, trazendo à tona o resultado de estudos em progressão desde 2014.

Outra pintura do historiador das listas nominativas foi a reconstrução da progressão econômica de São Paulo, durante o período colonial, com conhecimento que mostra como plantações gigantes tornaram imaginável delinear métodos para exportação de produtos agrícolas. aponta sobre o início do processo de exportação de alimentos para uma região que no passado só cultivava produtos para consumo interno”, diz. Além disso, observamos a predominância das famílias nucleares, ou seja, compostas pelo pai, mãe e filhos. Esse conhecimento contrasta com análises realizadas até meados da década de 1960, que alertavam que o máximo de famílias era caracterizado pela presença de famílias gigantes, o que incluía muitos parentes e agregados”, relata Bacellar. Ultimamente ele está analisando a antiga documentação da Vila Itu, a fim de perceber a formação de famílias entre escravos, o papel dos pequenos agricultores e a dinâmica de transmissão de mercadorias através dos gigantes proprietários de escravos na sociedade colonial.

Em estudo iniciado em 2017 sobre geoprocessamento implantado na história, Ângelo Alves Carrara, historiador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), analisou a composição da população da Zona da Mata, entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. . . Arranjo que atualmente inclui 143 municípios. Cruzando as listas nominais de Minas Gerais com as listas de inscrições escravas – instituídas pela Lei do Ventre Livre, em 1870, como componente dos esforços de aplicação da lei – Carrara constatou que, em 1872, 17% da população escrava mineira vivia na 3 localidades do componente sul desta região: Juiz de Fora, Leopoldina e Mar de Espanha. “Cerca de 60% da população do atual município de Argirita, então distrito de Leopoldina, por exemplo, era formada por escravos, que trabalhavam no campo para gigantes latifundiários, que apresentavam forte resistência à Abolição”, disse. Essa característica demográfica deixou sua marca na região, observa. “Há quarenta anos, alguns lugares nessas cidades ainda eram reservados exclusivamente para brancos. ” E continua: “Este conhecimento demográfico permite-nos perceber porque é que a discriminação racial nesses municípios afecta o estilo de vida dos bairros onde predominam os negros e outros brancos”.

Em contrapartida, em cidades como Viçosa e Rio Pomba, a população média escravizada não ultrapassou 20% do total. Segundo ele, nessa área, mesmo pequenas e médias fazendas escravizaram outras pessoas, no entanto, proprietários de imóveis. Tive que pintar com eles no chão, para cuidar de todas as tarefas, ao contrário do cenário dos gigantes rurais que tinham muitas outras pessoas escravizadas, culpadas de desgastar todos os degraus. “Refletindo essa característica ancestral, nessas aldeias, a segregação geográfica entre negros e brancos nos outros bairros é menos acentuada do que a conhecida na Zona da Mata sul”, conclui.

Para analisar a formação de famílias escravizadas, a historiadora Lida Elena Tascón Bejarano, doutoranda da USP com bolsa de estudos da Fapesp, estuda o círculo de parentes e relações de parentesco da população que vive em fazendas na província de Popayán, em Nova Granada. , Colômbia, entre 1780 e 1852, destinada às equipes escravas das famílias Arboleda e Mosquera, a máxima influente da região, examina desde 2018 inventários, registros paroquiais, atos de venda de escravos, manumissões e censos populacionais.

“Na Colômbia, o trabalho escravo era usado para pintar em minas de ouro e no cultivo de produtos agrícolas que alimentavam o mercado local”, diz o historiador, que pesquisou as coleções de estabelecimentos como o Archivo General de Indias em Sevilha, Espanha. e descobriu que as famílias de escravos eram mais formadas em propriedades gigantes. onde a estabilidade também era maior. Nessas fazendas, membros do círculo de parentes permaneceram em combinação por mais tempo, e quando foram forçados a se mudar, toda a organização recorreu a alguns outros bens de propriedade do mesmo mestre escravo. observado em pequenas e médias fazendas, em que membros do mesmo círculo de parentes eram ocasionalmente vendidos separadamente, para outros proprietários”, explica.

Na Colômbia, a dinâmica das famílias escravizadas também foi afetada por conflitos violentos. Convocados para as 3 guerras civis que se seguiram no país entre 1820 e 1851, muitos escravos foram, no entanto, libertados. “Além dos que morreram, outros foram libertados e se viram separados de suas famílias. “

Vida familiar na população escrava e liberada da província de Popayán, Colômbia (1780-1852) (Nº. 17 / 21673-4); Tipo De Bolsas no Brasil – Doutorado; Pesquisador da Taxa De Bacellar Carlos de Almeida Prado (USP); Beneficiária Lida Elena Tascón Bejarano; Investimento R$ 197. 721,55.

BACELLAR, P. C. A. Exploração do interior de São Paulo, séculos 16 a 19, História, São Paulo, v. 39, 2020.

CARRARA, A. et MACHADO, P. J. O. Planejamento espacial dos municípios brasileiros: Minas Gerais, XVIII-XIX séculos Almanack, v. 24, p. 1-54, 2020.

VOLPI SCOTT, A. S. et SCOTT, D. Entre las limitaciones y voluntades: Matrimonios entre esclavos en Porto Alegre (1772-1850). Revista Brasileira de Estudos Demográficos – Rebep, v. 38, p. 1-26, 2021.

* Este artigo foi republicado pela Revista Pesquisa Fapesp sob uma licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o artigo original aqui.

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