Notícia

Jornal da Unesp

De olho na chuva

Publicado em 01 julho 2003

Por André Louzas
As chuvas despertam o interesse das mais variadas pessoas - do meteorologista preocupado em entender as mudanças climáticas ao agricultor que torce pelo bom resultado de sua plantação. Para atender essa demanda, o coletor de dados pluviométricos do cientista da computação João Perea Martins, docente do Departamento de Computação da Faculdade de Ciências (FC), campus de Bauru, está criando uma opção brasileira para se conhecer com mais exatidão as águas que vêm das nuvens. Da criatividade e da competência do docente nasceu um aparelho nacional com alta capacidade de armazenar dados, dotado de poucos componentes eletrônicos, pequenas dimensões físicas - a caixa que envolve os instrumentos mede 11 cm de largura, 15 cm de altura e 7 cm de profundidade -, econômico no consumo de energia e com um custo baixo de montagem. "Nós estimamos que o nosso coletor possa ser montado com US$ 25, quando um equipamento importado chega a custar US$ 500", compara o pesquisador. A versão inicial do aparelho foi apresentada na Mostra de Tecnologia da UNESP, no ano passado, e, em março deste ano, Martins concluiu a elaboração de um modelo mais eficiente e econômico, feito com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Estamos aguardando o parecer final do órgão para dar início ao processo de patenteamento", revela. A criação de Martins funciona ligada a um pluviômetro, uma espécie de funil onde a água da chuva é captada e ativa uma chave magnética. A cada 0,2 milímetros de chuva, é enviado um sinal elétrico para o coletor, que possui uma memória capaz de armazenar mais de 16 mil registros pluviométricos, sendo que cada registro equivale a um minuto de funcionamento do pluviômetro, quando está chovendo. O invento também inclui um software, desenvolvido por Perea, que permite a troca de dados entre o coletor e um microcomputador a ele conectado. O coletor possibilita que o especialista o leve para um laboratório ou "puxe" suas informações no próprio local onde foi instalado, por meio de um laptop. "O equipamento produz informações que podem ser utilizadas em aplicativos computacionais como as planilhas eletrônicas do tipo Microsoft Excel, por exemplo", esclarece o docente. De acordo com Martins, o coletor pode funcionar ininterruptamente por até dois anos, com um jogo de três pilhas de níquel cádmio. "Os dados da memória não se perdem mesmo com o fim da energia das pilhas", garante. Atualmente, o pesquisador está envolvido na produção de 20 unidades do coletor, que serão utilizadas, entre outros, no Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), unidade complementar do campus da UNESP de Bauru, e nos Departamentos de Ciências Biológicas e de Computação da FC. "Pretendemos produzir mais equipamentos para outras unidades da UNESP e outras instituições de pesquisa", revela. Alguns coletores já estão em funcionamento, por exemplo, no Departamento de Ciências Biológicas, numa área de reserva florestal dentro do campus. "Para nós, o equipamento é importante para pesquisas nos campos como Ecologia e Zoologia, nos quais os dados climáticos são associados a informações relativas aos animais e à vegetação do ambiente onde trabalhamos", comenta Osmar Cavassan, docente do Departamento de Ciências Biológicas e vice-diretor da FC. Ao fornecer os pluviômetros que são ligados aos coletores, além de sugestões para quantificar os registros, o IPMet tem colaborado com o aprimoramento do produto. Diretor do Instituto, Maurício de Agostinho Antonio enfatiza que os novos aparelhos vão contribuir com as atividades da unidade complementar. "Esses dispositivos são muito mais baratos que os importados, e essa economia de recursos facilita a realização de nossas pesquisas", argumenta.