Do UOL, em São Paulo O Brasil vive uma explosão no número de casos de dengue , com mais de 1,8 milhões de registros prováveis e 11 estados que já decretaram situação de emergência por causa da alta incidência da doença entre os habitantes. Mesmo assim, a adesão à vacina ainda patina no país.
O que aconteceu
Pouco mais de um mês depois do início da vacinação, apenas 30,8% das doses distribuídas foram aplicadas até quinta-feira (14). Segundo o Ministério da Saúde, de 9 de fevereiro até semana passada, 381.029 doses foram aplicadas de um total de 1.235.236 já distribuídas.
Falta de percepção do risco, fake news e comunicação pouco efetiva estão entre os fatores citados por especialistas ouvidos pelo UOL que ajudam a explicar a baixa vacinação. "Tem uma questão de percepção de risco que a criança talvez não seja tão acometida pela doença. Também tem um problema de questão logística, é uma faixa etária muito estreita, com doses chegando picadas", avalia Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
"Vacinas sofreram ataque covarde e fraudulento com fake news e pseudociência." A afirmação é de Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Isso acabou, infelizmente, respingando em todas [as vacinas]."
O Ministério da Saúde diz ter comprado todo estoque disponível de vacinas contra a dengue em 2024 e 2025. A pasta informou coordenar um esforço para ampliar o acesso ao imunizante, solicitou prioridade para essa ação e diz que atuará em conjunto com o Instituto Butantan e a Fiocruz para expandir a produção de vacinas para o Brasil.
Público-alvo das vacinas em 2024 é formado por crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O grupo concentra o maior número de hospitalizações por dengue, depois de pessoas idosas. Inicialmente, a Saúde havia recomendado que a vacinação começasse em pessoas de 10 a 11 anos, mas ampliou a faixa etária diante da baixa procura.
Há dificuldade de levar crianças e adolescentes para as unidades de saúde. "A literatura médica mostra que para todos os tipos de vacina é muito difícil levar essa faixa etária para a sala de vacinação, tanto por conta da agenda dele como da família", explica Isabella Ballalai segunda-secretária e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Os médicos avaliam que vacinar nas escolas seria importante para aumentar a cobertura. O governo federal, no entanto, passou a recomendar que a imunização ocorra nas unidades de saúde após registros de reações alérgicas. A nova recomendação é a de que sejam feitas observações por 15 a 30 minutos após a aplicação. Apesar desses registros, a vacina é considerada segura.
O Brasil bateu ontem o recorde de contaminações pela doença em um ano. Foram registrados 1.889.206 casos prováveis de dengue em 2024 . No mesmo período do ano passado, eram 400.197.
A vacinação segue caminhando bem, em alguns lugares um pouco mais rápido, em outros lugares um pouco mais lento. Agora, eu diria que a gente tem uma limitação porque nós estávamos nos programando para incorporar na estratégia de vacinação na escola e, com os casos [de reações alérgicas] que nós identificamos logo nos primeiros momentos do nosso sistema de farmacovigilância , a gente está orientando para que essa vacinação seja feita nas unidades de saúde.
Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente
Nem todos os estados receberam imunizantes
Das 27 unidades federativas do Brasil, apenas 16 estados e o Distrito Federal receberam vacinas. O Ministério da Saúde usou como critério para a distribuição regiões formadas por municípios de grande porte, ou seja, com mais de 100 mil habitantes, com alta transmissão da dengue registrada em 2023 e 2024 e com maior predominância do sorotipo DENV-2 (a dengue tem quatro sorotipos).
Das 17 unidades contempladas, nove já declararam situação de emergência. São elas: Acre, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Amapá e Rio Grande do Sul completam a lista de estados com decretos de emergência publicados, mas não receberam doses.
Apenas 521 municípios foram selecionados para o recebimento das duas primeiras remessas de imunizantes. Segundo a Saúde, 3.108.280 pessoas fazem parte do público-alvo de 10 a 14 anos. A cidade de São Paulo não recebeu nenhuma dose, segundo a prefeitura — a capital entrou em estado de emergência ontem
É preciso fazer a informação chegar adequadamente. Como é uma vacina que não está disponível para todos, apenas de algumas cidades, às vezes isso fica dúbio.
Marco Aurélio Sáfadi , presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
Prioridades para a vacinação
Foi preciso definir prioridades para a vacinação porque o laboratório tem uma produção limitada de doses. A única vacina aprovada no país é a Qdenga , da empresa japonesa Takeda Pharma . O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.
Dados da vacina disponíveis limitam-se à população com até 60 anos. No Brasil, ela foi aprovada pela Anvisa, em março de 2023, para prevenção da dengue causada pelos quatro sorotipos do vírus, para indivíduos de 4 a 60 anos , independentemente da exposição anterior à dengue.
No caso da dengue, a vacina não é resposta imediata para a epidemia. A principal justificativa é o intervalo de três meses entre as duas doses. Por ter um tempo mais longo, a imunização não é vista como a solução para a situação de emergência. "A vacina terá um impacto restrito", disse a ministra Nísia Trindade, em fevereiro. " Não podemos vender ilusão
Estamos vivendo a maior epidemia de dengue da história do Brasil. Precisa haver sensibilização, vacinar é um ato de amor, não tem outra forma de resumir.
Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
Como se proteger
Fique atento aos sintomas:
Febre alta;
Dor no corpo e nas articulações;
Dor atrás dos olhos;
Mal-estar;
Dor de cabeça; e
Manchas vermelhas no corpo.
Em caso de sintomas, procure uma UBS (Unidade Básica de Saúde). Não faço uso de medicamentos sem conhecimento médico.
A dengue é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti Por isso, a melhor forma de evitar a transmissão é combater a proliferação do inseto. Para isso, o importante é eliminar possíveis locais de armazenamento de água como manter a caixa d'água fechada e encher até a borda os pratos das plantas com areia.
É importante também usar repelente. Colocar no lixo todo objeto não utilizado que possa acumular água também é uma recomendação dos especialistas. Além disso, é preciso manter as calhas limpas e não deixe água acumulada sobre a laje.