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Desertificação na Caatinga impacta em mais de 50% capacidade do solo e reduz sequestro de carbono (21 notícias)

Publicado em 28 de agosto de 2024

Por Agência Fapesp

Degradação do bioma compromete crescimento das plantas usadas tanto para o bem-estar humano quanto animal; resultados foram obtidos a partir de análises físicas, biológicas e químicas em áreas degradadas pela ação humana

Estudo na revista Applied Soil Ecology analisou o impacto da desertificação da Caatinga e constatou que a degradação reduz em mais de 50% a funcionalidade do solo reduzindo a capacidade de sustentar o crescimento das plantas e promover bem-estar humano e animal . Outra consequência apontada no artigo é a diminuição do sequestro de carbono.

A investigação foi conduzida por cientistas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa RCGI ) da Universidade de São Paulo (USP).

Foram analisadas 54 amostras de terra obtidas em temporadas de seca e de chuva , em três diferentes territórios do Núcleo de Desertificação de Irauçuba, no norte do Ceará, sendo que cada um deles conta com áreas de vegetação nativa, degradada e restaurada

A redução de mais de 50% na funcionalidade do solo foi calculada por meio de diversas análises físicas, biológicas e químicas em áreas degradadas pela ação humana . Do ponto de vista físico, observou-se um solo bastante comprometido, principalmente pela compactação causada pelo pisoteio dos animais.

“Esse fenômeno reduz a porosidade, impedindo a infiltração de água e, consequentemente, acaba acelerando o processo de erosão do solo”, explica Antonio Yan Viana Lima, doutorando na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, pesquisador do RCGI e primeiro autor do artigo.

“Do ponto de vista biológico, os indicadores de composição microbiana, teores de carbono e atividade enzimática mostraram-se favoráveis para o crescimento da vegetação e para o sequestro de carbono ”, detalha Lima. “Mas vimos pouca variação dos indicadores químicos entre as áreas estudadas, inclusive entre aquelas restauradas e degradadas. Isso demonstra que os componentes biológicos são importantes indicadores de saúde do solo, porque prontamente respondem a perturbações humanas”, complementa.

“Nas áreas restauradas , constatamos que, ao impedir a ação do homem, é possível atingir índices físicos, químicos e biológicos próximos de sua composição original ”, conta Arthur Pereira, professor da UFC e coordenador do estudo.

As áreas restauradas, segundo ele, são campos que há mais de duas décadas foram totalmente cercados no intuito de impedir a ação do homem e a circulação de animais. Nesses campos, não foi plantada nenhuma espécie, porque a proposta era verificar como e se a vegetação conseguiria se regenerar naturalmente sem essas interferências.

“O interessante é que os resultados das análises nessas áreas, em todos os aspectos, foram muito próximos do que se viu nas áreas de vegetação nativa . Assim, ao longo de duas décadas, está sendo possível recuperar a saúde do solo, o que pode ser promissor ainda para o sequestro de carbono , uma vez que essas terras registraram maiores valores de estoques de carbono total e microbiano”, afirma Pereira.

Metodologia

O estudo utilizou a ferramenta Soil Management Assessment Framework (SMAF) no semiárido . Usada para avaliar a saúde do solo, essa ferramenta se baseia em cálculos, realizados por algoritmos, que colocam os resultados dos fatores analisados em uma escala de 0 a 100, sendo 100 o mais positivo. E, a partir disso, chega a um número final que corresponde a u m índice de saúde do solo

O grupo de pesquisadores está agora expandindo a análise para os três outros núcleos de desertificação do semiárido, para verificar, com auxílio da SMAF, se a situação observada em Irauçuba representa toda a Caatinga e se há outras técnicas de recuperação de solos degradados.

Essas novas empreitadas estão sendo desenvolvidas no âmbito do projeto Caatinga Microbiome Initiative (CMI) , uma iniciativa interinstitucional, criada em 2022, que envolve mais de 20 professores e pesquisadores do Brasil e do exterior, com o objetivo de estudar o microbioma da Caatinga e sua relação com a saúde do solo.

A pesquisa está inserida no escopo de vários projetos do programa Nature Based Solution do RCGI, que é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell , com apoio de diversas empresas. Dentre as iniciativas do centro está o projeto 53, que desenvolve sistemas agrícolas integrados, uma estratégia de criar em uma mesma área uma variedade de produções, respeitando a sazonalidade de cada uma das culturas.

O artigo Grazing exclusion restores soil health in Brazilian drylands under desertification process pode ser lido em:

* Com informações do RCGI

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