Em meio ao desafio de conter uma pandemia como a da covid-19, um item se transformou em um recurso essencial de proteção: as máscaras. No início vistas com certa desconfiança, hoje elas são de uso obrigatório na maioria dos locais públicos e já passaram a fazer parte da rotina de milhões de pessoas.
Mas engana-se quem pensa que esse simples pedaço de tecido com elásticos ficaria de fora do avanço rápido da tecnologia. Diversos projetos têm sido desenvolvidos para trazer mais segurança e comodidade ao uso deste acessório cada vez mais necessário.
Uma das inovações apresentadas recentemente é a da startup japonesa Donut Robotics, que prepara para setembro o lançamento de uma máscara capaz de traduzir falas para outros idiomas. A máscara inteligente, chamada C-Mask, se conecta via bluetooth a um aplicativo de smartphones e tablets para transcrever as falas. Ela envia mensagens e traduz do japonês a outros oito idiomas; também é possível fazer chamadas telefônicas com o produto.
Segundo a empresa, a ideia surgiu do desafio de sobrevivência da própria companhia em meio à pandemia. Antes da crise sanitária, a Donut havia acabado de firmar um contrato para fornecer tradutores de robôs no aeroporto de Tóquio, ferramenta que tem futuro incerto em meio ao colapso no setor aéreo. As máscaras custarão cerca de US$ 40 (R$ 206) e a previsão é serem vendidas inicialmente no Japão, para depois expandir para China, EUA e Europa.
Em Portugal, uma parceria entre empresas locais e centros de pesquisa permitiu o desenvolvimento de uma máscara capaz de inativar o vírus da covid-19. A máscara MOxAd-Tech está à venda desde abril, mas sua eficácia contra o coronavírus foi confirmada nesta semana após testes do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antues (iMM), de Lisboa.
Segundo o virologista Pedro Simas, que coordenou os trabalhos, os testes realizados demonstraram uma inativação eficaz do SARS-CoV-2 (vírus da covid-19) mesmo após 50 lavagens, observando uma redução viral de 99% após uma hora de contato com o tecido. O preço da máscara é de € 10 (R$ 60).
Em Israel, cientistas desenvolveram uma máscara de proteção que pode ser desinfectada via conexão USB. O processo de desinfeção ocorre de maneira semelhante ao carregamento de bateria de celular, mas, neste caso, a fonte de energia aquece a camada de fibra de carbono interna da máscara, o que elimina o vírus.
O professor Yair Ein-Eli, que liderou a equipe de pesquisa da Universidade Technion em Haifa, explicou à Reuters que o processo de desinfecção leva cerca de 30 minutos, e os usuários não devem usar a máscara enquanto estiver conectada ao carregador.
No Brasil
O Brasil, um dos países mais afetados pela pandemia, também conta com iniciativas promissoras para fortalecer o uso das máscaras.
A empresa paulista Nanox desenvolveu um tecido capaz de eliminar o novo coronavírus por contato. Em projeto apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o material demonstrou ser capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.
O desenvolvimento teve colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I (Espanha) e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) –um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
Segundo Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox, a companhia já entrou com pedido de depósito de patente da tecnologia. "Temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares", disse Simões à Agência Fapesp.
Quem também demonstra avanços em tecidos é a catarinense Diklatex, que, em parceria com o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiqt), desenvolveu um tecido com propriedades antivirais; testes do Laboratório de Tecnologia Virológica (Latev) de Bio-Manguinhos confirmaram a eficácia contra o coronavírus.
Sheila Maria Barbosa de Lima, chefe do Latev, destacou, à Agência Brasil, que a pesquisa faz parte do esforço da Fiocruz de enfrentar um dos maiores desafios de sua história. "Nosso desenvolvimento tecnológico aqui trabalha na frente de vacinas, kits diagnósticos, fármacos. Essa parte de tecido é totalmente nova para gente", destacou.
Conforme detalhado pela Agência Brasil, a ideia do projeto é usar os tecidos em itens hospitalares que poderão ser lavados e reutilizados, como máscaras e aventais, os quais requerem especificidades diferentes. No caso das máscaras, por exemplo, a facilidade para respirar é um componente importante. Já nos aventais, os pesquisadores buscaram resistência a rasgos e a líquidos, além da ação antiviral.
Segundo o engenheiro Raphael Bergamini, do Senai/Cetiqt, os pesquisadores trabalham agora para elevar também o nível de proteção bacteriana e certificar o material junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
À venda
Duas grandes marcas da indústria têxtil já avançaram a fase de teste e estão vendendo peças capazes de barrar o novo coronavírus, segundo a indústria.
A Malwee lançou uma linha de máscaras e camisetas antivirais, 100% feitas em algodão, com três camadas de fio que prometem eliminar o vírus em dois minutos.
A companhia afirma que buscou a tecnologia na Suíça para lançar a coleção "Malwee Protege". Segundo a marca, as camisetas e máscaras em tecido com acabamento antiviral, antibacteriano e antifúngico são capazes de manter suas propriedades mesmo após 30 lavagens.
As peças estão disponíveis em fase "pré-venda" no site da marca, ainda sem previsão de entrega. São quatro opções de camisetas femininas e masculinas, por R$ 49,99 cada; quatro opções de kits contendo duas máscaras, por R$ 29,99 cada kit. Para as crianças a opção é a "Malwee Kids Protege", com quatro tipos de camisetas para meninas e quatro para meninos (R$ 39,99 cada), além de quatro kits contendo duas máscaras infantis (R$ 24,99 cada kit).
Outra grande marca do setor, a Lupo, também está apostando em tecidos antivirais para máscaras. A empresa lançou uma linha de máscaras baseadas no fio têxtil de poliamida da companhia química Rhodia, o Amni Virus-Bac OFF. O produto, segundo a Lupo, impede a ação de vírus e bactérias, ao bloquear a contaminação cruzada entre os artigos têxteis e o usuário, evitando que a roupa seja um veículo de transmissão de vírus e bactérias. O fio da Rhodia promete a destruição de 99,99% do vírus em 15 minutos.
De acordo com a Lupo, a ideia é fornecer em breve também itens como top, legging e camisetas feitos com o mesmo material, além de expandir a produção para peças destinada à área da saúde.
As marcas apostam no potencial dos produtos para além da pandemia. Carolina Pires, diretora de Marketing, Produto e Vendas da Lupo, afirma que, para o futuro, acredita na mudança nos hábitos "e as máscaras se tornarão itens para grandes aglomerações, aviões e shows", disse ao UOL.
Segundo o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, tecidos como estes podem reduzir a chance de contágio e, para ele, a tecnologia é boa especialmente para as máscaras, que tendem a ter uma eficácia maior para barrar a transmissão. No entanto, ele ressalta a importância de ficar atento a marcas sérias e confiáveis. "Qualquer que seja o produto [que ofereça proteção], é imprescindível que o consumidor cheque se ele tem certificados ou estudos técnicos comprovando sua eficácia", disse ao UOL.
Máscaras são de uso obrigatório na maioria dos locais públicos e já passaram a fazer parte da rotina de milhões de pessoas iStock
Em meio ao desafio de conter uma pandemia como a da covid-19, um item se transformou em um recurso essencial de proteção: as máscaras. No início vistas com certa desconfiança, hoje elas são de uso obrigatório na maioria dos locais públicos e já passaram a fazer parte da rotina de milhões de pessoas.
Mas engana-se quem pensa que esse simples pedaço de tecido com elásticos ficaria de fora do avanço rápido da tecnologia. Diversos projetos têm sido desenvolvidos para trazer mais segurança e comodidade ao uso deste acessório cada vez mais necessário.
Uma das inovações apresentadas recentemente é a da startup japonesa Donut Robotics, que prepara para setembro o lançamento de uma máscara capaz de traduzir falas para outros idiomas. A máscara inteligente, chamada C-Mask, se conecta via bluetooth a um aplicativo de smartphones e tablets para transcrever as falas. Ela envia mensagens e traduz do japonês a outros oito idiomas; também é possível fazer chamadas telefônicas com o produto.
Segundo a empresa, a ideia surgiu do desafio de sobrevivência da própria companhia em meio à pandemia. Antes da crise sanitária, a Donut havia acabado de firmar um contrato para fornecer tradutores de robôs no aeroporto de Tóquio, ferramenta que tem futuro incerto em meio ao colapso no setor aéreo. As máscaras custarão cerca de US$ 40 (R$ 206) e a previsão é serem vendidas inicialmente no Japão, para depois expandir para China, EUA e Europa.
Startup japonesa Donut Robotics apresentou a C-Mask (Foto: Divulgação)
Em Portugal, uma parceria entre empresas locais e centros de pesquisa permitiu o desenvolvimento de uma máscara capaz de inativar o vírus da covid-19. A máscara MOxAd-Tech está à venda desde abril, mas sua eficácia contra o coronavírus foi confirmada nesta semana após testes do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antues (iMM), de Lisboa.
Segundo o virologista Pedro Simas, que coordenou os trabalhos, os testes realizados demonstraram uma inativação eficaz do SARS-CoV-2 (vírus da covid-19) mesmo após 50 lavagens, observando uma redução viral de 99% após uma hora de contato com o tecido. O preço da máscara é de € 10 (R$ 60).
Em Israel, cientistas desenvolveram uma máscara de proteção que pode ser desinfectada via conexão USB. O processo de desinfeção ocorre de maneira semelhante ao carregamento de bateria de celular, mas, neste caso, a fonte de energia aquece a camada de fibra de carbono interna da máscara, o que elimina o vírus.
O professor Yair Ein-Eli, que liderou a equipe de pesquisa da Universidade Technion em Haifa, explicou à Reuters que o processo de desinfecção leva cerca de 30 minutos, e os usuários não devem usar a máscara enquanto estiver conectada ao carregador.
No Brasil
O Brasil, um dos países mais afetados pela pandemia, também conta com iniciativas promissoras para fortalecer o uso das máscaras.
A empresa paulista Nanox desenvolveu um tecido capaz de eliminar o novo coronavírus por contato. Em projeto apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o material demonstrou ser capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.
O desenvolvimento teve colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I (Espanha) e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) –um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
Segundo Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox, a companhia já entrou com pedido de depósito de patente da tecnologia. "Temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares", disse Simões à Agência Fapesp.
Quem também demonstra avanços em tecidos é a catarinense Diklatex, que, em parceria com o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiqt), desenvolveu um tecido com propriedades antivirais; testes do Laboratório de Tecnologia Virológica (Latev) de Bio-Manguinhos confirmaram a eficácia contra o coronavírus.
Sheila Maria Barbosa de Lima, chefe do Latev, destacou, à Agência Brasil, que a pesquisa faz parte do esforço da Fiocruz de enfrentar um dos maiores desafios de sua história. "Nosso desenvolvimento tecnológico aqui trabalha na frente de vacinas, kits diagnósticos, fármacos. Essa parte de tecido é totalmente nova para gente", destacou.
Conforme detalhado pela Agência Brasil, a ideia do projeto é usar os tecidos em itens hospitalares que poderão ser lavados e reutilizados, como máscaras e aventais, os quais requerem especificidades diferentes. No caso das máscaras, por exemplo, a facilidade para respirar é um componente importante. Já nos aventais, os pesquisadores buscaram resistência a rasgos e a líquidos, além da ação antiviral.
Segundo o engenheiro Raphael Bergamini, do Senai/Cetiqt, os pesquisadores trabalham agora para elevar também o nível de proteção bacteriana e certificar o material junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
À venda
Duas grandes marcas da indústria têxtil já avançaram a fase de teste e estão vendendo peças capazes de barrar o novo coronavírus, segundo a indústria.
A Malwee lançou uma linha de máscaras e camisetas antivirais, 100% feitas em algodão, com três camadas de fio que prometem eliminar o vírus em dois minutos.
A companhia afirma que buscou a tecnologia na Suíça para lançar a coleção "Malwee Protege". Segundo a marca, as camisetas e máscaras em tecido com acabamento antiviral, antibacteriano e antifúngico são capazes de manter suas propriedades mesmo após 30 lavagens.
As peças estão disponíveis em fase "pré-venda" no site da marca, ainda sem previsão de entrega. São quatro opções de camisetas femininas e masculinas, por R$ 49,99 cada; quatro opções de kits contendo duas máscaras, por R$ 29,99 cada kit. Para as crianças a opção é a "Malwee Kids Protege", com quatro tipos de camisetas para meninas e quatro para meninos (R$ 39,99 cada), além de quatro kits contendo duas máscaras infantis (R$ 24,99 cada kit).
Outra grande marca do setor, a Lupo, também está apostando em tecidos antivirais para máscaras. A empresa lançou uma linha de máscaras baseadas no fio têxtil de poliamida da companhia química Rhodia, o Amni Virus-Bac OFF. O produto, segundo a Lupo, impede a ação de vírus e bactérias, ao bloquear a contaminação cruzada entre os artigos têxteis e o usuário, evitando que a roupa seja um veículo de transmissão de vírus e bactérias. O fio da Rhodia promete a destruição de 99,99% do vírus em 15 minutos.
De acordo com a Lupo, a ideia é fornecer em breve também itens como top, legging e camisetas feitos com o mesmo material, além de expandir a produção para peças destinada à área da saúde.
As marcas apostam no potencial dos produtos para além da pandemia. Carolina Pires, diretora de Marketing, Produto e Vendas da Lupo, afirma que, para o futuro, acredita na mudança nos hábitos "e as máscaras se tornarão itens para grandes aglomerações, aviões e shows", disse ao UOL.
Segundo o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, tecidos como estes podem reduzir a chance de contágio e, para ele, a tecnologia é boa especialmente para as máscaras, que tendem a ter uma eficácia maior para barrar a transmissão. No entanto, ele ressalta a importância de ficar atento a marcas sérias e confiáveis. "Qualquer que seja o produto [que ofereça proteção], é imprescindível que o consumidor cheque se ele tem certificados ou estudos técnicos comprovando sua eficácia", disse ao UOL.