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Jornal da Cidade (Bauru, SP) online

Dieta seria receitada como remédio

Publicado em 30 março 2008

Por Rodrigo Ferrari

Entre as diversas propostas da nutrigenômica, talvez a mais inovadora (e ao mesmo tempo polêmica) seja a da elaboração de um cardápio alimentar individualizado capaz de interferir na atuação dos genes de cada pessoa. "Na prática, os alimentos passariam a ser receitados, literalmente, como remédios", afirma Lucia Regina Ribeiro, professora do programa de pós-graduação em patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu.

Ela lembra que, "para que isso se torne realidade, é preciso que antes se entenda melhor de que forma os compostos bioativos dos alimentos interagem com nosso genoma." A possibilidade de termos nosso cardápio regulado segundo as necessidades impostas por nosso DNA pode não agradar a muitas pessoas (principalmente aqueles que encaram a hora da refeição como um momento de prazer).

O professor do departamento de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Hélio Rocha, por exemplo, afirma que espera "não viver uma época na qual o prazer de comer seja regulado a tal ponto que as pessoas tenham de seguir um programa destes".

"Onde ficará a arte de bem comer e beber? Meu falecido pai mostrou-me na prática que preferia comer algo que lhe desse prazer a prolongar em alguns meses o sofrimento da doença que o levou. O problema é ético: aquilo que é corretamente planejado para o melhor, peca na definição do que é melhor", acredita o pesquisador.

Personalizada

Embora os estudos de nutrigenômica sejam bastante recentes, o uso de cardápios personalizados, de acordo com o histórico familiar de cada pessoa, vem crescendo a cada dia que passa. A relações públicas Juliana Ribeiro, 27 anos, tornou-se adepta de uma dieta individual baseada nos conceitos da alimentação funcional (o programa, nesse caso, não leva em conta a carga genética da pessoa).

Eliminou leite e derivados (queijos, manteiga, iogurte) das refeições e passou a 'abusar' de cereais integrais e de produtos feitos à base de soja. Perdeu sete quilos nos últimos meses e viu sua saúde melhorar de maneira significativa. "Eu sofria de rinite e de intestino preso. Depois que mudei minha dieta, esses problemas deixaram de me incomodar", garante.

De acordo com a especialista em nutrição clínica funcional e em fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Daniela Jobst, a explicação para as mudanças ocorridas na saúde da relações públicas é simples. "A alimentação de cada indivíduo deve ser única. Nutrientes que para alguns são um remédio, para outros são um veneno", resume.

Mapeamento

Um dos objetivos dos cientistas que pesquisam a área da nutrigenômica no País é caracterizar a população brasileira em termos de interações de dieta - variações gênicas -, grupos étnicos e associações com a suscetibilidade genética ao diabetes tipo 2 e a doenças cardiovasculares.

Um grupo de estudiosos de diferentes áreas ligados a universidades públicas (entre elas USP, Unesp, Unicamp e Unifesp) e institutos de pesquisa, liderados pela professora Lucia Regina Ribeiro, da Unesp de Botucatu, está elaborando um projeto nesse sentido, que será enviado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Os resultados obtidos a partir desse estudo produzirão informações referentes à população brasileira, além de dados para comparação com os obtidos pelos membros do Consórcio Internacional de Nutrigenômica, coordenado pela Organização Européia de Nutrigenômica (NuGO).