A dengue segue como um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil em 2025, com um aumento expressivo no número de casos e mortes.
Projeções do Ministério da Saúde apontam que, em 2025, haverá aumento na incidência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná. Esses dados preocupam, pois 2024 já foi de números recordes, com mais de 6,4 milhões de casos registrados.
Em todo o país, na última quinta-feira, dia 30, a estimativa de casos prováveis pulou de 139 mil para 169 mil casos. As mortes aumentaram de 21 para 37 em 3 dias. Os óbitos em investigação no Brasil eram 160 no último dia 27 de janeiro. Já no dia 30, o número foi para 200, sendo 138 deles em São Paulo. A informação está no painel do Ministério da Saúde, que acompanha a evolução da doença no país.
O monitoramento realizado pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo indica 102 mil casos prováveis, com 45.000 deles já confirmados. A pasta confirma 21 mortes, 11 delas de pessoas com mais de 65 anos. No Estado já são 44 os municípios que decretaram estado de emergência.
O Ministério da Saúde atribuiu o aumento dos casos à circulação do sorotipo 3 da dengue, que está em expansão desde julho do ano passado. Segundo o secretário adjunto da SVSA, essa variante do vírus tem sido determinante no aumento do número de infecções, especialmente em São Paulo e, em menor escala, no Paraná.
A evolução da Dengue nos últimos anos
Os números de 2025 dão continuidade a uma tendência de alta. Em 2024, o país contabilizou 6,48 milhões de casos prováveis e 5.972 mortes, um crescimento alarmante em relação a 2023, quando houve 1,3 milhão de infecções e 1.179 óbitos. Esse aumento de 400% reforça a necessidade de medidas eficazes para conter a proliferação do Aedes aegypti.
Entenda o sorotipo 3 do vírus da Dengue
O sorotipo 3 do vírus da dengue (DENV-3) é uma das quatro variantes do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Cada sorotipo é geneticamente distinto, mas todos podem causar a doença.
Aqui estão algumas diferenças e particularidades do DENV-3:
Variabilidade genética – O DENV-3 possui sublinhagens diferentes, e algumas podem estar associadas a surtos mais severos.
Resposta imunológica – A infecção por um sorotipo gera imunidade duradoura contra ele, mas não contra os outros. Isso significa que, se uma pessoa teve dengue pelo DENV-1, DENV-2 ou DENV-4, ela ainda pode ser infectada pelo DENV-3, o que pode aumentar o risco de formas graves da doença devido ao fenômeno da amplificação dependente de anticorpos (ADE).
Histórico de surtos – O DENV-3 esteve ausente em muitas regiões por anos, e quando retorna, pode causar epidemias significativas, pois a população tem baixa imunidade a ele.
Gravidade da doença – Embora todos os sorotipos possam causar dengue grave, algumas pesquisas indicam que surtos de DENV-3 podem estar associados a um maior número de casos graves e hospitalizações, especialmente em pessoas que já tiveram dengue por outro sorotipo.
O papel da vacinação contra a dengue
Para enfrentar essa crise, o Ministério da Saúde expandiu a vacinação contra a dengue, adquirindo 9,5 milhões de doses da vacina Qdenga.
O imunizante está disponível no SUS para crianças de 10 a 14 anos, grupo prioritário devido ao risco elevado de desenvolver sintomas graves. No entanto, a produção global ainda limita a ampliação para outras faixas etárias.
Em dezembro do ano passado, o Instituto Butantã solicitou o registro da sua vacina contra dengue para a Anvisa da vacina Butantan-DV, como é chamado o imunizante, é a primeira opção de vacina contra a doença que pode ser aplicada em uma única dose. Ela é tetravalente – com proteção contra os 4 tipos da dengue – e poderá ser aplicada em pessoas entre 2 anos de idade e 60 anos incompletos.
Prevenção e controle: medidas fundamentais
Especialistas alertam que a prevenção continua sendo a melhor estratégia contra a dengue. Regiane Gonzalez, enfermeira e responsável pela área de Prevenção de Infecções Relacionadas à Saúde da Oleak, reforça que a adoção de boas práticas de higiene e sanitização é essencial, especialmente em ambientes hospitalares e de grande circulação de pessoas.
“A limpeza adequada e o uso de desinfetantes eficazes ajudam a eliminar criadouros do Aedes aegypti, evitando que o mosquito se prolifere. Além disso, é fundamental a conscientização da população para eliminar água parada em qualquer ambiente”, destaca Regiane Gonzalez.
Regiane reforça que a dengue não é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de pessoa para pessoa, além de também não ser transmitida através do consumo de alimentos ou água. A transmissão da dengue é exclusivamente através da picada do mosquito infectado.
O Ministério da Saúde também implementou o Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika, com medidas como a ampliação do método Wolbachia (Uma solução contra arboviroses em que mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia não transmitem dengue, zika e chikungunya. Essa tecnologia inovadora reduz a propagação dessas doenças de forma natural e sustentável), aplicado em 40 municípios, e a instalação de estações disseminadoras de larvicidas.
Perspectivas para 2025
Especialistas preveem um novo pico entre março e abril. Condições climáticas favoráveis, como calor e chuvas constantes e fortes neste início de ano, criam um ambiente propício para a proliferação do Aedes aegypti.
A especialista da Oleak reforça que a dengue em 2025 segue como um grave problema de saúde pública no Brasil, com números alarmantes de casos e óbitos. O avanço da vacinação representa um importante passo no combate à doença, mas, diante da expansão do sorotipo 3 do vírus e das condições climáticas favoráveis à proliferação do Aedes aegypti, a prevenção continua sendo a principal estratégia para conter novos surtos.
A conscientização da população sobre a eliminação de criadouros, o investimento em tecnologias como o método Wolbachia e a ampliação da cobertura vacinal são medidas fundamentais para reduzir os impactos da dengue. A participação ativa de instituições, governo e sociedade será decisiva para enfrentar os desafios impostos pela doença e evitar que novos casos sejam registrados nos próximos anos.