O Diário Entrevista desta semana tem a participação do diretor geral da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), Paulo Roberto Teixeira Michelone, 60. Médico especialista em gastroenterologia e endoscopia digestiva ele também tem título de mestrado e doutorado na docência. Há 25 anos na Famema, ele acaba de assumir a diretoria. Durante este período já ocupou os cargos de diretor administrativo, vice-diretor, tesoureiro e presidente da Fumes (Fundação Municipal de Ensino Superior de Marília)
Natural de São Carlos (SP) ele é casado com Adriana, com quem teve dois filhos. Durante a entrevista, Michelone ressalta a importância da criação da autarquia de assistência à saúde e o processo de encampação dos cursos de enfermagem e medicina por uma universidade paulista. Ele destaca os investimentos no Hospital das Clínicas, além de falar sobre a necessidade do direcionamento correto dos atendimentos para urgência e emergência. O diretor também fala da excelência educacional da instituição
Quais os principais planos à frente da Famema?
Os principais planos desencadeados são macro. Como a criação da autarquia de assistência e atenção a saúde ligada a secretaria estadual e a encampação dos cursos de medicina e enfermagem por uma das universidades paulistas: Unesp, USP ou Unicamp..
Também pretendemos ter uma gestão participativa com planejamento. São sete unidades que compõem o Complexo Famema: Hospital das Clínicas, f!.C 2, HC 3, Hemocentro, Unidade de Oftalmologia, Ambulatório Mario Covas, NGA e rede Lucy Montoro. Além disso, também participamos da gestão do Hospital Regional de Assis por meio de uma cooperação técnica.
Para estas unidades um grande desafio é transformar o HC 1 em alta complexidade. Hoje ele recebe este título, mas não está completo. Recentemente instalamos uma unidade coronariana, unidade de AVC isquêmico, portanto temos que completar para chegar a uma gestão de urgência, emergência e alta complexidade. Além disso, integrar nesta urgência e emergência a parte feita no Materno Infantil. Pois hoje são duas portas de entrada a adulta no HC e a infantil no HMI. por isso queremos unir as duas portas. A proposta é deixar o HMI como hospital/dia de média complexidade para cirurgias mais eletivas. Isto porque quanto mais portas de urgência existentes mais problemas e custos são gerados, por isso a ideia de concentração.
Ainda no HC 1 pretendemos criar um laboratório de análises de urgência, hoje os pacientes são encaminhados para o Hemocentro. Por isso com a criação deste setor no HC teremos rapidez e comodidade. Também pretendemos instalar mais um acelerador linear de radioterapia, tendo em vista que temos apenas um equipamento. Nós estamos ampliando todo o espaço predial da oncologia. A inauguração está prevista para o segundo semestre. Também inauguramos recentemente o equipamento de hemodinâmica em que o paciente com problema cardiovascular é rapidamente atendido. Iniciamos há uma semana a realização das cirurgias cardíacas em adultos no HC.
Já o HC 3 é um hospital para a saúde mental em que pretendemos levar o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), nível 3 para lá. Isto para que toda a parte mental fique em um mesmo local e também para que funcione como hospital de retaguarda para pacientes que necessitem de internação mais prolongada sem alta complexidade.
A unidade de Oftalmologia atualmente funciona no HC 3, temos um projeto de instalação do setor em algum prédio. Para o Mario Covas pretendemos melhorar a gestão, fluxo de atendimento e processo de trabalho. Em saúde sempre temos mais a ser feito, desta forma vamos analisando e melhorando o atendimento, regulação e acolhimento.
O Hemocentro tem ISO 9000 e funciona de forma bastante ajustada como pilha de excelência no Complexo Famema. Toda a parte de patologia química dos laboratórios funciona neste setor. Para o Hospital Regional de Assis a intenção é fazer uma gestão completa. Atualmente não temos o orçamento encaminhado para lá e parte do dinheiro vem para cá para gerenciamento deste intercâmbio.
Atualmente existe uma política das autarquias como de Botucatu e Ribeirão Preto de gerenciar estes hospitais regionais para ter o intercâmbio e organizar a rede. Atualmente o estado é dividido em regiões de saúde. Então é necessária uma grande rede que dá apoio ao atendimento ao paciente.
Como está o trabalho para criação da autarquia? Qual será o benefício?
Isto não resolveria todos os nossos problemas, mas grande parte deles. Atualmente nós temos apenas um terço do orçamento do que nós necessitamos. Com a criação da autarquia teremos um orçamento de 100%. Desta forma não precisaremos reivindicar novos recursos. Atualmente sofremos com falta de medicamentos e insumos por não termos um orçamento total.
O grande desafio é formar um quadro pessoal para autarquia de assistência. Este é um desejo desde 1994, quando a instituição foi estadualizada. Na verdade isto era para ser feito três meses após a estadualização, entretanto, 19 anos depois nós estamos conseguindo consolidar este processo
E difícil dizer porque não foi feito antes, mas estas coisas precisam de um elemento político e o governador e a secretaria apoiar a ação. E nesse caso tanto a secretaria da Saúde quanto o governador Geraldo Alckmin chegaram e falaram que a Famema não poderia mais prosseguir isolada.
Na secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia tínhamos um responsável pelo ensino e para a assistência à saúde tínhamos apenas um convênio de atendimento.
Isto ocorreu porque houve um alinhamento político e porque a secretaria levantou esta bandeira. Atualmente existe um grupo de trabalho composto por representantes de seis secretarias do Estado e Procuradoria Geral do Estado. Este grupo indicou este cenário para o governador. Estamos em um momento em que a comissão está viabilizando a implantação disto para que o projeto seja encaminhado Legislativo.
O que muda é o modelo de gestão. O benefício é criar um quadro pessoal do Estado dentro deste modelo.
Qual o orçamento atual da instituição? E suficiente? Qual seria o ideal?
O orçamento é de R$ 60 milhões, mas precisaríamos de R$ 180 milhões. Este valor será avaliado pela comissão. Com o orçamento completo poderemos planejar os gastos.
Como está o processo de encampação da faculdade?
A encampação se dará em um segundo momento e no segundo semestre. Isto porque as universidades se espantam quando o hospital está ligado à faculdade por conta dos gastos. A partir do momento em que o projeto de criação da autarquia for encaminhado para Assembleia, poderemos consultar as três universidades oficialmente.
Na Coordenadoria de Ensino Superior estão as três universidades, USP, Unesp. Unicamp, Fapesp. Centro Paula Zouza, Marília e São José do Rio Preto isolados. Este isolamento é muito ruim.
O diretor da faculdade estará dentro do conselho deliberativo da autarquia. Ainda não sabemos como será a logística dos campus. Com a encampação a graduação e pesquisa são fortalecidos. Também teremos uma alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Quais os investimentos previstos para o HC? Quais as obras em andamento e o que ainda será feito?
Serão investidos R$ 59,2 milhões.
Como é um hospital de 60 anos, criado para o tratamento de moléstias infecciosas, necessita de várias reformas, até mesmo pelo que a lei exige. Nós fizemos um plano diretor para reforma de todo o HC em etapas em quatro anos. No ano passado foram feitas licitações e as obras iniciadas em novembro. Nesta fase está em andamento uma central de lavanderia nova e cabine de força que está no limite. considerada uma das prioridades por conta da segurança, além da reforma de dois elevadores da frente e reforma da Ala D sob a sala de hemodinâmica. Tudo isso deve ser entregue até o final do ano. Também já iniciamos as licitações para iniciar as obras como anexo 2 que vai abrigar toda parte almoxarifado, setor de compras, setor administrativo e elevador de trás do HC. Também será reformada toda a parte de imagem. Já a unidade de cima será uma enfermaria. Serão criados 36 leitos. O pronto socorro adulto ficará sobre a sala de radiologia. Já em 2014 será a terceira etapa com uma reforma completa. Temos a proposta de fazer os laboratórios da faculdade como de bioquímica e farmacologia em um outro anexo para tirar estes setores de dentro do hospital e otimizar o espaço. A última etapa seria realmente agregar a urgência infantil que hoje é feita no HMI. Então o HC 1 será um hospital de alta complexidade, o HC 2 seria um hospital de atendimento secundário e o HC 3 um hospital de retaguarda e o NGA com um ambulatório materno infantil e com otorrinolaringologia.
Como analisa a implantação da Rede Lucy Montoro em Marília?
Dentro da joia que é o Complexo Famema teremos um brilhante como a Rede Lucy Montoro. No estado de São Paulo são 18 unidades, desde a entrega de orteses e próteses até um hospital de reabilitação. O nosso começa como um instituto, mas como está interligado ao HC pretendemos disponibilizar alguns leitos na ampliação, justamente para dar um suporte como hospital. Antes da criação da secretaria dos Direitos das Pessoas com Deficiência este público chegava a esperar por uma prótese praticamente por 15 anos, hoje a ma está praticamente zerada. Existe todo um protocolo, por exemplo, chega um acidentado que teve a perna amputada, este será encaminhado para a Lucy Montoro. No local será feita toda a avaliação para checagem da prótese a ser utilizada para cada tipo de lesão.
Quantos atendimentos mensais registrados pelo Complexo Famema?
Qual a principal demanda? Temos em torno de 1,2 milhão de atendimentos por ano. O pronto socorro faz uma média de 12 mil atendimentos por mês. Nos ambulatórios são 600 mil registros. Nós temos uma demanda diversificada.
Como está a parceria com a administração municipal?
Hoje a urgência e emergência é de responsabilidade do município. Então o que temos é um pronto socorro municipal dentro do HC, pois não existe este segmento em Marília e sim os pronto atendimentos das regiões norte e sul. Então por isso dentro desta rede tanto em Marília como nos municípios da região é necessário implantar regras. Pois hoje o hospital funciona como um grande pronto atendimento centralizado. Muitas vezes têm um paciente com dor de garganta, unha encravada, por exemplo, que poderia ser atendido nas unidades, mas ele aguarda no Hospital das Clínicas. Atualmente os cálculos apontam que urgência e emergência totalizam 4,5%, ou seja, mais de 80% poderia ser atendido nas unidades e pronto atendimentos. Esta demanda o prefeito Vinícius Camarinba e secretário municipal de Saúde, Mareio Travaglini, já montaram uma comissão para trabalhar nisso, pois realmente esteve abandonado nos últimos anos. Por isso temos uma perspectiva grande de melhorar isso, pois será benéfico para a população. Com a implantação da UPA da zona norte também teremos um ganho para atendimento em pacientes menos graves como, por exemplo, uma desidratação. Nós somos parceiros do município para que implantemos uma política de emergência para que o cidadão tenha um atendimento adequado. E necessário otimizar para que cada equipamento desenvolva sua função.
Qual a importância do Complexo Famema?
Por exemplo, na nossa região somos referência para 65 municípios o que significa 1,2 milhão habitantes, sendo que 50% das cidades têm menos de cinco mil habitantes e não possuem condições de prestar um atendimento de todas as especialidades. Então é nossa missão dar um respaldo aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). A importância daqui é que em termo de urgência e emergência somos referência para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e resgate. Por isso todos os habitantes de Marília que precisarem, o primeiro atendimento de emergência será no HC. Além disso, 70% necessitam do Complexo Famema, pois não têm convênio e nem condições de arcar com atendimento particular.
Desta forma a instituição é do cidadão e deve ser tratada como um bem público. Entre os 645 municípios do estado de São Paulo, apenas cinco cidades têm este privilégio de ter um hospital universitário público do estado: Marília, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Botucatu e Campinas. Então isto deve ser defendido tanto na parte predial como relacionamento. Por isso temos um cunho social incalculável.
O que destaca na área educacional nos cursos de medicina e enfermagem?
Quero destacar o selo de qualidade conquistado pelo curso de enfermagem chamado Arco Sul. Apenas duas faculdades no país possuem este prêmio. Este selo de qualidade possibilita a integração entre as instituições do Mercosul com a possibilidade de intercâmbio. Nossos cursos sempre têm tido boa classificação pela avaliação do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). No ano retrasado fomos classificados como melhor escola de medicina do Estado e a terceira do país. Acredito que isto traduz o nível da formação dos nossos 620 alunos. Temos residências médicas e multiprofissional, além de dois cursos de pós-graduação: Medicina em Saúde e outro acadêmico de Biologia e Envelhecimento. Todos os professores comentam que o aluno da Famema tem um comportamento diferente, pois a metodologia ativa busca novas informações a todo o momento. E isto é importante no mundo digitai em que vivemos.
Qual o destaque na área docente da Famema?
Temos 300 docentes, sendo uma equipe qualificada que sempre lutou para termos a pós-graduação, implantada há dois anos. Temos que ter ciência de que o hospital é também voltado para o ensino. Então na verdade todos os setores precisam ter um pensamento para esta realidade.
Quantos funcionários a instituição possui atualmente? Quais as principais reivindicações?
Hoje são 2.400 funcionários, mas precisaríamos de mais 700 funcionários para as expansões almejadas. A reforma feita no HCem que mais de 100 leitos serão criados também demandará de pessoal. A principal reivindicação é por uma política salarial. Nos últimos dois meses temos lutado para buscar melhorias junto ao Estado. Mas com a implantação da autarquia já existirá uma política salarial a qual estes funcionários também serão inseridos. No ano passado não teve aumento salarial, isto não existe e eles têm a total razão. É claro que existem outros anseios para que seja melhorada a condição de trabalho. Também pretendemos proporcionar um atendimento para estes funcionários que as vezes têm dificuldade para conseguir acesso. Estamos otimistas com estas melhorias por conta de todo apoio proporcionado pelo governo estadual. é um momento para esta instituição que tem mais de 60 anos de fundação. E por isso quero agradecer também o vice diretor e médico nefrologista, Ivan Melo de Araujo que foi nomeado como superintendente e está empenhado na gestão.
Fonte: Diário de Marília/SP