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Desastre de Mariana pode ter extinguido espécies raras (1 notícias)

Publicado em 08 de maio de 2016

As consequências do desastre ambiental de Mariana, em Minas Gerais, podem ser ainda mais graves. De acordo com pesquisadores brasileiros, o acidente pode ter dizimado espécies raras, pouco estudadas ou completamente desconhecidas, que habitavam as regiões tomadas pela lama tóxica vazada da barragem de minério de ferro, em novembro de 2015.

A teoria foi apresentada pelos pesquisadores Antonio Carlos Marques, diretor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar-USP), e Lucília Souza Miranda, pós-doutoranda no Instituto de Biociências (IB-USP), no artigo Impactos ocultos do rompimento da barragem de minérios da Samarco que colapsou a fauna marinha brasileira, publicado na revista BIOTA Neotropica.

O fio condutor do estudo é o desaparecimento da espécie de água-viva extremamente raraKishinouyea corbini Larson, que ocorria unicamente na Praia dos Padres, em Aracruz (ES), uma das regiões atingidas pela lama tóxica. Há registros de ocorrência da espécie em praia de alguns países do Caribe e no arquipélago baiano de Abrolhos, mas as regiões não tinham comunidades da espécie já estabelecidas. Portanto, é possível que a K. corbini tenha sido extinta pelo desastre de Mariana.

Esta espécie de água-viva foi a primeira da classe Staurozoa – proposta pelo própria Marques, há dez anos – registrada no Brasil. Entre algumas peculiaridades, a K. corbiniera a única espécie de água-viva conhecida que vivia com a boca para cima, enquanto a maioria das águas-vivas tem a boca virada para baixo. “Todas essas particularidades dessa população de água-viva, que poderiam trazer informações únicas sobre a química, a morfologia e o contexto ecológico de todo o grupo e nos auxiliar a aumentar a compreensão sobre a vida em ambientes com diferenciação ecológica afetados pelas mudanças climáticas, podem ter sido perdidas”, explicou Marques, em entrevista à Agência Fapesp.

Algumas informações da espécie foram estudadas no pós-doutorado de Miranda, então, caso a água-viva tenha mesmo sido extinta, ao menos algum registro permanecerá. “É como se diversas páginas cruciais para a compreensão de um livro tivessem sido arrancadas e seremos obrigados, a partir de agora, a lê-lo sem ter acesso a esses trechos essenciais”, disse Marques.

Como se as notícias não fossem já suficientemente ruins, Marques previu consequências ainda mais desastrosas ao ecossistema das regiões afetadas pela lama tóxica: “É evidente que muitos animais, algas e plantas vão desaparecer em razão da formação de depósitos espessos de sedimentos porque não estavam preparados para lidar com catástrofes dessa magnitude. O desastre ambiental de Mariana equivaleria a catástrofes como erupções de vulcões em pequenas ilhas, que dizimam uma extensa gama de habitantes das vizinhanças”.

No estudo, o pesquisador aproveitou a oportunidade para alertar sobre a falta de cuidado das autoridades brasileiras com o meio ambiente. Para Marques, o desastre de Mariana não foi um caso isolado: “[O caso] demonstra uma desconsideração com a sustentabilidade e a conservação de ambientes que serão vitais no futuro e é decorrente de uma política ambiental que precisa ser muito melhorada em todos os níveis”.

É possível ler o artigo escrito pelos pesquisadores, na íntegra, clicando neste link.

*Com supervisão de Nathan Fernandes