Estudo identifica que as demandas brasileiras pesam mais no desmatamento da Amazônia do que as exportações; menos de 17% da devastação acontece por necessidades econômicas locais.
As pressões econômicas são o principal fator por trás do desmatamento da Amazônia nas últimas décadas. Um novo estudo traz um dado inédito sobre a proporção do impacto entre demandas nacionais e internacionais: de acordo com a análise, o consumo brasileiro tem um peso maior do que a demanda externa na devastação amazônica.
Segundo o estudo, apenas 17% do desmate é provocado pelo consumo interno amazônico. Todo o restante (83%) decorre da demanda econômica fora da Amazônia – 60% estão relacionados com o consumo brasileiro e somente 25% visam o comércio internacional.
O estudo foi publicado na revista Nature Sustainability por cientistas das universidades de São Paulo (USP) e Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do World Resources Institute (WRI). Os autores sustentam que as informações sobre o desmatamento a partir da demanda por recursos amazônicos pode facilitar a construção e a implementação de políticas públicas mais eficientes para combater o desmatamento da maior floresta tropical do mundo.
A metodologia adotada no estudo baseou-se em especial na Matriz de Insumo-Produto (MIP), criada pelo cientista Wassily Leontief e que representa matricialmente as relações entre os diversos setores da economia, registrando os fluxos de bens e serviços e possibilitando diagnosticar os impactos que as alterações em um setor produzem nos demais.
“O desmatamento é frequentemente avaliado a partir da perspectiva da oferta, ou seja, quais setores produtivos estão promovendo a substituição das florestas por outros usos da terra, como agricultura e pecuária. A metodologia que adotamos permite ver o fenômeno do desmatamento também a partir da perspectiva da demanda, identificando as fontes de estímulos econômicos para que os setores produtivos se envolvam no [combate ao] desmatamento”, explicou Eduardo Haddad, professor de economia da FEA-USP e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
Em tempo: Os cortes orçamentários recentes do governo alemão causaram preocupação em Brasília. Isso porque a Alemanha é um dos principais doadores do Fundo Amazônia e prometeu destinar novos recursos nos próximos anos. No entanto, de acordo com a ministra de desenvolvimento e cooperação alemã, Svenja Schulze, o Brasil não precisa se preocupar: segundo ela, os recursos voltados ao Fundo Amazônia estão garantidos no orçamento do país. A notícia é da Folha.