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Déficit tecnológico do país cresceu 1.400% em 5 anos, afirma Fapesp (1 notícias)

Publicado em 24 de maio de 2002

Este foi um dos dados mais impressionantes do relatório Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em SP - 2001, lançado pela Fapesp no dia 7 de maio. O déficit das remessas de capital para importação de tecnologia saltou de US$ 67 milhões, em 93, para quase US$ 1 bilhão, no final de 98. Este é o 2º volume do relatório que integra a série Indicadores de Ciência. Tecnologia e Inovação em SP. A publicação está dividida em três grandes blocos: insumos para a produção científica e tecnológica, resultados, e impactos econômicos e sociais da pesquisa científica e tecnológica. O 1º bloco compreende análises e dados sobre educação básica, educação superior, recursos financeiros e recursos humanos para P&D. O 2º bloco trata dos resultados dos investimentos feitos e aborda a produção científica, o balanço de pagamentos tecnológico e a inovação e tecnologias de informação da indústria paulista. E o 3º bloco traz dados sobre o impacto econômico da pesquisa científica e tecnológica, o impacto social da pesquisa em saúde e um estudo sobre a ciência e tecnologia na mídia. Basicamente, o relatório prova que o antigo abismo entre a pesquisa científica e a inovação tecnológica continua amplo no Brasil. O número de trabalhos científicos de brasileiros publicados no exterior, por exemplo, aumentou 34%. chegando a constituir 1,1% da produção mundial. Por outro lado, no quesito registro de patentes, considerado uma das principais medidas de transição equilibrada entre a pesquisa e o mercado, o país deixa a desejar. Os dados coletados pela Fapesp mostram que SP responde por 65% das patentes registradas em nome de brasileiros e que cerca de 85% das patentes concedidas na década de 90 no país foram para não-residentes. E ainda: entre os 20 principais detentores de patentes no Brasil figura apenas uma empresa nacional, a Petrobras, que é estatal. Apesar de baseado na produção paulista, o relatório faz comparações com estatísticas nacionais. O estado de SP investiu, em média, R$ 2,2 bilhões anuais em pesquisa e desenvolvimento entre 95 e 98, o que corresponde a 38% do investimento do Brasil inteiro no setor no mesmo período. Outra constatação - que não surpreende - é o escasso investimento das empresas na área tecnológica. O setor público é responsável por 62,4% dos investimentos em P&D no Brasil, contra 37,6% da iniciativa priva- da. Nos países considerados desenvolvidos, esse índice é inverso, ficando as empresas estrangeiras responsáveis por, no mínimo, mais de 60% dos investimentos. Embora demonstre que a situação do Brasil ainda é complicada na área de C&T, o documento traz alguns bons resultados. Segundo o estudo, referendado pelos números da Rede Íbero-Americana de Indicadores de C&T, o Brasil gastou com P&D cerca de 30% a 40% do investimento de toda a América Latina. Foram US$ 5,77 bilhões em 99, ou cerca de 0,87% do PIB, o que coloca o país na primeira posição na região, à frente do México e Argentina. O índice dá ao país posição próxima de nações como Itália (1%) e Espanha (0,9%), mas ainda está muito distante dos 2,5% gastos pela Coréia do Sul, dos 3,1 % do Japão e 2,7% dos EUA. Outra boa notícia é que, entre 94 e 98, o percentual de professores com título de mestre ou doutor subiu de 39% para 46% no Brasil, e de 44% para 53% no estado de SP. Além disso, o número de cursos de mestrado no país entre 89 e 98 aumentou cerca de 40% e o de doutorado em mais de 60%. Ainda segundo o relatório, áreas estratégicas e de crescimento científico e empresarial recente, como a biotecnologia, aumentaram em mais de 100% sua participação nos pedidos de patentes feitos nos EUA por grupos paulistas nos anos 90. E verifica-se a tendência de diversificação do conhecimento científico de SP para outros estados, com Pernambuco destacando-se na informática. Rio Grande do Sul. na microeletrônica, e MG e RJ, na biotecnologia. Com isso estima-se que a participação de entidades estaduais e privadas aumente doravante. O relatório, de 500 páginas, foi preparado por equipe de mais de 40 pessoas. (Com dados da Folha de SP e Estado de SP).