O número de casos prováveis de dengue no Brasil em 2024 atingiu 6,5 milhões entre 1º de janeiro e 7 de outubro , segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde
Esse aumento representa um crescimento de em relação ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 1,3 milhão de casos . O coeficiente de incidência atual é de 3.221,7 casos por 100 mil habitantes , muito acima da taxa de 300 por 100 mil que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera caracterizar uma epidemia.
Neste período, a dengue provocou 5.536 mortes , com outros 1.591 óbitos ainda sob investigação. Em 2023, ao longo de todo o ano, o país registrou 1,6 milhão de casos e 1.179 mortes
Queda nos casos desde abril, mas ainda há riscos
Apesar do aumento significativo, houve uma redução nas infecções a partir de abril , durante a 16ª semana epidemiológica . Até a 40ª semana , em agosto, a curva de contágio apresentou tendência de queda, mas com algumas oscilações pontuais.
O estado de São Paulo concentrou dos casos registrados em 2024, totalizando 2,1 milhões de infecções e 1.786 mortes . Outros 831 óbitos seguem em investigação. Na capital paulista, foram notificadas 639.066 infecções e 365 mortes , além de 476 casos sob análise . No último dia 7 de outubro, a Prefeitura de São Paulo revogou a situação de emergência em decorrência da melhora no cenário.
Especialistas alertam para novos riscos e necessidade de prevenção
O infectologista Antonio Carlos Bandeira , da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), acredita que os números da dengue devem se manter baixos até dezembro, mas alerta para um possível aumento a partir de março e abril de 2025. “Neste ano, tivemos um platô alto por vários meses. Não é possível prever se isso voltará a ocorrer no próximo ano”, observou.
Bandeira também destacou a importância de estratégias abrangentes no combate ao mosquito Aedes aegypti , como o uso de larvicidas , ações ambientais e cuidados diretos com os pacientes. Ele defende que o uso de mosquitos transgênicos e a colaboração com empresas privadas sejam ampliados: “O governo não tem recursos suficientes para resolver tudo sozinho”.
Outro ponto crítico, segundo o especialista, é a vacinação contra a dengue . “A campanha realizada pelo Ministério da Saúde foi tímida. É essencial expandir a vacinação e incluir a imunização no Programa Nacional de Imunizações (PNI). A vacina do Butantan também precisa ser acelerada pela Anvisa, pois será uma ferramenta importante na prevenção.”
Aumento dos casos pode ser favorecido por fatores climáticos
A médica Andyane Tetila , presidente da Sociedade de Infectologia de Mato Grosso do Sul, alerta que fatores climáticos como chuvas, umidade e calor intenso favorecem a proliferação do mosquito transmissor da dengue. “Precisamos iniciar as ações preventivas o quanto antes, orientando a população a evitar o acúmulo de água em casa e adotando políticas públicas eficazes “, disse. Ela também destacou a importância do método Wolbachia , uma tecnologia que reduz a replicação do vírus nos mosquitos.
Tetila chama a atenção para a possível circulação dos subtipos 3 e 4 da dengue em 2025, já que em 2024 prevaleceram os tipos 1 e 2. “Caso esses subtipos retornem, muitas pessoas ainda estarão vulneráveis. A circulação do subtipo 3 em alguns estados e o surgimento de casos do subtipo 4 também representam uma preocupação para o próximo ano.”
Imunidade populacional e desafios na gestão pública
Carlos Magno Fortaleza , presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) e professor da Unesp, apontou que o crescimento da dengue nos últimos dois anos é resultado de condições climáticas favoráveis e do desmonte das políticas de controle de doenças durante o governo Bolsonaro. “A inteligência epidemiológica e o sistema de controle de doenças foram desmantelados, afastando profissionais qualificados e comprometendo a coordenação entre os níveis municipal e estadual”, criticou Fortaleza.
Ele ressaltou que a reconstrução das políticas públicas de saúde é um desafio complexo: “A harmonia que existia na construção do SUS desde os anos 1980 não será recuperada apenas com boa vontade. A fragmentação das políticas durante o período de polarização deixou marcas que exigem um esforço coordenado para serem superadas”, completou.
Fortaleza observou que, embora a vacinação ainda seja limitada, a imunidade adquirida pela população em 2024 pode ajudar a frear novos surtos no próximo ano. “Se os mesmos subtipos continuarem circulando, muitas pessoas já estarão imunizadas pela infecção anterior, o que pode reduzir a gravidade dos casos.”
Prevenção e perspectiva para 2025
Com a expectativa de que novos surtos possam ocorrer em 2025, especialistas recomendam a intensificação das ações de prevenção e educação para evitar o acúmulo de água parada, além da ampliação das campanhas de vacinação e uso de tecnologias como o método Wolbachia e mosquitos transgênicos.
Este conteúdo é produzido em parceria com a Umane , associação que apoia projetos voltados à saúde pública.
Da Redação (Fonte: Pholhapress)