Em 2024, a dengue atingiu números inéditos no estado de São Paulo , com mais de 2 milhões de casos confirmados e quase 2 mil óbitos, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Esses são os maiores índices registrados desde o início da série histórica em 2000.
De acordo com o infectologista Ralcyon Teixeira, do Instituto Emílio Ribas, fatores como o ciclo natural de doenças virais, a circulação de múltiplos tipos do vírus e mudanças climáticas contribuíram para esse cenário.
"A previsão para 2025 é ainda mais preocupante, com possibilidade de um aumento nos casos em relação a 2024", alerta o especialista.
Uma epidemia sem precedentes
Os números impressionam em âmbito nacional: até dezembro de 2024, mais de 6 milhões de casos foram confirmados no Brasil, resultando em 5 mil mortes, o maior número já registrado.
Ralcyon Teixeira destaca que a característica cíclica do vírus é um dos principais fatores. "A dengue apresenta picos de infecção, mas, desde os anos 2000, os aumentos têm sido mais expressivos, enquanto as quedas não acompanham a mesma proporção", explica.
Além disso, os quatro tipos do vírus (Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4) intensificam o problema. Em São Paulo , a circulação simultânea dos tipos 1 e 2, seguida pelo aumento do tipo 3 nos últimos meses de 2024, elevou os casos de reinfecção e dificultou o combate à doença.
Impacto do clima e falhas na prevenção
O aumento das temperaturas e as chuvas intensas, agravados pelo fenômeno El Niño, criaram condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti , vetor da dengue . Estudos indicam que o aquecimento global tem impacto mais significativo no avanço da doença do que a chuva, mas a combinação de ambos amplifica os riscos.
Stefan Cunha Ujvari, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ressalta que as condições climáticas foram determinantes em 2024. "A epidemia depende de fatores como temperaturas elevadas e períodos chuvosos, que favorecem a reprodução do mosquito", afirma.
Por outro lado, especialistas apontam falhas nas políticas públicas como um agravante. Para o virologista William M. de Souza, professor da Universidade do Kentucky, e o pesquisador Leonardo Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), campanhas de conscientização ineficazes prejudicaram o combate à dengue
"A comunicação sobre doenças infecciosas no Brasil tem deixado muito a desejar", avalia Bastos.
Com a curva de casos ainda em alta e previsões sombrias para 2025, especialistas defendem ações urgentes para mitigar os impactos da doença e melhorar as estratégias de prevenção em todo o país.
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