Governo comprou todo o estoque mundial disponível, totalizando 5,2 milhões de doses; além disso, recebeu 1,3 milhão de doações
Dados revelam uma disparidade significativa na adesão ao esquema vacinal contra a dengue no Brasil. Das mais de 3,3 milhões de doses aplicadas, 2.372.724 foram de primeira dose (D1) e 955.106 de segunda dose (D2), o que corresponde a uma diferença de 148,43%. Esses números, enviados ao R7 pelo próprio Ministério da Saúde, destacam um dos principais desafios para alcançar a proteção completa contra a dengue e efetivar a campanha de vacinação. Até o dia 10 de fevereiro, o Ministério da Saúde tinha distribuído mais de 6,5 milhões de doses pelo país.
“O esquema vacinal exige duas doses com intervalo de três meses para garantir a eficácia completa da vacina contra a dengue. No entanto, a adesão à segunda dose tem sido significativamente menor do que à primeira. Isso compromete a proteção da população, o que é preocupante, já que a vacina sozinha não resolve o problema, sendo necessária a imunização completa”, explicou Eder Gatti, diretor do PNI (Programa Nacional de Imunizações) ao R7
Nessa terça (24), o Ministério da Saúde anunciou que a vacina brasileira contra a dengue , que é administrada em uma única dose, será distribuída a partir de 2026. O imunizante é desenvolvido em parceria do Instituto Butantan com a empresa WuXi Biologics. A vacina também terá a faixa etária ampliada e atenderá pessoas de 2 a 59 anos.
Atualmente, o imunizante que está disponível foi adquirido pelo Ministério da Saúde em parceria com diversos laboratórios e é aplicado em duas doses. O governo federal comprou todo o estoque mundial disponível, totalizando 5,2 milhões de doses, e recebeu 1,3 milhão de doses doadas para o ano de 2024, além de 9,5 milhões de doses adquiridas para 2025. Apesar disso, a baixa adesão à segunda dose tem sido um obstáculo no alcance das metas de imunização, algo que reflete a complexidade da estratégia de vacinação.
A escolha da faixa etária entre 10 e 14 anos como público-alvo da vacina contra a dengue foi feita com base nas orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que aponta essa faixa como a que concentra o maior número de hospitalizações devido à doença. No entanto, Gatti destaca que essa população tem histórico de baixa adesão a vacinas em geral, o que contribui para a dificuldade de alcançar os objetivos da campanha.
“É desafiador vacinar adolescentes, porque essa faixa etária tem uma adesão um pouco menor às vacinas de forma geral. Sabemos que vacinar adolescentes exige mais esforço e estratégias diferenciadas”, afirmou Gatti.
O Ministério da Saúde, diante desse cenário, tem adotado várias estratégias para aumentar a cobertura vacinal, como a vacinação nas escolas, tática que já se mostrou eficaz para outras vacinas, como a do HPV. No entanto, por questões de segurança, o imunizante contra a dengue não pode ser aplicado em ambientes escolares. Isso se deve ao risco de reações alérgicas que podem ocorrer nos primeiros minutos após a vacinação.
“Para contornar esse problema, os municípios têm sido incentivados a realizar a checagem das cadernetas de vacinação nas escolas e, quando necessário, encaminhar os adolescentes para as unidades de saúde para receber a vacina”, explica Gatti.
Plano de ação
A vacinação, apesar de ser uma ferramenta importante, não é a principal estratégia do Ministério da Saúde no combate à dengue. A prevenção continua sendo a ação mais eficaz. O Ministério da Saúde lançou o Plano de Ação para Redução da Dengue e Outras Arboviroses, que prevê o uso de tecnologias inovadoras para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
Entre as tecnologias adotadas estão o método Wolbachia, Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) para áreas de difícil acesso, e a Técnica do Inseto Estéril por Irradiação (TIE-Irradiado) em aldeias indígenas. A borrifação residual em imóveis públicos com grande circulação de pessoas também está sendo aplicada como parte da estratégia de controle.
Em nota oficial, o Ministério da Saúde destacou que a melhor forma de combater à dengue é por métodos preventivos. “A prevenção continua sendo a principal medida eficaz contra a dengue. O Ministério da Saúde está comprometido em intensificar as ações de controle do vetor e reforçar a conscientização da população”, afirmou a pasta.
Apesar dos desafios, o governo federal segue trabalhando para ampliar a cobertura vacinal. “A expectativa é que, com a intensificação da distribuição da vacina e a ampliação das estratégias de conscientização, mais pessoas completem o esquema vacinal completo contra a dengue. A continuidade das campanhas educativas e o controle efetivo do mosquito Aedes aegypti são fundamentais para reduzir os impactos da doença no país.”
Mortes por dengue durante 2024
Entre janeiro e dezembro de 2024, o Brasil registrou 6.041 mortes causadas por dengue , com 875 óbitos ainda em investigação. Foram 6.644 milhões de casos prováveis da doença, mais de quatro vezes o número registrado em 2023.
Segundo dados do painel de monitoramento do Ministério da Saúde , foram mais de 16 mortes por dia.
De acordo com boletins do Ministério da Saúde, no ano passado, o Brasil registrou 163 mortes em janeiro, 227 em fevereiro, 601 em março, 1.082 em abril e teve o ápice em maio, com 1.344 óbitos. A partir daí, os registros entraram em queda até setembro, mês com 191 mortes, e voltaram a subir em outubro.
Segundo a pasta, o maior registro de mortes não coincide com o pico da doença por causa da demora na confirmação do óbito, que pode ser investigado por até 60 dias.
Casos em 2024
O ano passado começou com números elevados de casos. Ainda no primeiro mês, o Distrito Federal declarou estado de emergência no âmbito da saúde pública. A mesma situação chegou a 11 unidades federativas com emergência decretada no momento de alta dos casos.
Ocorreram 411 mil casos em janeiro, e fevereiro teve um salto para mais de um milhão, chegando no ápice em março, com 1,747 milhão. Abril iniciou um período de queda que foi até setembro, com uma leve subida em outubro e novembro.
Confira abaixo na tabela: