A produção de soja no Mato Grosso aumentou mais de 30% entre 2006 e 2010, saltando de 15,6 milhões para 20,5 milhões de toneladas. Em paralelo a este crescimento da produção agrícola, o desmatamento no Estado, que é responsável por 31% da soja produzida pelo país e liderou a derrubada de árvores na Amazônia no início dos anos 2000, também diminuiu 30% no mesmo período, atingindo 850 quilômetros quadrados em 2010. O número representa 11% da média histórica mato-grossense de 7,6 quilômetros quadrados registrada entre 1996 e 2005.
A mudança foi obtida por meio do aumento na produtividade e na utilização de áreas já desmatadas para o cultivo da oleaginosa, dispensando a necessidade de desmatar mais áreas de floresta. Os resultados da pesquisa em breve serão publicados na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
As informações são de um estudo internacional com participação brasileira. O trabalho teve a participação de Yosio Shimabukuro, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); de Cláudia Stickler, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e de Marcia Macedo, da Universidade de Columbia. Além deles, houve a participação de cientistas da agência espacial Nasa e do Woods Hole Research Center, dos Estados Unidos.
Os pesquisadores utilizaram no estudo dados do sensor Modis (sigla em inglês de Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), que integra o satélite Terra (conhecido como EOS-AM), lançado pela Nasa em 1999. Combinando dados do satélite com estatísticas governamentais de desmatamento e de produção agrícola no Mato Grosso nos anos 2000, os pesquisadores constataram que a queda nos índices de desmatamento na região no período de 2006 a 2010 - em um período histórico de expansão da agricultura no estado - foi causada, principalmente, por mudanças no uso da terra.
Já durante o período de 2001 a 2005, segundo eles, o aumento da produção de soja em Mato Grosso de 2001 a 2005 deve-se à expansão do cultivo da leguminosa em áreas anteriormente dedicadas à pastagem (74%), seguidas de áreas de florestas (26%).
De 2006 a 2010, 22% do aumento da produção foi obtido pelo aumento da produtividade da cultura, enquanto 78% à expansão da área de cultivo, em sua maioria (91%) em áreas que já haviam sido desmatadas. Por outro lado, o desmatamento para expansão de áreas de plantio no Estado caiu de 10% para 2% entre os períodos de 2001-2005 a 2006-2010. "A pesquisa mostra uma desvinculação entre o crescimento da produção de soja e o desmatamento no Mato Grosso que poderia servir de modelo para outros estados da Amazônia", disse Shimabukuro.
O pesquisador apontou opções para solucionar o crime ambiental. "Seria possível evitar o desmatamento nesses estados por meio da melhor utilização de áreas de plantio já disponíveis, além do aumento da produtividade da cultura, que é o que ocorre, por exemplo, na região Sudeste, onde as técnicas agrícolas são melhores", comparou.
Ações
Segundo ele, o estudo também constatou que o declínio do desmatamento no Mato Grosso entre 2006 e 2010 coincidiu com a implantação de diversas iniciativas governamentais para reduzir o desmatamento na região. Em 2004, por exemplo, o Governo Federal estabeleceu o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) e incumbiu os estados amazônicos de desenvolver e implementar seus próprios programas de controle de desmatamento.
Já em 2006, as principais entidades representativas dos produtores de soja, ONGs e governo criaram a "moratória da soja". O pacto ambiental estabeleceu o compromisso de não comercializar o grão originário de áreas desmatadas do bioma amazônico.
Finalmente, em 2008, foi criada uma "lista negra" dos municípios amazônicos com maiores índices de desmatamento. O documento impôs uma série de sanções aos desmatadores destas regiões. Entre elas, a eliminação de subsídios, redução de crédito agrícola e a exclusão da cadeia de fornecedores dos grandes exportadores. "Parte da queda do desmatamento foi causada por um controle mais rígido do governo das atividades que podem causar desmatamento, que funcionaram para todos os estados da Amazônia", disse Shimabukuro.
Fonte: Portal Amazônia, com informações da Fapesp