Discurso do governador
José Serra, no Hotel Hyatt,
Vim aqui hoje com muita satisfação a essa solenidade. Confesso que, por problemas de agenda, tinha planejado não permanecer durante todo o ato, mas estava do lado do Fábio Barbosa ( novo presidente da Febraban) , tinha de ouvir o discurso do Fabio Barbosa, que assume hoje a federação, e vi que o orador seguinte era o (Henrique) Meirelles. Se eu saísse, já tinha dado o lead para a imprensa: "governador de São Paulo saiu antes do presidente do Banco Central falar". Por esse motivo preferi mudar, cancelar a reunião, e aqui permanecer. Até porque tinha também grande interesse em ouvir o presidente Meirelles. Fiquei muito satisfeito quando ele disse que agora é momento de andar mais rápido.
Quero dizer que, para nós, é uma honra receber aqui novamente empresários financeiros de todo o Brasil. São Paulo é o lugar geométrico do setor financeiro em nosso país. Aqui estão 200 mil dos 400 mil funcionários das instituições financeiras. O setor financeiro não paga impostos para o Estado e muito pouco para a prefeitura, os impostos são mais federais. Mas gera emprego e gera renda. Mas, da ótica do governador do estado, é um setor extraordinariamente importante para a economia de São Paulo. Fico portanto muito satisfeito de acolher aqui mais uma vez. Na vez passada acolhi, participei do acolhimento, então como prefeito, quando foi eleito o Márcio Cypriano.
O Fábio Barbosa fez, a meu ver, um excelente discurso. E ele disse uma coisa que me parece muito relevante no Brasil de hoje. Literalmente: se cada um cuidar do seu ao redor, o todo será muito melhor. Isso é um chamado para que nós assumamos sempre nossas responsabilidades na nossa esfera de atuação. A preocupação com o todo é uma preocupação fundamental. E eu tenho, como governador de São Paulo, a preocupação com o todo e com o Brasil. Mas, em certos momentos, se sobrepõe a responsabilidade com o seu setor. Eu fico muito feliz que o presidente da Febraban assuma com essa perspectiva.
No que se refere ao nosso setor
aqui
Em segundo lugar, estamos caminhando para a implantação da nota fiscal eletrônica, que teve um sucesso estrondoso na prefeitura da capital com relação ao ISS e vamos fazer no estado. Esse instrumento vai facilitar a adesão das pequenas e médias empresas ao Super Simples. Devo dizer, cujo projeto de lei original, foi de autoria do então líder do PSDB na Câmara Federal, deputado ( federal) Jutahy Jr. Dando uma demonstração de como a oposição de hoje é diferente da de ontem porque ela não aposta no quanto pior melhor, pelo contrário, aposta nas soluções para nosso país. E um exemplo é o caso do Super Simples. Vamos dar conseqüência a esta lei atual aqui no estado mediante a nota fiscal eletrônica. Inclusive com prêmios aos consumidores: descontos no IPVA, descontos em tributos estaduais outros a partir da adesão ao figurino da nota.
Em terceiro lugar, estamos
promovendo o recadastramento
dos servidores, todos do Estado, diminuindo em 15% as despesas dos
cargos em
comissão, que são significativas
Uma medida importante que estamos desenvolvendo é a da desburocratização, comandada até pelo secretário (Guilherme) Afif (Domingos) aqui presente. O Banco Mundial fez uma análise do tempo de criação de empresas no mundo. O Brasil "só" ficou em penúltimo lugar ou, dependendo do enfoque, em segundo lugar no maior tempo necessário, mais de 150 dias. Eu tive curiosidade na época. Fui averiguar onde essa pesquisa foi feita. Pois ela foi feita aqui na capital de São Paulo. E por isso nós começamos na prefeitura, o Gilberto Kassab deu continuidade, e agora nós vamos promover no estado um movimento determinado de desburocratização com vistas a reduzir este prazo para duas ou três semanas no máximo. Se não for cumprido, já disse, o Afif e os outros responsáveis serão obrigados a abrir uma empresa por mês enquanto o processo se esticar.
Ao mesmo tempo, estamos fazendo aquilo que é fundamental para São Paulo, que é a retomada dos investimentos. Há investimentos que são impostergáveis. Por exemplo, no sistema de transportes da região metropolitana, que todos nós aqui, e a nossa população muito mais, sofre no dia-a-dia, com efeitos sobre a saúde, sobre a psicologia e sobre a economia de São Paulo. Portanto, isso para nós é vital. Seja a ampliação do metrô, seja a transformação dos trens urbanos da CPTM em metrô de superfície. São investimentos pesadíssimos. Agora mesmo acabamos de autorizar o prolongamento do metrô do Ipiranga, que já vai ficar pronto, até a Vila Prudente. Isso é coisa para 1 bilhão e 400 milhões de reais, apenas alguns poucos quilômetros. E não tem outra solução. Junto com o Rodoanel, é a única medida capaz de transformar a cidade de São Paulo numa cidade possível do ponto de vista social e econômico. Estamos também procurando financiamento para o Rodoanel. Para isso não apenas teremos a possibilidade de algum financiamento de aproximadamente um terço do trecho sul, mas através de concessão. Vamos fazer concessão do trecho pronto do Rodoanel, com vistas também a obter financiamento para o trecho seguinte e assim por diante.
Aliás, as
concessões para nós são um
critério de ação
governamental bastante decidido. Eu tive oportunidade quando ministro
do
planejamento de pilotar, no governo Fernando Henrique, a
elaboração de lei de
concessões feita à época. E ela tem
dado muito certo. Das 20 melhores estradas
do Brasil, 19 são de São Paulo. Isso é
uma contrapartida, sem dúvida, do
processo de concessões que, do ponto de vista
político, foi muito difícil de
ser conduzido. Mas que nós vamos dar prosseguimento a ele,
inclusive com a
construção do corredor de
exportação, pelo porto de São
Sebastião, que vai
supor a duplicação, entre outras obras, da
rodovia dos Tamoios. E isso vai ser
feito sem despesa por parte do governo, do tesouro do estado, mas
mediante a
concessão das rodovias Carvalho Pinto, Dom Pedro e Ayrton
Senna, num processo
que é bastante complexo, mas que
Meio ambiente. Outra grande
prioridade. Meio ambiente.
Por exemplo, apenas para ilustrar, no caso da cana de
açúcar, aqui
A educação
é outro capítulo fundamental. Nós
temos
quase 6 milhões de alunos, entre as escolas fundamentais e
de ensino médio,
Com relação as grandes questões nacionais, eu apenas mencionaria uma que, como governador, tenho procurado impulsionar, que é a reforma tributária. Já manifestei o acordo com a idéia de que se conduzisse o ICMS para o destino, que seria um passo importante dentro de uma reforma tributária nacional. Temos duas condições. Primeiro que isso tenha como contrapartida o fim da guerra fiscal. Porque o que não podemos ter é a co-existência dos dois sistemas, como muitos setores acreditam. Isso é inviável. Não dá para ter ICMS no destino e paralelamente a guerra fiscal garantida pela constituição na sua ilegalidade durante quinze anos. Portanto, essa é uma condição para que ela possa prosperar. Os senhores e as senhoras não calculam a irracionalidade da guerra fiscal que leva a situações em que os estados pagam, despendem recursos do tesouro líquido, para manter uma atividade econômica no seu território. Ou seja, não só não arrecadam como pagam dinheiro dos contribuintes apenas para forçar uma alocação eficiente de recursos. Portanto, essa questão, que eu sei que mobiliza bastante, da ótica de São Paulo, é encarada dessa maneira. Nós estamos aqui bastante ajustados à lei de responsabilidade fiscal, graças à herança que recebemos dos meus dois antecessores, e defendemos uma tese que hoje no Brasil pode até soar como heterodoxa, que é a de que a lei de responsabilidade fiscal seja também aplicada ao governo federal. Hoje não é. Há dispositivos que prevêem isso mas isso vem sendo progressivamente postergado, o que faz com que a responsabilidade maior do ajuste fiscal recaia sobre estados e municípios. O governo federal, de alguma maneira, fica mais solto, do ponto de vista legal, nesta matéria, coisa que não me parece correta dentro do equilíbrio federativo. Portanto a nossa tese é que a lei de responsabilidade fiscal deve ser regulamentada naquilo que impõe a sua aplicação ao governo federal. É uma tese ortodoxa que eu tenho certeza soa até heterodoxa neste momento. Mas eu me considero um bom ortodoxo em matérias de natureza fiscal. Portanto fico muito à vontade para defendê-la como medida ortodoxa.
Com relação ao sistema financeiro, o Fabio Barbosa expôs aqui no seu excelente discurso, três finalidades do sistema financeiro, olhando bem empiricamente: viabilizar a poupança, que precisa ser remunerada para existir, viabilizar pagamentos e recebimentos, cumpre uma função de integração dentro da economia e financiar o consumo e o investimento. E tudo que eu quero como governador e também como pessoa física é que realmente o sistema financeiro possa cumprir esse papel a longo prazo e financiar cada vez mais o nosso investimento, porque nós precisamos de crescimento. E o crescimento não existe... a curto prazo pode ser, mas a médio e longo prazo requer investimento. E investimento requer financiamento compatível com o retorno que os investimentos produtivos podem proporcionar. Portanto faço votos que na gestão do Fabio e do Gabriel ( Jorge Ferreira, reeleito para presidência da Confederação Nacional das Instituições Financeiras) o sistema financeiro caminhe nesta direção junto a gestão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Caminhamos para realizar aquela que deveria ser a função primordial, que é financiar o investimento a taxas compatíveis com o retorno dos investimentos produtivos.
Paralelamente, o Fabio sublinhou o papel social do sistema financeiro hoje. Eu acho que pode ser um papel potencialmente muito grande. São 6% do PIB, um setor de grande rentabilidade, há muita coisa que pode ser feita na área social, eu me ofereço aqui, como governador de São Paulo, como parceiro do setor neste papel social.
Muito obrigado.