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Degradação da Amazônia dispara 163% e ameaça metas climáticas do Brasil às vésperas da COP30 (79 notícias)

Publicado em 19 de maio de 2025

Estudo do Inpe alerta para avanço silencioso da destruição florestal, puxado por queimadas e seca extrema. Brasil corre risco de descumprir compromissos internacionais.

A degradação da Floresta Amazônica explodiu nos últimos dois anos e cresceu 163% entre 2022 e 2024, puxada principalmente por queimadas associadas à seca extrema que atingiu a região. O avanço silencioso desse processo, embora menos visível que o desmatamento total, já compromete a saúde do bioma e coloca em risco as metas climáticas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris.

O alerta é de um estudo publicado na revista Global Change Biology, assinado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da USP, e de instituições dos Estados Unidos e Reino Unido.

Segundo o levantamento, 25.023 km² de floresta foram degradados apenas em 2024 – uma área maior que o Estado de Sergipe. Quase 66% desse total foi causado por incêndios florestais. No mesmo período, o desmatamento caiu 54,2%, atingindo o menor nível em 10 anos (5.816 km²).

“A degradação é mais difícil de ser detectada porque acontece com a floresta ainda em pé. Mas ela corrói a biodiversidade e compromete funções vitais como captura de carbono e regulação hídrica”, explica o pesquisador Guilherme Mataveli, do Inpe, primeiro autor do estudo.

Seca extrema e recorde de focos de calor

O bioma amazônico enfrentou, entre 2023 e 2024, uma das piores estiagens da história recente. A seca provocou déficits de até 100 mm de chuva por mês, temperaturas acima de 3 °C e atrasou o início da estação chuvosa, deixando rios em níveis críticos.

Como consequência, foram registrados 140.328 focos de calor em 2024, o maior número desde 2007.

Desafio às vésperas da COP30

O Brasil sediará a COP30, em novembro, na cidade de Belém (PA). No evento, países deverão revisar suas metas climáticas (NDCs). O Brasil se comprometeu a reduzir de 59% a 67% das emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2035, em comparação com os níveis de 2005.

Mas os cientistas alertam que o avanço da degradação pode inviabilizar o cumprimento dessas metas.

“A liderança internacional do Brasil no combate às mudanças climáticas depende de respostas eficazes à degradação florestal”, afirma o pesquisador Luiz Aragão, coordenador do Programa FAPESP de Mudanças Climáticas Globais.

Ele destaca que satélites já permitem monitorar a degradação em tempo real, mensurar emissões e apoiar ações de gestão sustentável.

O que pode ser feito

O estudo sugere três frentes prioritárias:

Controle e manejo de incêndios florestais

Projetos de restauração e reflorestamento em larga escala

Integração com mercados de carbono, para gerar incentivos econômicos a práticas sustentáveis

Além disso, os pesquisadores defendem o aprimoramento do rastreio da degradação, com mecanismos de responsabilização mais eficazes.

Degradação vs. Desmatamento (2024)

IndicadorValorÁrea degradada25.023 km²Área desmatada5.816 km²Proporção de incêndios66% da degradaçãoFocos de calor140.328 (recorde desde 2007)

O estudo contou com apoio da FAPESP e participação de outros nomes de destaque, como os pesquisadores Paulo Artaxo (USP) e Lucas Maure (Inpe).