Espécies exóticas invasoras englobam desde plantas a microrganismos e já resultaram em perdas de até 105 bilhões de dólares nos últimos 35 anos no Brasil, diz professora da UFSC
O que espécies como tilápia, javali, sagui, pinus, tucunaré, coral-sol, búfalo e mamona têm em comum? Todas são espécies exóticas invasoras (EEI) presentes no Brasil. Um estudo inédito lançado no início de março e com participação de uma pesquisadora da UFSC aponta que espécies invasoras no ecossistema brasileiro já causaram bilhões de reais em prejuízo.
A pesquisa, publicada pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), tem a participação de Michele de Sá Dechoum, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O estudo apresenta uma síntese do conhecimento científico disponível sobre espécies exóticas invasoras no país.
Segundo o estudo, ao longo de 35 anos (1984 a 2019), o prejuízo mínimo estimado em razão dos impactos ocasionados por apenas 16 espécies exóticas invasoras variou de 77 a 105 bilhões de dólares – uma média anual de 2 a 3 bilhões de dólares.
Essas espécies podem ser plantas, animais ou microrganismos que são introduzidos por ação humana, de forma intencional ou acidental, em locais fora de seu habitat natural.
O Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos conceitua o problema, lista as espécies, suas principais formas de introdução e os ambientes que ocupam.
Esses intrusos se reproduzem, proliferam e se dispersam para novas áreas, onde em sua maioria ameaçam as espécies nativas e afetam o equilíbrio dos ecossistemas.
No estudo, foram mensurados os impactos provocados e as medidas de gestão recomendadas para o Brasil enfrentar essa ameaça em curto, médio e longo prazos.
“A ideia não é dar uma receita, mas sim prover informações objetivas pensando em sua aplicação para a construção e a implementação de políticas públicas e privadas, assim como de iniciativas de manejo”, explica Michele de Sá Dechoum, professora adjunta do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC e uma das coordenadoras do relatório.
Dentre as espécies invasoras estão, principalmente, as pragas agrícolas e silviculturais (28 bilhões de dólares) e vetores de doenças (11 bilhões de dólares) e os custos das perdas são atrelados a quedas de produção e horas de trabalho, internações hospitalares e interferência na indústria de turismo.
Segundo o relatório, existem 476 espécies exóticas invasoras registradas no Brasil, sendo 268 animais e 208 plantas e algas, em sua maioria nativas da África, da Europa e do sudeste asiático.
As espécies têm como principal via de introdução o comércio de animais de estimação e de plantas ornamentais e hortícolas e estão presentes em todos os ecossistemas, com maior concentração em ambientes degradados ou de alta circulação humana.