Agência FAPESP – Pesquisadores da Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN), em trabalho publicado no Emerging Infectious Diseases, apresentam fortes evidências de que o Hantavírus Araraquara, comum no interior de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal, é mais letal do que os hantavírus encontrados em todas as outras regiões do país.
A Síndrome Pulmonar por Hantavirus (HPS, na sigla em inglês), ou hantavirose, é um problema de saúde crescente no Brasil devido à expansão urbana, agrícola e de gado em ecossistemas que contêm espécies de roedores da subfamília Sigmodontinae, que servem como reservatórios do hantavírus. Existem aproximadamente 540 espécies conhecidas de roedores Sigmodontinae.
De acordo com o trabalho, o Hantavírus Araraquara está associado a áreas que têm sofrido maiores mudanças antropogênicas devido ao crescimento desorganizado da população.
Os pesquisadores identificaram os principais vírus causadores de hantaviroses que circulam em uma área delimitada no Brasil e, com base na distribuição geográfica desses vírus e no pressuposto de que nenhuma outra linhagem desconhecida estaria afetando os seres humanos, eles sugerem que o Hantavírus Araraquara seja responsável por 80% dos casos de hantavirose notificados no Brasil.
“Tudo indica que o Hantavírus Araraquara é o mais virulento do Brasil por ter um nível de letalidade muito alto. Agora é muito importante comprovarmos se isso ocorre por ele estar colonizando muito rapidamente diferentes espécies de roedores no país”, disse o virologista Paolo Zanotto, um dos coordenadores do trabalho e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.
Para chegar a tais conclusões e compreender a prevalência do Hantavírus Araraquara no território nacional, o estudo cobriu a biogeografia dos hantavírus em uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados no Brasil, onde foram coletadas amostras de anticorpos para hantavírus de 89 seres humanos e de 68 roedores.
O ácido ribonucleico (RNA) foi isolado de amostras de soro humano e do tecido pulmonar dos roedores para, em seguida, serem analisados por transcrição reversa por meio da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês).
As sequências dos genes e proteínas de 22 indivíduos e 16 roedores indicaram a presença de linhagens do Hantavírus Araraquara, além de a taxa de letalidade por hantavirose ser maior nas áreas que apresentaram o vírus. De 1993 a 2007, um total de 877 casos de hantavirose foram notificados no Brasil, com uma taxa de letalidade de 39%.
Fonte: Agência Fapesp