Uma pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) notou que, nos últimos 30 anos, o número de larvas e besouros bioluminescentes que vivem em cupinzeiros no cerrado tem diminuído exponencialmente. O foco das expedições é na região do Parque Nacional das Emas e fazendas ao redor da unidade de conservação em Goiás. A pesquisa foi publicada no Annals of the Entomological Society of America
Os pesquisadores afirmam que a diversidade desses besouros nos remanescentes do cerrado e nas fazendas vizinhas ao parque diminuiu drasticamente nas últimas três décadas, concomitantemente à substituição de mata nativa por plantações de soja e cana-de-açúcar, bem como à redução do Cerrado em geral.
"Na década de 1990, víamos muitos desses cupinzeiros cheios de vagalumes e outros insetos bioluminescentes, mesmo em áreas de pastagem. Agora, a cana de açúcar é cultivada na maioria das áreas e quase não vemos nenhum", observou o Vadim Viviani, professor do Centro de Ciência e Tecnologia para Sustentabilidade da (CCTS-UFSCar) em Sorocaba, estado de São Paulo.
A escassez foi uma das principais conclusões de um estudo apoiado pela FAPESP por meio do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP).
Desde o começo da pesquisa, há 30 anos, foram registrados 51 espécies, a maioria das quais são vagalumes ( Lampyridae ). As demais são os besouros click ( Elateridae ), que possuem duas lanternas no dorso, e os vermes ferroviários, também conhecidos como glow worms ( Phengodidae ), que podem produzir luz de diferentes cores ao mesmo tempo.
Em Goiás, além dos exemplares coletados no Parque Nacional das Emas, no município de Mineiros, e em fazendas próximas, os pesquisadores catalogaram exemplares em Perolândia e Campinorte. No Mato Grosso, a pesquisa abrangeu o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e três cidades (Alto Garças, Novo Santo Antônio e Rio Manso). Em Costa Rica, cidade do Mato Grosso do Sul, foram visitadas duas fazendas e o Parque Municipal das Cachoeiras do Sucuriú. O Parque Nacional das Emas foi o local mais produtivo, com 35 espécies.
A pesquisa também pontua que os pesticidas e iluminação artificial também são inimigos dos besouros bioluminescentes. A luz brilhante produzida pelos seres humanos impede que eles sejam localizados pelos parceiros e se reproduzam.
A extinção de espécies bioluminescentes não é apenas uma perda para a biodiversidade e para os serviços ecossistêmicos prestados por esses animais, mas também representa a perda de oportunidades tecnológicas e econômicas. A bioluminescência - produção e emissão de luz fria visível por seres vivos - é útil para muitos processos analíticos utilizados em pesquisa científica, medicina, indústria e gestão ambiental. A luz fria significa que menos de 20% da luz gera radiação térmica, ou seja, calor.
A bioluminescência deriva da oxidação da luciferina, um composto presente nesses insetos e em outros animais. O processo de oxidação é catalisado por enzimas conhecidas como luciferases.
Fonte: correiobraziliense