Notícia

Jornal da USP

De clonagem, ética e transgênicos

Publicado em 08 março 2004

A Biologia e o Homem (Edusp, 404 págs., R$ 42,00) de Isaias Raw, Lelia Mennucci e Myriam Krasilchik, é um livro que permite a compreensão do funcionamento dos organismos e as implicações da biologia na vida das pessoas. Apresenta, de forma sucinta, as informações essenciais para o cidadão que queira entender o que realmente significam termos como gene, DNA ou clonagem, e também para os estudantes que, desde o ensino médio até a universidade, buscam conhecimento atualizado numa das mais importantes áreas de pesquisa científica na atualidade. Segundo Isaias Raw, o grande desafio atual do ensino de biologia é abandonar a idéia de que essa ciência constitui apenas um conjunto de informações que precisam ser memorizadas e substituí-la por uma visão abrangente dos processos e resultados de investigação cujos avanços, em ritmo cada vez mais acelerado, ampliam o conhecimento de temas essenciais para a compreensão do impacto que produzem na vida moderna. O livro dá ênfase ao homem para que os estudantes compreendam as intrincadas conexões da ciência, mantendo a profundidade e a extensão necessárias para oferecer um panorama amplo de uma ciência em progresso dinâmico. Os capítulos foram planejados respeitando os diferentes níveis de organização, desde a composição química dos organismos, passando pelo genoma e pela estrutura celular e chegando até a biosfera, temas hoje essenciais para qualquer pessoa considerada cientificamente alfabetizada. Genoma humano De onde viemos? Como funciona o nosso corpo? Como explicar as semelhanças e as diferenças entre nós? Por que ficamos doentes? Por que envelhecemos? Por que morremos? Questões como essas vêm sendo investigadas há muito tempo, mas foi a partir do ano 2000 que a pesquisa tomou um rumo audacioso com a descoberta do seqüenciamento do genoma humano, uma receita que a natureza desenvolveu e aperfeiçoou durante milhões de anos para criar uma pessoa. É sobre o Projeto Genoma Humano que trata o livro de Lygia da Veiga Pereira, Seqüenciaram o Genoma Humano... E agora? (Editora Moderna, 111 págs., R$ 19,50). Apesar do título, o livro não pretende ensinar biologia ou genética molecular, nem mesmo acompanhar a cronologia das descobertas relacionadas à genética. Como diz a autora na introdução, "resolvi traduzir o 'cientifiques' para o português claro, sem me preocupar com detalhes operacionais ou com a história da genética". A obra está dividida em três partes: Conhecimento, que trata do conhecimento atual sobre a genética e o que pode ser adquirido com o seqüenciamento do genoma humano, além do Projeto Genoma Humano, com seus objetivos, estratégias e resultados; Poder, em que é discutido o poder que os novos conhecimentos vão conferir à humanidade, como eles afetam a vida das pessoas e também seus reais benefícios; e, na última parte, Responsabilidade, são descritos os perigos associados ao mau uso dos novos conhecimentos da genética. Enfim, um livro didático sobre um fato marcante na história da humanidade. Ética e clonagem Clonagem: Fatos & Mitos, de Lygia da Veiga Pereira, da Editora Moderna (80 págs., R$ 18,50), é uma obra que mostra num tom positivo como os novos conhecimentos da clonagem, se utilizados de forma criteriosa, poderão trazer reais benefícios para a qualidade de vida humana. Explica o que é a clonagem, como ela é feita e com que objetivos nas diferentes espécies animais. Além disso, levanta uma série de questões científicas e éticas sobre as novas tecnologias, diferenciando a clonagem reprodutiva da clonagem terapêutica, a clonagem perigosa da clonagem construtiva. A autora esclarece que a clonagem é uma forma natural de reprodução em diversas espécies, desde amebas e bactérias até cogumelos, vermes e plantas. Porém, a reprodução de mamíferos por clonagem é inexistente na natureza, e o surgimento da ovelha Dolly, em 1997, foi um marco na história da ciência, "diria até mais, na história da humanidade", ressalta Lygia. O livro é dividido em quatro partes. Na primeira é apresentada a base teórica de genética e da formação de um indivíduo a partir da primeira célula que todos nós um dia fomos. A segunda parte se aprofunda na clonagem, discutindo as mais diversas motivações para clonar seres vivos, descrevendo sua história desde os anos 40 até os avanços recentes do início do século 21. A terceira parte é dedicada à proposta de clonagem de seres humanos. Quais os objetivos de clonar pessoas, quanto esses objetivos são reais e justificam esses experimentos? O clone será de fato uma cópia de sua matriz? Qual a diferença entre a clonagem e os bebês de proveta? Será que a clonagem já pode ser oferecida como forma de reprodução assistida para seres humanos? Por fim, a última parte aborda o lado construtivo da ciência da clonagem humana: a clonagem terapêutica. Transgênicos na agricultura Plantas Transgênicas na Agricultura é um relatório preparado em 2000 pela Academia Brasileira de Ciências, com apoio da Royal Society de Londres, Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Academia Brasileira de Ciências, Academia de Ciências da China, Academia Nacional de Ciências da índia, Academia de Ciências do México e Academia de Ciências do Terceiro Mundo. Mostra que, até 2030, cerca de 8 bilhões de pessoas estarão povoando o mundo e por isso a fome e a pobreza devem ser enfrentadas, ao mesmo tempo em que é preciso garantir a preservação dos sistemas naturais. Para isso os desafios são enormes. Será necessário gerar novos conhecimentos e tecnologias. Também políticas precisam ser implementadas pelos governos nacionais, estaduais e regionais de cada nação. Sistemas reguladores de saúde pública devem ser implementados em todos os países para identificar e monitorar quaisquer efeitos adversos, que podem surgir de plantas transgênicas ou em outras novas variedades. O livro descreve exemplos de tecnologia de organismos geneticamente modificados que podem beneficiar a agricultura. Trata sobre as plantas transgênicas, a saúde humana e o ambiente. Mostra um balanço entre o setor público e o privado sobre os fundos para pesquisa sobre plantas transgênicas e fala do desenvolvimento das competências e da propriedade intelectual. Alimentos modificados O livro Transgênicos: Bases Científicas da sua Segurança, de autoria de Franco Maria Lajolo, professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, e Marília Regini Nutti, professora de Ciências de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, busca divulgar e discutir um dos temas de ponta da ciência contemporânea e de maior impacto social. Editado pela Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, a obra procura definir conceitos, instrumentos e procedimentos para que a ciência e a tecnologia brasileira avancem com segurança e a sociedade possa fazer uso seguro dos produtos da biotecnologia. Discute a segurança do consumo dos transgênicos pautando a discussão pelo que há de mais atualizado sobre o assunto. Para os autores, a modificação genética de um alimento não o torna menos seguro do que alimentos não transformados geneticamente. Como toda tecnologia, porém, ela deve ser avaliada, e esse processo tem ocupado instituições científicas e organismos legislativos nacionais e internacionais. "A engenharia genética, se bem utilizada, junto com outras técnicas convencionais de melhoramento e manejo, tem enorme potencial para aumentar a produtividade agrícola, beneficiar o ambiente e melhorar a qualidade dos alimentos". Os AGM mostraram-se seguros para a saúde humana e animal. Mesmo assim, criou-se considerável polêmica sobre o seu uso, abrangendo aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais, além dos científicos, polêmica que só será resolvida com transparência e com o encontro entre todos os setores: governo, indústria, consumidores. Dilemas éticos A bioética deve fundamentar-se no princípio da autonomia, como síntese dos direitos universais e das exigências singulares de todo indivíduo, já que cada pessoa tem, conforme demonstra a ciência (da genética à psicanálise), características, razões e emoções próprias. Essa é a tese defendida no livro Bioética (Edusp, 220 págs., R$ 24.00), organizado por Marco Segre e Cláudio Cohen, que, em sua terceira edição revista e ampliada, traz dois novos capítulos: "Quem Tem Medo das (Bio)tecnologias de Reprodução Assistida?" e "Bioética: Pesquisa e Deficiência". Além destes, ainda reúne artigos de autores brasileiros e estrangeiros como "O Código de Ética Médica". "Direitos humanos ou a ética das relações" e "'Experimentação com seres humanos". Assim, traz à tona dilemas éticos para a sociedade, abordando ainda assuntos como a problemática do aborto, da engenharia genética, dos transplantes de órgãos e da eutanásia. Também é dada grande importância à relação médico-paciente, analisada em três partes: a primeira estuda dois tipos de relações, a autônoma e a paternalista; a segunda, a competência do paciente, e a terceira, talvez a mais inovadora, a competência do médico. Como diz o professor Giovanni Berlinguer no prefácio do livro, "a bioética não pode fincar-se na intolerância, deve apontar para o fazer, mais do que o proibir; deve discutir o que fazer, com quem. a quem. com quais meios, com que objetivos, de forma que as relações entre a ética e as ciências biomédicas sejam marcadas, ao mesmo tempo, pela liberdade do homem e pelo respeito a todos os seres humanos".