Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior.
A retomada da fiscalização e do combate a ilegalidades pelo governo federal desde janeiro do ano passado tem se refletido na queda dos números do desmatamento na Amazônia . Entretanto, quando se trata da degradação do bioma, as notícias ainda não são boas e mostram o árduo – e urgente – trabalho a ser feito para sua recuperação.
Segundo dados registrados pelo INPE na plataforma Terra Brasilis , a degradação da Floresta Amazônica já totaliza quase 163.000 km² na série histórica iniciada em 2016. O número é quase três vezes os cerca de 58.000 km² desmatados que foram detectados pelo instituto no mesmo período, destacam Agência Brasil Um só planeta BNC Amazonas Band News FM e Portal Único
No período compreendido entre março de 2023 e igual mês deste ano, houve aviso de degradação para mais 20,4 mil km². Assim, na contramão da redução dos alertas de desmatamento nesse período, os números registraram crescimento quando comparados aos alertas para quase 18 mil km² entre março de 2022 e março do ano passado.
Apesar do avanço, o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental do Ministério do Meio Ambiente ( MMA André Lima , disse que o problema vem sendo acompanhado pelo governo e tem recebido atenção nas políticas públicas de enfrentamento. “O combate à ilegalidade gera o sentimento de fim da impunidade, e isso desestimula o processo de degradação, sobretudo aquele ligado ao corte seletivo de floresta”, explicou.
A degradação florestal é mais complexa que o próprio desmatamento e representa uma ameaça grave ao cumprimento das metas brasileiras para a manutenção da estabilidade climática, alerta o pesquisador da UNICAMP David Lapola . Camuflados por frágeis vegetações, distúrbios ambientais causados pelo homem avançam sobre a biodiversidade, longe do alcance das imagens de satélite e do monitoramento governamental.
Lapola coordenou o estudo “ The drivers and impacts of Amazon forest degradation ”, publicado na Science em 2023. Ele explica que, diferente do desmatamento, que faz com que a floresta deixe de existir e dê lugar a outras paisagens como o pasto, a degradação afeta os serviços ecossistêmicos da floresta de forma mais sutil e em prazo mais longo. Na prática, transforma a floresta por dentro, com a substituição de espécies tanto da flora, quanto da fauna. Árvores maiores dão lugar a árvores com estruturas menores, menos biomassa e menor capacidade de cumprir os serviços ecossistêmicos.
No artigo “ Zero deforestation and degradation in the Brazilian Amazon ”, publicado na Trends in Ecology & Evolution , a ecóloga e membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Ima Célia Guimarães Vieira e o geógrafo José Maria Cardoso da Silva lembram que “o principal objetivo do Brasil é o desmatamento e degradação zero ( ZDD ) na Amazônia ”, mas que as políticas para esse fim não consideram a heterogeneidade da região.
“Políticas setoriais integradas são necessárias para consolidar territórios sub-regionais sustentáveis. Para proteger a maior floresta tropical do mundo e, ao mesmo tempo, melhorar a vida da população local, as agências governamentais devem superar as deficiências de financiamento e as lacunas na coordenação”, avaliam.