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Do projeto à realidade (1 notícias)

Publicado em 24 de novembro de 2004

As primeiras experiências do que viria a ser conhecido como incubadora aconteceram nos anos 30, na Universidade de Stanford (EUA). Uma das histórias mais famosas é a da HP. Dois recém-formados em engenharia - Bill Hewlett e Dave Packard -, incentivados pelo professor Fred Terman, montaram a empresa em 1939 e o primeiro produto construído foi um instrumento de teste utilizado por engenheiros de som (oito equipamentos foram adquiridos mais tarde pela Walt Disney, para a realização do filme Fantasia). Começava a trajetória de uma das maiores companhias do mundo, que fechou o ano fiscal de 2003 com uma receita de 73,1 bilhões de dólares e emprega 141,8 mil pessoas mundialmente. No Brasil, as incubadoras chegaram em meados dos anos 80, mas foi na época da bolha da internet que elas entraram na moda. Com o fim do período de ouro da Web, várias delas acabaram falindo junto com os negócios que suportavam. Mas algumas - especialmente as nascidas no meio acadêmico - mantêm alguma força até hoje e contam com empresas que nasceram nelas e já andam com suas próprias pernas. Uma das incubadoras de destaque no País é a da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia), pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em atividade há dez anos, a instituição mantém doze empresas residentes e 23 graduadas - ou seja, aquelas que já operam normalmente no mercado. Juntas, essas organizações devem atingir um faturamento de 40 milhões de reais ao final de 2004 - mais do dobro do ano anterior - e empregam cerca de 350 pessoas. A área da incubadora da Coppe é de 1,9 mil metros quadrados, dividida em dois prédios, que têm capacidade de alocar 27 empresas. "Oferecemos cursos, palestras, encontros e eventos que ajudam empreendedores a se transformar em empresários", explica Marcelo Cunha, assessor de marketing. Além desse apoio, as empresas incubadas contam com salas de 20 a 30 metros quadrados para seu escritório, auditório, salas de reuniões, restaurante, estacionamento, rede de computadores, serviços de impressão, acesso à internet por fibra ótica, copiadora, fax, serviços de limpeza e de segurança. Outras vantagens são a interação com a universidade, a possibilidade de utilizar os laboratórios e a proximidade com o meio de pesquisas e com o público acadêmico. Na Coppe, bem como na maioria das incubadoras, o processo de incubação começa com um edital. As pretendentes fazem uma proposta e enviam para a incubadora. "A seleção segue critérios de viabilidade técnica e econômica, perfil do grupo proponente, grau de inovação da tecnologia, impacto modernizador na economia e possibilidade de interação da empresa com atividades de pesquisa desenvolvidas na universidade ou nos institutos de pesquisa sediados na cidade universitária", detalha Cunha. Uma vez aprovada a proposta, os responsáveis pelo empreendimento passam por um curso sobre como elaborar um plano de negócios e têm de colocar o aprendizado em prática. Na área de TI, há apenas uma empresa "formada" pela incubadora até agora, a Solucionar (veja box à página seguinte). "O mercado do Rio de Janeiro é bastante focado em petróleo, mas acreditamos que no próximo edital vamos contar com mais empresas da área de tecnologia", conta Cunha. Quem também tem fomentado novos negócios é o Cietec (Centro Incubador de Empresas Tecnológicas), sediado na Universidade de São Paulo (USP) e inaugurado em 1998. Focada em projetos de ciência e tecnologia, a incubadora é uma das maiores do Brasil, com 100 empresas incubadas e seis mil metros quadrados de área. Somando o faturamento de todas as organizações, o resultado em 2003 foi de 14,8 milhões de reais, resultado mais de 80% maior que o alcançado no ano anterior. "Na incubadora, os empreendedores têm chance de errar, voltar atrás, encontrar novos rumos. Isso não existe no mercado", constata Sérgio Risola, gestor do Cietec. Outra vantagem que ele aponta é a possibilidade que os empreendedores têm de conversar com empresários que já atuam no mercado. "Recebemos missões empresariais, como as promovidas pela Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo), pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e pelas câmaras de comércio", ressalta. Segundo Risola, a troca de experiência é fundamental para o desenvolvimento dos novos negócios. Do custeio do Cietec, 70% são bancados pelo Sebrae e os demais 30% vêm do condomínio de 500 reais pagos pelos incubados. "Calculamos que este valor seja de 15 a 20 vezes menor do que seria gasto caso a empresa começasse 'lá fora' de uma vez", comenta. Por regra, quando uma empresa incubada deixa o Cietec, ela assume o compromisso de pagar 2% do seu faturamento à instituição durante período igual ao que ficou na incubadora. Entre as companhias de TI que por lá passaram e hoje têm vida própria, Risola destaca a Majer & Majer, que oferece uma ferramenta de apoio a decisão para investidores em ações (veja box nesta página). José Alberto Sampaio Aranha, diretor da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), diz que, no Brasil, apenas 20% das novas empresas sobrevivem depois de cinco anos. "Esse número sobe para 80% quando se trata de companhias incubadas", garante. Isso mostra quão importantes são os conhecimentos e a experiência adquirida em gestão de negócios dentro da incubadora. A Incamp (Incubadora de Base Tecnológica da Universidade de Campinas) quer ir além desses números. Para isso, está estudando um programa de pós-incubação. "A idéia é acompanhar as empresas durante um determinado tempo após a saída para o mercado", adianta Davi Sales, gerente da instituição. Criada em 2001, a Incamp conta com nove empresas incubadas, mas ainda nenhuma graduada. "Nossa previsão é de que as primeiras cinco companhias saiam daqui em março de 2005 e outras três consigam graduação em junho do mesmo ano", comenta Sales. O processo para os empreendedores interessados em participar da incubadora é parecido com o adotado pelas demais. Segundo Sales, demora de dois a três meses e, uma vez aceito, os empreendedores passam a contar com uma sala, internet e um ponto de telefone. Há ainda uma consultoria em gestão que senta com os empreendedores, corrige os passos, passa "lição de casa" e acompanha o desenvolvimento dos negócios. "Além disso, as empresas estão dentro da Unicamp, um endereço respeitado no mundo acadêmico e no mercado, e contam com o apoio dos professores e pesquisadores da instituição", afirma. A Incamp orienta as empresas a buscar instituições de fomento e até hoje todas conseguiram apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo'), da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério de Ciência eTecnologia) ou do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Além de uma taxa mensal pela utilização de espaço físico e sua conta de telefone, as incubadas, a partir do 25a mês, pagam 2% do faturamento pelo mesmo tempo em que permaneceu incubada. "Para o próximo edital, vamos passar a exigir 1 % do faturamento pelo dobro do tempo em que a empresa ficou interna", diz Sales. Outra regra é que após três anos as empresas devem ir para o mercado. Fora do eixo Rio-São Paulo, o Porto Digital é um dos grandes destaques. Fundado em 2000 e sediada em Recife (PE), o Porto é um parque tecnológico nascido a partir de um acordo entre o governo estadual de Pernambuco, empresas privadas, universidades e órgãos de fomento. Com foco em desenvolvimento de software, a instituição emprega mais de 1,5 mil pessoas nas cerca de 80 empresas e entidades instaladas ali. "Até o final do ano, vamos chegar à marca de 100 empresas e dois mil funcionários", afirma Pier Cario Sola, diretor presidente do Porto Digital. A instituição conta com duas incubadoras. Uma é o César (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) e a outra é a Cais do Porto. Segundo a Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), em 2004 o número de incubadoras deve ir de 207 para 280, um crescimento de 37% em relação a 2003. Não há a pretensão - pelo menos não explícita -de assistir ao nascimento de uma HP. Mas só o fato de diversos negócios de pequeno porte decolarem, com todas as barreiras impostas pela burocracia no País, é motivo de comemoração.