O primeiro mês de 2025 registrou um total de 170.376 casos prováveis de dengue em todo o país, além de 38 mortes confirmadas e 201 óbitos em investigação para a doença. É uma queda de 58% em relação ao ano passado, embora alguns estados, como
São Paulo, mostrem alta nas infecções.
Na entrevista, o secretário cita outras ações do Ministério , assim como os motivos que fizeram de 2024 um ano tão trágico para o país em relação à dengue.
Confira a entrevista na íntegra
Podemos ter certeza de que 2025 será, ao menos, menos pior que 2024?
Certeza nós não temos, mas considerando as ações que têm sido desenvolvidas em todo esse período, sobretudo de setembro para cá, eu fico de certa forma otimista em relação ao que nós vivenciamos em 2024.
E por que eu estou otimista? Em primeiro lugar, porque nós estamos observando que um dos fatores fundamentais para esse grande número de casos de dengue foi decorrente, em parte, de um processo ainda como consequência do que nós vivenciamos durante a pandemia da covid-19.
O que aconteceu no início do ano de 2020, diante da decretação de uma pandemia foi uma recomendação dos gestores das secretarias municipais estaduais e mesmo do Ministério da Saúde, corretamente, de que aquela atividade de casa a casa do agente de controle de endemias fosse suspensa para evitar a possibilidade de disseminação do vírus
Fato é que 2020, 2021 e 2022, praticamente durante esses anos, não houve esse trabalho casa a casa que é fundamental, é aquele trabalho que vai vistoriar as casas, que vai esclarecer o cidadão, a cidadã sobre os potenciais focos de proliferação do mosquito.
E esse trabalho foi sendo retomado paulatinamente, mas muito lentamente, durante o ano de 2023. Quando nós chegamos no final de 2023, os índices de infestação do Aedes aegypti em algumas localidades do Brasil estavam muito elevados.
Essa grande elevação associada às mudanças climáticas e à circulação dos quatro sorotipos ao mesmo tempo no Brasil fizeram com que houvesse essa grande quantidade de casos de dengue.
Neste ano de 2025, o trabalho casa a casa já foi retomado numa intensidade muito grande.
E aí, para finalizar, entra o papel desse Centro de Operações de Emergência, que, neste ano de 2025, ele foi instalado antes de qualquer emergência, com uma forma preventiva para que nós tomássemos todas as medidas e implementássemos todas as ações necessárias para evitar entrar em emergência.
O Brasil já adquiriu quase 10 milhões de doses de vacina. Ela vai ser uma solução?
A vacina contra a dengue é uma das vacinas que mais houve pesquisas ao longo dos últimos 70 anos. Na realidade, são quatro vacinas, porque são quatro sorotipos do vírus. Então ela tem que proteger contra a dengue sorotipo 1, 2, 3 e 4.
Para que nós tenhamos uma ideia, a primeira equipe que começou a buscar uma vacina para dengue foi um grupo de pesquisadores que começou ali, mais ou menos, em 1945. Essa equipe trabalhou durante mais ou menos oito anos.
Eles desistiram e foram estudar vacina para outra doença, no caso, a vacina para poliomielite.
Nós só obtivemos essa vacina da dengue em 2020, 2022, numa escala um pouco maior.
No entanto, há uma limitação importante na velocidade de fabricação dessa vacina. Então nós compramos toda a produção que o laboratório disponibilizou para 2025, 9 milhões e 500 mil doses.
Como são duas doses por pessoa, nós vamos vacinar 4 milhões e 250 mil pessoas, muito pouco para a população do Brasil, mas já é um avanço do ponto de vista científico.
Já a vacina do Butantan, é fantástica, é dose única, o que facilita muito e estamos convictos de que ela, eu conheço parte da pesquisa que foi desenvolvida de altíssima qualidade, ela indiscutivelmente será registrada pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e esperamos, no final de 2025, início de 2026, já teremos disponível para a população brasileira essa nova vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan.
O que podemos falar sobre reinfecção de dengue?
O que a ciência já identificou é que quando você é infectado por um sorotipo do vírus da dengue, você vai desenvolver uma proteção, vai desenvolver anticorpos por toda a vida contra aquele sorotipo que te infectou naquele momento e vai desenvolver uma proteção cruzada contra os outros três tipos por um período de três, quatro meses em média.
Então, por exemplo, quem teve dengue em dezembro, dificilmente terá dengue de novo em janeiro ou fevereiro. Excepcionalmente pode acontecer, mas é muito raro.
Pelo sorotipo infectante, é por toda a vida para diante.
Durante muito tempo, houve uma hipótese que dizia que uma pessoa que teve dengue uma vez, quando ela tivesse dengue pela segunda vez, essa forma poderia ser muito mais grave.
O que nós temos observado é que não é bem assim. Se você colocar 100 pessoas que estão com dengue grave em uma sala, provavelmente 95% dessas pessoas estarão tendo dengue pela segunda vez.
Mas, se você fizer o inverso, colocar numa mesma sala, 100 pessoas que estão tendo dengue pela segunda vez, somente três, no máximo cinco, vão estar com a forma grave.
Algumas pessoas, por características individuais da resposta do seu sistema imunológico, quando estão tendo dengue pela segunda vez, essa forma poderá ser mais grave.
As mudanças climáticas influenciaram no impacto da dengue no Brasil?
Com certeza, a influência das mudanças climáticas, seja do ponto de vista das chuvas, seja da elevação da temperatura média em algumas localidades do Brasil ano passado, impactou.
Praticamente nós não tivemos inverno, locais onde tradicionalmente havia temperaturas baixas durante o inverno.
Nós estamos vendo agora, por exemplo, uma cidade como Curitiba, talvez a cidade com o maior número de casos de dengue em 2025 de todo o estado do Paraná, mais do que Londrina na região Oeste, Noroeste do Paraná, que é uma região quente. Isso demonstra o efeito das mudanças climáticas.