Notícia

Revista Canavieiros

Do otimismo e esperança para a realidade

Publicado em 01 setembro 2018

Por Especial / Diana Nascimento

De acordo com o balanço divulgado pela organização da feira, a 26ª FenasucroAgrocana, realizada de 21 a 24 de agosto, em Sertãozinho (SP), confirmou as expectativas projetadas com negócios na ordem de R$ 4 bilhões iniciados no evento e que serão concretizados nos próximos meses, além de 39 mil visitantes, números que superam a edição de 2017. A feira, considerada vitrine mundial de tecnologia e investimentos para o setor sucroenergético, recebeu compradores de aproximadamente 25 países e de 20 estados brasileiros.

As rodadas de negócio, nacional e internacional, impactaram diretamente no volume de negociações realizadas in loco e naquelas que começam na feira e continuam durante os próximos meses. Somente nas reuniões direcionadas aos visitantes estrangeiros, promovidas pela Apla/Aplex, foram movimentados R$ 300 milhões, com a realização de 616 reuniões durante o evento. As negociações nacionais, realizadas pelo CeiseBr, contaram com um incremento importante gerado pela rodada agrícola, uma novidade este ano. Ao todo, 127 reuniões foram realizadas com movimentação de negócios da ordem de R$ 24 milhões, superando os R$ 13 milhões esperados.

Esquentando os motores para a abertura oficial A 7ª Conferência Datagro Ceise Br Fenasucro 2018 antecedeu a abertura oficial e marcou o primeiro dia do evento ao contar com a presença e participação de lideranças do setor e autoridades como o prefeito de Sertãozinho, Zezinho Gimenes; o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Jardim - que representou o governador Márcio França; o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar do Setor Sucroenergético, Arnaldo Jardim; o presidente de honra da Fenasucro, Pedro Mizutani; o presidente de honra da Agrocana, Manoel Carlos de Azevedo Ortolan; a presidente da Unica, Elizabeth Farina; o presidente do Ceise Br, Aparecido Luiz; o presidente da Reed Alcântara Machado, Fernando Fischer; o presidente do Forum Nacional Sucroenergético, André Rocha e o presidente da Datagro, Plínio Nastari, além do presidente do Siamig, Mário Campos, e o presidente executivo da Udop, Antônio César Salibe. Ao dar as boas-vindas para os participantes, Mizutani lembrou que todo ano temos uma crise diferente.

“Esse ano temos a crise do açúcar devido à alta produção na Índia e a greve dos caminhoneiros. A Unica está fazendo um trabalho para acabar com todos os subsídios de alguns países produtores de açúcar. Temos que ser otimistas e otimismo dá trabalho”, pontuou. O presidente executivo da Copercana, presidente da Canaoeste e presidente de honra da Agrocana, Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, agradeceu a honraria recebida, resultado de 42 anos de atuação no setor junto aos fornecedores de cana. “Recebo essa honraria como reconhecimento pelo trabalho que venho realizando. Também estou surpreso, pois nesse setor há inúmeros colegas e companheiros que poderiam estar em meu lugar recebendo-a. Sempre dizemos que a feira é uma vitrine, mas além disso é também uma voz muito fortedo setor. Além do maior número de expositores este ano, temos cerca de 350 horas de conteúdo com vários palestrantes. Esse ambiente é propício para trocarmos ideias e conhecer as inovações no campo das novas tecnologias e o que há de mais atual e moderno para o setor”, destacou.

Na ocasião, Ortolan conclamou os produtores de cana a participarem da feira porque a cana é a base de tudo. “É ela que vai alimentar toda a cadeia e precisamos estar preparados para um salto de produtividade e, aqui, sem dúvida, será o ambiente propício para buscarmos ferramentas nesse sentido”. O associativismo e o cooperativismo também foram citados por ele. “Sertãozinho é uma cidade modelo, pois aqui estão a Copercana, a SicoobCocred e a Canaoeste, que evidenciam a importância da cooperação que vem desde os primórdios da história da humanidade e tem sido fortalecida pelo mundo ao promover desenvolvimento econômico sustentável e social, gerando bem-estar aos indivíduos da comunidade onde ela está presente”, disse Ortolan. Para o CEO da Reed Exhibitions Alcântara Machado, Fernando Fischer, a FenasucroAgrocana é o evento que melhor representa o Brasil em modelo de inovação e resiliência, o que o brasileiro tem de melhor.

“A Fenasucro Agrocana é um case dentro da companhia em como exportar o que o Brasil tem de melhor”, reiterou. O presidente do Ceise Br, Aparecido Luiz, completou ao dizer que o evento, a maior feira de tecnologia e relações comerciais do mundo do setor sucroenergético, é uma contribuição para ampliar a percepção de realidade e também de mercado, além de elencar as atuais urgências e necessidades para a efetiva retomada do setor. “Este ano está diferente, pois a Fenasucro Agrocana acontecem em um cenário mais otimista para o setor. Em 2017 torcíamos para que o RenovaBio saísse do papel e virasse lei. Este ano isso é uma realidade e agora conseguimos enxergar o norte para o setor, a importância para a matriz energética brasileira reconhecida internacionalmente”, comentou. De acordo com o executivo do Ceise Br, as indústrias de Sertãozinho precisam da iniciativa estratégica alinhada ao RenovaBio, alinhada ao futuro de energia limpa e renovável para que tenham condições de investir e atender à demanda que está por vir.

“Estamos prontos para isso, a indústria de base de Sertãozinho e região está pronta para isso. Tudo será feito em busca do desenvolvimento e docrescimento deste setor que é tão importante”, ressaltou. Opinião semelhante a de Elizabeth Farina, presidente da Unica, que citou que a Fenasucro é a maior feira de equipamentos para o setor e importante para a economia brasileira. “Estamos em um ano diferente, em que temos o desenho, o nascimento e o desenvolvimento da regulamentação do RenovaBio, um programa que pode, de fato, virar o jogo e contribuir com os biocombustíveis para a descarbonização do setor de transportes. Não é a única, mas é uma política pública que dá estrutura, esqueleto e musculatura para o setor passar a investir”, enfatizou. Para ela, a Fenasucro é um projeto de investimento, pois ninguém compra equipamentos se não for para investir. Mas para isso é preciso ter retorno e antevê-lo em um mundo de incertezas que é o capitalista, mas com regras estáveis. Elizabeth explicou que muito foi feito este ano e ainda há um trabalho duro a se fazer e sem esmorecer.

“Temos uma regulamentação para terminar, uma mudança política importante no meio do caminho e todas as vezes que tivermos a oportunidade é preciso lembrar aos nossos representantes no Congresso, aos participantes da área executiva do Governo que esse é um programa que para funcionar precisa ter reputação de regularidade e estabilidade e não de mudanças a todo o momento. É isso que temos que buscar. Em nome da Unica estamos prontos e continuamos na luta até que o RenovaBio seja implementado. Em 1º de janeiro de 2020 tem que estar tudo pronto”, observou. O deputado federal e presidente da Frente Parlamentar em defesa do setor sucroenergético, Arnaldo Jardim, foi enfático ao dizer que Sertãozinho é a cidade síntese do setor, quer seja pela sua produção, quer seja pela sua indústria de equipamentos. “Temos avanços referentes à implementação do RenovaBio, o que nos faz ficarmos otimistas”, lembrou.

André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, chamou a atenção para o crescimento de 7% da feira em relação ao ano anterior, o que mostra um pouco do novo momento vivido pelo setor: o de expectativa e esperança apesar dos três anos de pouco crescimento em nossa economia brasileira. “Seguem as incertezas que temos em relação ao nosso futuro nesse momentomuito ruim do preço do açúcar, mas apesar das diversas crises, o setor mostra que está esperançoso e ficamos felizes por contribuir, de alguma forma, com esse esforço para colocar de pé o RenovaBio e seguir adiante. Espero que possamos voltar no ano que vem com uma feira maior ainda, pois teremos a oportunidade de ter um ano melhor, mais negócios, mais realizações, mais conteúdo e sobretudo mais esperança e mais energia”. O secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Jardim, elencou as ações da secretaria em prol do setor sucroenergético como as pesquisas em cana-de-açúcar, novos sistemas de produção, MPB e o terceiro eixo. “Temos nossas Fatecs, as escolas técnicas e a Fapesp, que investem em pesquisas nesse setor. Temos que buscar cada vez mais essa integração e o Governo do Estado de São Paulo está junto com o setor”, assegurou. Zezinho Gimenez disse estar esperançoso para que o RenovaBio aconteça. “O setor vem sofrendo e, em 14 anos que participo da abertura da Fenasucro, tivemos altos e baixos, mas nunca tivemos um momento tão difícil como esse, com a queda da economia desse setor tão importante para a cidade, representando 30% a menos de ICMS para o município, o que representa menos R$ 25 milhõesde recursos para Sertãozinho. Isso mostra o tamanho da crise que estamos passando. Mas a crise do setor passou e a esperança chega com o RenovaBio. Esse setor nos dará muitas alegrias e divisas para o nosso país”, concluiu.

O caminho para a eficiência

O 1º Painel da 7ª Conferência Datagro Ceise Br Fenasucro 2018 teve como tema o RenovaBio e foi comentado por Plínio Nastari, presidente da Datagro, e Marlon Arraes, coordenador do Departamento de Combustíveis Renováveis da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia. Nastari abriu sua apresentação dizendo que há alguns marcos que indicam o nascimento do RenovaBio. Um deles é quando foram aprovadas as diretrizes no dia 08 de julho de 2017. Outros momentos ocorridos antes foram a aprovação, no Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado, do projeto de Lei; a ascensão desta lei pelo presidente Temer no dia 26 de dezembro de 2017, a assinatura de seu decreto regulamentador no dia 14 de março de 2018 e a aprovação das metas de redução de emissão de carbono nos transportes no dia 05 de junho de 2018. “A nossa expectativa agora é se ele será implementado do jeito que imaginamos ou não. A primeira constatação é que ele foi uma conquista extraordinária em curto espaço de tempo. Isso aconteceu porque houve uma convergência de compreensão sobre a importância estratégica de se utilizar o biocombustível como solução. Muitos setores reconheceram a importância do RenovaBio.

Os investimentos se darão em vários setores econômicos envolvidos, não só em açúcar e etanol, mas bens de capital, veículos, insumos e uma cadeia enorme de produção e comercialização”, resumiu Nastari. De acordo com dados do Caged, é possível identificar a criação de mais de 23 mil empregos na região de Pontal, Sertãozinho, Ribeirão Preto e Piracicaba nos primeiros quatro meses deste ano. A iniciativa de empresas em trocar caldeiras, cogerar e ampliar a capacidade de destilação também são indicativos de que o setor está se movimentando de novo. No entanto, Nastari aponta que o mais difícil é incorporarno preço de mercado a externalidade ambiental dos biocombustíveis. Isto deve ser feito sem muita intervenção, de forma inteligente e com uma regulação mínima que induza investimentos em produtividade, aumento de eficiência energética e redução de impacto ambiental, além de contribuir para o atingimento de metas. “Essa é a beleza do RenovaBio”, defende o consultor.

Outra beleza secundária do programa é criar uma precificação de carbono que é endógena, o que significa que o mercado é quem define e não uma autoridade. “A medida que o sistema fica mais eficiente, eventualmente, a necessidade de cobertura através de um preço de carbono para precificar as externalidades pode ficar mais eficiente. O mercado é que determinará o valor do carbono”, explica Nastari. No RenovaBio, o mandato que se define é o de redução da intensidade de carbono. O mercado que apontará qual o biocombustível e a tecnologia mais adequada para atingir esta meta de descarbonização. O que importa é a meta de redução de carbono e não o biocombustível a ser utilizado. “O RenovaBio não elege campeões, ele induz um caminho de eficiência e as pessoas precisam saber disso. Precisamos ser capazes de comunicar à sociedade o que isso significa e não estamos criando subsídio para tal”, observou o presidente da Datagro. Ele comentou ainda que o programa tem algumas características, como o mecanismo que induz a estruturação do mercado em contratos, já que os biocombustíveis até hoje não têm estruturação em contratos. “Precisamos terminar a regulamentação do RenovaBio para definir o tamanho desse incentivo.”

A estruturação do mercado é importante porque o setor sucroenergético teve o problema da volatilidade no passado, ou seja, a participação do etanol no consumo de Ciclo Otto. “Oideal é que tivesse mais estabilidade. Desde 2009, a participação do etanol no consumo de Ciclo Otto variou de 30,3% até 45% em gasolina equivalente. Isso é chamado de eletrocardiograma do etanol”, lembra Nastari. Nos primeiros seis meses de 2018 este consumo ficou em 41,2%, o que significa que está se substituindo mais gasolina importada e gastando menos divisas com importação da mesma. Isso é fruto da decisão, nesta safra, de os produtores direcionarem mais cana para o etanol. Por trás do RenovaBio há uma visão de que é possível aumentar a eficiência na produção e no uso dos biocombustíveis. Existe uma consolidada informação no mercado de que é desejável esse aumento de eficiência em mobilidade do que o aumento de eficiência associada com eletrificação. “Quando se fala em eletrificação todo mundo pensa em carro elétrico à bateria, que é apenas uma das formas possíveis de eletrificação. Há a eletrificação com hidrogênio e com o biocombustível”, declarou Nastari. No entanto, vale lembrar que a densidade energética das baterias é baixa, enquanto a do etanol é bem maior. É preciso muita bateria para ter o alcance de um tanque de etanol.

O carro não otimizado de combustão interna utilizado no Brasil e movido a etanol emite 1/3 da emissão do carro elétrico à bateria. Outro ponto difundido e defendido por Nastari é que para o RenovaBio dar certo, a regulamentação precisa ser eficiente e inclusiva. “A nossa preocupação é que no detalhamento da regulamentação sejam criadas regras que induzam os agentes econômicos à direção do cumprimento da política do RenovaBio, e não rígidas a ponto da grande maioria dos produtores de biocombustíveis não participarem do processo.” A regra tem que ser para que a maior parte dos produtores, de forma rápida, esteja dentro do RenovaBio e que ao longo do tempo esses produtores sejam estimulados a aumentarem a sua eficiência. A norma é que se crie um mercado de biocombustíveis. Arraes, por sua vez, analisou que o RenovaBio é um case de política pública que inovou completamente a visão que se tinha no Ministério de Minas e Energia sobre os biocombustíveis. “Estamos olhando com cuidado para que seja feita uma regulação que dê toda credibilidade e segurança ao sistema financeiro e para a política do RenovaBio.

É extremamente importante que tenhamos metas que não variem e sejam alteradas. Têm que ser metas firmes e exequíveis. Precisamos passar para o setor financeiro, para os investidores e para o setor produtivo toda a segurança de que o RenovaBio se dará de acordo com o que está planejado em seu escopo. Estamos, dentro do MME, incumbidos do esforço concentrado em conduzir essa regulação durante esse ano mesmo tendo uma transição de Governo. Queremos essa regulamentação pronta, de modo que o próximo Governo, naquilo que ainda não tiver sido implementado e estruturado, possa ser feito no menor intervalo de tempo possível”, garantiu ao dizer ter a certeza de que a regulação será inclusiva. “Não é intenção do RenovaBio ser excludente”, completou. Na visão do coordenador, o setor sai na frente por ter o biocombustível com a chance e capacidade de ter a melhor nota e o melhor desempenho no programa. “O setor é o mais preparado para se posicionar bem dentro do RenovaBio”, frisou. Possíveis entraves Nastari aproveitou o painel para elencar alguns pontos que cercam a regulamentação do RenovaBio e que podem ser excludentes. Citou como exemplo uma regra que poderia ser utilizada no RenovaCalc onde, para o produtor de biocombustível ser elegível e participar do RenovaBio, teria que ter a totalidade de suas propriedades agrícolas cultivadas com a biomassa cadastradas no CAR.

“Há empresas que têm 30 mil hectares e outras com 400 mil hectares de cultivo. Imagine ter uma fazenda com 50 ou 100 hectares sem o CAR por qualquer motivo que seja (inventário, partilha, incremento de registro de cartório e outros) e por causa de uma, duas ou três fazendas essa empresa não ser elegível para participar do RenovaBio porque não cumpre esse critério? Esse tipo de critério pode tornar o programa inclusivo ou excludente”, avaliou. Isso pode ser resolvido de forma proporcional. Se a empresa tem sob seu controle ou processa 30 mil hectares de cana e tiver algum percentual em atendimento ao CAR, poderá emitir CBio equivalente ao seu percentual. Outro critério que ainda não está decidido e pode ser definido na regulamentação, para efeitos de certificação e de dados na calculadora, é a necessidade de informações de 100% das áreas. Isso é excludente porque é muito caro levantar informação técnica detalhada de 100% das áreas, podendo ser criado um critério de amostragem representativa. “Me preocupam algumas ações da ANP como o fato de ter soltado uma minuta de resolução defendendo a transparência na precificação de combustíveis, mas obrigando os agentes de mercado a publicarem toda a sua estrutura de custo, inclusive de resultados e lucro em seu site e tornar isso público, o que não induz ao investimento”, argumenta Nastari. Para ele, o desafio é implementar o RenovaBio e fazê-lo acontecer de forma eficiente porque podem surgir obstáculos relevantes ao processo. “Temos que tomar cuidado para superar isso com equilíbrio. O mundo não será só biocombustível. Vai continuar existindo derivado de petróleo e o Brasil caminha para ser cada vez mais um produtor relevante de petróleo. Vamos passar de 2,6 para 5,5 milhões de barris por dia de extração no período de quatro ou cinco anos.

O biocombustível precisa conviver com o derivado de petróleo e essa combinação, por mais incrível que pareça, é melhor que o veículo à bateria”, esclarece. Entre os desafios e incertezas estão o detalhamento da ANP sobre a regulamentação já feita no decreto e o detalhamento da regra de como irá funcionar a comercialização do CBio dentro do mercado financeiro, inclusive com todas as preocupações que os agentes financeiros têm em relação à segurança de sua emissão (integração com o sistema de nota fiscal eletrônica para que haja comprovação da venda efetiva). “Ainda têm muitos obstáculos a serem superados que dependem do discernimento e do equilíbrio das pessoas do Governo que estão envolvidas no processo, mas esperamos que isso seja conduzido a bom termo e de forma harmônica”, aguarda Nastari. Ao ouvir as aflições, Arraes ressaltou que a intenção é continuar conduzindo o RenovaBio da forma que tem sido feita.

“A discussão do RenovaCalc vem desde os tempos do decreto e muito se evoluiu. Tenho certeza que essas questões mencionadas estão resolvidas a contento, buscando a não exclusão e afirmação da credibilidade do programa. No entanto, enquanto as coisas não estiverem definidas e consolidadas no Diário Oficial como algo que passa a valer, estarão no plano da discussão. No processo de transparência da ANP, muitos agentes vão trazer suas preocupações e prevalecerão o bom senso e o equilíbrio nesse quesito também”, tranquilizou o coordenador.

Motivos para investir

O segundo painel da conferência discutiu o papel da cana no desenvolvimento e foi aberto pelo deputado Arnaldo Jardim, também presidente da Frente Parlamentar de Apoio ao Setor Sucroenergético. Ele destacou que a cadeia em torno do setor sucroenergético é complexa e longa, tendo o mérito da produção agrícola concatenar com a produção industrial. “Sertãozinho é a capital de toda a indústria de equipamentos do setor sucroenergético. Uma indústria tão complexa e inovadora, que se permitiu, durante a crise, ter 14 mil desempregados na área metalúrgica, demonstrando uma quase dependência do setor de equipamentos em relação ao setor sucroenergético. Diante das dificuldades tem gente que chora e gente que vende lenço.

A indústria daqui mostrou a sua capacidade de vender o lenço, de descobrir novas aptidões, buscar nova vocação”, lembrou. A mecanização também foi citada pelo deputado, o que induziu a um estímulo para novos equipamentos e na mudança de perfil das pessoas empregadas no setor, que tiveram que fazer frente às novas exigências. Jardim salientou que ainda existe preconceito em relação à cana, muitas vezes com argumentos fáceis como o fato de ser uma monocultura e as más condições de trabalho na área agrícola. “A realidade é que o IDH é maior nas cidades que tem na lavoura da cana a principal atividade agrícola. Isso deve ser ressaltado por nós. A cadeia de cana é sofisticada, tem uma marca de inovação muito acentuada”, disse. O prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Duarte Nogueira Junior, destacou que o setor sucroenergético é a grande mola de desenvolvimento de toda a região. “Quando o setor atravessa alguma dificuldade não é só na unidade produtiva, nas atividades agrícola e industrial, nofornecimento, na distribuição ou na exportação que os principais elementos da produção do setor sofrem, isso vai até a ponta: na borracharia, no supermercado, na redução da atividade econômica e na redução de empregos.

É um reflexo para a comunidade.” Segundo Nogueira, vivemos em um país cada vez mais urbano, onde 85% dos brasileiros, 93% dos paulistas e 99,7% dos ribeirão-pretanos vivem nas cidades. Para ele, estas pessoas precisam conhecer a magia e a transformação que o setor na área produtiva é capaz de fazer em benefício das cidades, garantindo abastecimento, redução no preço da comida, energia limpa e outras estratégias importantes para o país. A presidente da Unica, Elizabeth Farina, pontuou que o setor gera produtos da maior importância do ponto de vista ambiental com o etanol e a bioeletricidade, do suprimentode combustíveis e do açúcar na área de alimentação. “O setor também tem uma importância muito grande na relação entre geração de energia e PIB. Ou seja, para crescermos a renda no país e para melhoramos os índices de desenvolvimento urbano, precisamos de energia desesperadamente. E quanto mais rápido crescermos, mais energia será necessária em termos de combustíveis líquidos e energia elétrica”, lembrou Elizabeth. Alguns estudos mostram, ao comparar o início dos anos 2000 até meados de 2014, que houve uma mudança importante de escolaridade na população das cidades com áreas de cana-de-açúcar e o perfil dos trabalhadores também mudou para melhor.

Essa mudança veio associada à mecanização, o que exigiu maior escolaridade, e também aos programas de melhoramento com o envolvimento de sindicatos rurais, usinas de cana e o Governo - o Programa Renovação. Exemplo em Goiás André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, salientou que a região de Ribeirão Preto sintetiza o potencial do agro no Brasil, a chamada Califórnia Brasileira, localidade que teve uma economia muito forte no café e hoje tem, na cana-de-açúcar, a indústria de base eserviços em toda a região, sendo o principal polo regional de São Paulo, estado que possui o maior desenvolvimento e a maior economia do país. “Ficou muito claro a importância do setor sucroenergético para as pessoas das regiões do Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Goiás, que foram as três novas fronteiras de desenvolvimento quando houve a expansão do setor em 2008. As cidades que tiveram o maior crescimento no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no estado de Goiás foram aquelas que receberam as indústrias sucroenergéticas. Não existe nenhuma política melhor de distribuição de renda do que gerar emprego”, observou Rocha. Ele conta que em Quirinópolis o mercado imobiliário sofreu valorização de 40% com a implantação de duas usinas.

O município também recebeu concessionárias de veículos e máquinas agrícolas, setor de serviços, hotéis, supermercados e restaurantes. Houve o crescimento de uma cadeia produtiva, distribuição de renda e giro em toda a economia. A cidade, que era a de número 50 em competitividade, num universo de 246 municípios do estado de Goiás, atingiu a 9ª colocação. Isso ocorreu de maneira geral em diversos lugares. Além disso, vieram as creches, as escolas e as unidades com seus programas sociais”, descreveu Rocha. O executivo acredita ser importante que o meio urbano conheça um pouco do agro para tirar a visão de que a atividade é primária e atrasada. “A mesma tecnologia que está no dia a dia do agro é revertida em tecnologia para os urbanos. Essas tecnologias trazem mais conforto, desenvolvimento e qualidade de vida para todos.” Novos indicadores com o RenovaBio Aurélio Amaral, diretor da ANP, participou do painel e mencionou o programa RenovaBio, que tem uma proposta de abertura de concorrência, estimular a atividade agrícola e a produção de combustível.

“Temos para o Brasil nos próximos anos imensos e enormes desafios que é abastecer o país. Temos um déficit, pois nossa produção de petróleo e derivados não é suficiente para suprir toda a demanda de combustíveis e por isso a necessidade de se incorporar na matriz de combustíveis novos elementos”, explicou. Amaral também disse que a ANP ficou com o papel de regulamentar, com a responsabilidade de toda a estruturação do credenciamento, a sua forma de funcionamento e a definição das metas individuais. “Estamos fechando a resolução que cria a RenovaCalc, como ela irá afetar a atividade dos produtores para que os mesmos possam se credenciar e ser participantes do programa RenovaBio. Este é o marco inicial do programa, pois a RenovaCalc dará estrutura de funcionamento, planejamento e a inteligência de mercado. O produtor terá que olhar para a sua sustentabilidade, o uso de insumos mais naturais e menos poluentes, o uso de biocombustíveis em suas frotas. O programa tem essa indução positiva e de retroalimentação do próprio setor”, esclareceu Amaral. “A partir do momento da implementação do RenovaBio, as usinas terão novos indicadores para serem perseguidos e as relações associadas às emissões terão a ver com a técnica produtiva”, lembrou Elizabeth.

Durante sua fala, o prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Duarte Nogueira Junior, argumentou que os prefeitos não têm como mexer na política cambial, nas alíquotas de importação, exportação e na inflação, mas podem fazer a microeconomia, ou seja, tornar os municípios menos burocratizados, incentivar políticas públicas locais de incentivo aos combustíveis renováveis, criar ambiente de certificação, emissão de licenciamentos, alvarás e tudo o que for possível para não comprometer o tempo de cadência do investidor, além de ter uma engenharia financeira para amortizar, empregar, produzir e vender. “Nós, prefeitos da região, devemos estar sempre atualizados para que possamos ser o menos onerosos possíveis na velocidade de avanço do setor empresarial e daqueles que geram emprego e riqueza. Temos que ser mais eficientes”, propôs Nogueira. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Sertãozinho, Paulo Gallo, afirmou que nenhum outro segmento distribui emprego e qualidade de vida como o setor sucroenergético.

“É uma diferença brutal quando chega uma usina na cidade e também é deprimente quando uma usina vai embora”, pontuou. Gallo citou o Senai de Sertãozinho - referência nacional em formação de mão de obra para o setor e que investiu R$ 60 milhões nos últimos três anos. “A escola possuiuma planta que reproduz 100% a produção de etanol. O Senai está junto com algumas empresas desenvolvendo uma nova tecnologia para a produção de etanol de milho. A indústria de base da cidade está se qualificando e está preparada para executar os serviços que serão necessários. A mão de obra está a disposição do setor”, reiterou. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento necessários para o aumento da produtividade no setor sucroenergético também foram elencados pelo secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Jardim. Segundo ele, os números do estado são fortes, pois 62% da produção de cana está em São Paulo.

“A cada ano que visitamos a feira vemos uma modernização do processo. Estamos trabalhando para montar cases nos municípios que mais se utilizam de tecnologia. Temos interesse em fazer isso em Sertãozinho em relação às tecnologias usadas no setor sucroalcooleiro, trabalhar em cima de produção de conhecimento aplicado, pois não adianta o Governo do estado investir em pesquisas que não são aplicadas. Os grandes desafios são ampliar a renovação e produção dos canaviais, uso de variedades produtivas, investimento em pesquisas com etanol de segunda geração, implementaçãoda reforma trabalhista. O empenho do estado é trabalhar junto ao setor produtivo com o intuito de direcionar pesquisas para que o produtor receba o resultado daquilo que vem do estado”, finalizou o secretário Jardim.