Pesquisadores brasileiros anunciaram a descoberta do fóssil da formiga mais antiga já registrada pela ciência.
O exemplar, que recebeu o nome Vulcanidris cratensis, foi encontrado na Formação Crato, na Chapada do Araripe, interior do Ceará, e tem cerca de 113 milhões de anos, superando em 13 milhões de anos os fósseis mais antigos conhecidos até então.
A descoberta, publicada na revista Current Biology, foi feita por cientistas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). O fóssil pertence à linhagem extinta das chamadas "formigas-do-inferno", conhecidas por suas mandíbulas longas e especializadas, usadas para prender ou perfurar presas. Essas formigas, que não possuem descendentes vivos, viveram durante o período Cretáceo, época em que dinossauros ainda habitavam o planeta.
Com cerca de 1,35 centímetro de comprimento, a Vulcanidris cratensis apresentava características curiosas: além das mandíbulas verticais, possuía asas e um ferrão desenvolvido, similar ao de uma vespa, o que indicava capacidade de voo e defesa ativa. Segundo o entomologista Anderson Lepeco, principal autor do estudo, a aparência do inseto poderia facilmente ser confundida com a de uma vespa por olhos não treinados.
O fóssil estava preservado em rocha calcária, escavada possivelmente entre os anos 1980 e 1990, e permaneceu durante décadas em uma coleção particular até ser doado ao MZUSP. Ao analisar a peça, Lepeco identificou semelhanças com formigas-do-inferno preservadas em âmbar da França e de Myanmar. No entanto, esta é a primeira vez que fósseis desse tipo são encontrados fora de âmbar e em sedimentos calcários.
A descoberta reforça a teoria de que as formigas surgiram há pelo menos 120 milhões de anos, podendo remontar até 168 milhões de anos, conforme estimativas moleculares. Também sugere que, já naquela época, as formigas exibiam uma ampla distribuição geográfica e adaptações ecológicas distintas.
O habitat da Vulcanidris era diverso. Fósseis da mesma formação indicam a presença de insetos, répteis voadores, tartarugas, crocodilos, aves primitivas e dinossauros, como o Ubirajara, predadores que possivelmente ameaçavam essas formigas.
Além do impacto paleontológico, o estudo reforça a importância da Chapada do Araripe como um dos principais sítios fossilíferos do mundo.
A Formação Crato, onde o fóssil foi encontrado, já revelou importantes fósseis de plantas e animais, possibilitando a reconstrução de ecossistemas antigos.
Atualmente, as formigas representam um dos grupos mais abundantes da Terra, com uma população estimada em 20 quatrilhões de indivíduos.
Elas exercem funções ecológicas essenciais, como controle de populações de outros organismos, herbivoria e polinização.
"Elas desempenham papéis fundamentais na maioria dos ecossistemas terrestres. Entender sua origem nos ajuda a compreender a evolução das dinâmicas ecológicas globais", afirmou Lepeco.