Os dois pacientes contaminados com Covid-19 no Brasil contraíram a doença através de um vírus que, aparentemente, já possui dois códigos genéticos diferentes. Cientistas brasileiras participam na descoberta.
A taxa de mutação do coronavírus está a desenvolver-se à velocidade de uma mudança por mês. A conclusão é do estudo desenvolvido por duas cientistas brasileiras: Jaqueline Góes de Jesus, do Instituto de Medicina Tropical, e a professora Ester Sabino, da Faculdade de Medicina da Universidade Pública de São Paulo. Integram ainda este grupo cientistas do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de Oxford, de Inglaterra.
"Pela taxa de mutação que aconteceu entre a sequência detetada na Alemanha, na detetada na China e na que a gente sequenciou aqui no Brasil, o Covid-19 tem uma taxa de mutação de uma mutação por mês", explicou Jacqueline Góes de Jesus à cadeia de media Globo.
Trabalho dá salto em três dias
Graças ao trabalho das investigadoras, em 48 horas foi sequenciado o genoma do novo coronavírus do primeiro paciente brasileiro e, um dia depois, foi descodificado o genoma do segundo paciente brasileiro contaminado. O genoma é a identidade do vírus alojada no seu código genético.
Os dois genomas possuem diferenças, apontam as cientistas: o conjunto da informação genética do primeiro é mais parecido com a cepa da Alemanha, e o segundo genoma com a linhagem detetada em Inglaterra. Itália ainda não publicou o sequenciamento dos vírus que estão a circular no país.
"A partir do momento em que se consegue detetar a sequência do vírus e ela é revelada ao mesmo tempo em que está sendo gerada, conseguimos dar respostas mais rápidas, tanto para a comunidade científica como para os setores de saúde pública", disse Jaqueline Góes de Jesus. "É um trabalho fundamental para entendermos se as mutações causadas no vírus estão trazendo algum tipo de desvantagem adaptativa a esse vírus", concluiu.
Cientistas aprenderam com o zika
Esta velocidade da investigação brasileira, sublinham os media, resulta do conhecimento acumulado nas universidades e laboratórios do país. As cientistas aproveitaram estudos prévios que fizeram sobre o vírus zika, que também sofreu mutações até chegar ao Brasil, e usaram a mesma técnica de sequenciamento para conhecer o novo coronavírus.
Este conhecimento facilitará o desenvolvimento de vacinas e de medicamentos adequados. É por causa das mutações - avisam as investigadoras - que todos os anos somos obrigados a tomar vacinas diferentes para a gripe, por exemplo. E é por já conhecermos bem o vírus da sida que esta se transformou numa doença que é possível controlar por meio de cocktails de medicamentos.