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A Tribuna (Santos, SP)

Descoberto um novo elo na cadeia do clima amazônico (1 notícias)

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Até poucas semanas atrás, sempre que pesquisadores se reuniam para discutir o clima amazônico, uma questão acabava sempre em aberto. Quais componentes atmosféricos eram responsáveis pela produção de chuva sobre a floresta? Conhecer esses componentes e depois descobrir como eles agem para produção das nuvens é um passo fundamental. Numa tosca comparação, é o mesmo que saber a qualidade do combustível que você coloca no seu carro. Caso ele esteja dentro dos parâmetros já conhecidos e aprovados pelos órgãos que regulam o produto, seu veículo terá não só o desempenho esperado, como também uma vida útil de acordo com as expectativas previstas pelos fabricantes. Do contrário, é bem capaz que você acabe empurrando seu carro pela rua até uma retifica. O que os pesquisadores fizeram em relação ao clima amazônico foi mais ou menos a mesma coisa, ou seja, eles analisaram componente por componente da atmosfera até comprovarem que os índices pluviométricos (a quantidade de chuva) existentes correspondiam com os testes feitos em laboratório. Um método difícil, demorado e por isso mesmo inédito. Tão inédito que um dos resultados, mesmo fora dos objetivos primários do trabalho, acabou por reforçar a necessidade de se controlar, com urgência, a crescente supressão da vegetação, sob pena de as gerações futuras presenciarem uma drástica alteração nesse ecossistema, com reflexos mundiais. Evapotransplraçâo Os pesquisadores (ingleses, australianos e brasileiros) já sabiam que a troca da floresta por pastagens (pecuária) diminui a evapotranspiração dentro da floresta. Evapotranspiração é a combinação da evaporação da água do solo e das superfícies líquidas com a transpiração dos vegetais. Ao incluírem esse dado, ao lado de componentes atmosféricos que até então não se sabia exatamente que papéis exerciam nesse quebra-cabeça climático, percebeu-se que "também o desmatamento diminui a quantidade de núcleos de condensação de nuvens", explica Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), co-patrocinadora do trabalho. Núcleos de condensação de nuvens são um conjunto de partículas atmosféricas que, entre outros fatores, determina a produção de chuvas, seja na Amazônia ou sobre a Baixada Santista - uma das regiões, aliás, com maior índice pluviométrico de todo o País. "O enfraquecimento do ecossistema, provocado pela derrubada da floresta, poderá diminuir bastante o regime de chuvas na região e trazer, inclusive, períodos de seca. A única saída é reduzir esse ritmo", acredita Artaxo.