Que tal dialogar, ao vivo, com três Prêmios Nobel?
Essa foi a proposta do Nobel Prize Dialogue, que ocorreu na USP, ontem.
Estavam presentes Serge Haroche (Física, 2012), David MacMillan (Química, 2021) e May-Britt Moser (Medicina, 2014), além de um auditório lotado de alunos, professores e pesquisadores.
Reflexões:
Ganhar um Nobel confere importância à pessoa e ao trabalho. Junto, vem grande responsabilidade para com a ciência.
Fazer pesquisa é difícil, com inúmeros fracassos e sem garantia de sucesso. “Você pensa em desistir?” é uma pergunta frequente. Fracassos são como bater a cabeça na parede continuamente. Algo estimulante é um aluno dizer que quer mostrar um novo avanço, uma nova ideia.
Fazer algo garantido que dê resultado ou arriscar? É uma questão difícil, um balanço complicado — e daí a importância de ter fundos de pesquisa. No âmago da questão, o projeto tem que ser significativo para você, independentemente de aplicação.
Paixão. É necessário ter paixão, além de um ambiente criativo, pessoas diferentes, conversar. Fazer ciência é difícil, há muitos contratempos, a pessoa tem que ser viciada no que faz.
Por que o Brasil não tem um Nobel? Sobre isso, ponderação interessante de Haroche: O Nobel não deveria ser um critério. Devemos fazer um bom trabalho, independentemente de ganhar ou não. O Brasil tem inúmeras mentes brilhantes, que inclusive trabalharam com ele, de forma direta ou indireta. Infelizmente, o Nobel é para uma pessoa, e não para a equipe — e hoje em dia, são equipes que trabalham, não o gênio solitário.
Nota sobre personalidades muito diferentes. Um deles mais professor clássico, outro mais reservado, caricatura do cientista nerd, e a terceira, bastante aberta com as pessoas.
Um papel subestimado do cientista é a comunicação para o público em geral. Neste tópico, foi citado Carl Sagan, capaz de transmitir conhecimento científico avançado de forma emocionante para o expectador comum. Ele é uma inspiração para todos nós, que de alguma forma, temos que comunicar nossos trabalhos a não especialistas.
Sobre publicações científicas. Parece haver consenso de que algo está errado com o sistema. O sistema precisa mudar, mas não há consenso sobre como.
Destaque para a importância do público, de cada um de nós, para a divulgação e sustentação da ciência.
Por fim, uma última mensagem. Fazer ciência é ter bons problemas a resolver. Esqueça os limites, tenha orgulho de ser um cientista.