O desmatamento da Amazônia está perto de atingir um limite irreversível, transformando regiões da floresta tropical em cerrado, degradadas, com vegetação rala e esparsa e com baixa biodiversidade.
O alerta é do cientista Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas. Ele assina o artigo publicado na revista científica Science Advances em parceria com Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, nos Estados Unidos.
No artigo, os autores dizem que, desde a década de 1970, quando pesquisas demonstraram que a Amazônia gera metade de suas próprias chuvas, levantou-se a questão do limite de desmatamento que influísse na degradação dos ecossistemas da floresta tropical.
"O sistema amazônico está prestes a atingir um ponto de inflexão", afirmou Lovejoy à Agência Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa de São Paulo). Os primeiros modelos elaborados para responder a essa questão apontaram um ponto de inflexão com o desmatamento chegando a 40%. Novas pesquisas do Inpe reduziram esse índice entre 20% e 25%. Nesse cenário, partes da Amazônia teriam menos chuvas e secas mais longas.
"Apesar de não sabermos o ponto de inflexão exato, estimamos que a Amazônia está muito próxima de atingir esse limite irreversível. A Amazônia já tem 20% de área desmatada, equivalente a 1 milhão de quilômetros quadrados, ainda que 15% dessa área [150 mil km²] esteja em recuperação", disse o pesquisador do Inpe.