Relatório da Unesco indica que, mesmo com redução drástica dos investimentos em pesquisa no País, produção científica brasileira segue crescendo – por enquanto
Resiliência. Essa tem sido a principal característica da ciência brasileira nos últimos anos, segundo Hernan Chaimovich, Professor Emérito do Instituto de Química da USP e coautor de um relatório especial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) sobre investimentos em pesquisa e desenvolvimento no mundo, no período 2014-2018. Os números mostram que, mesmo com uma redução drástica dos orçamentos destinados a ciência e tecnologia no Brasil, a produção científica do País continuou crescendo — pelo menos até agora.
“A característica fundamental da ciência e do cientista brasileiro é uma única palavra: resiliência”, destacou Chaimovich, no evento que marcou o lançamento do relatório no Brasil, realizado nesta sexta-feira, 11 de junho. “Mas a resiliência tem um limite”, completou o professor, que assina o capítulo brasileiro do relatório em parceria com o matemático Renato Pedrosa, especialista em políticas de ciência, tecnologia e educação superior, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O brasileiro em geral está acostumado, por força das circunstâncias, a fazer muito com pouco; mas não existe milagre, especialmente na ciência. A redução do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no período 2014-2018 (contemplado pelo relatório da Unesco) foi da ordem de 50%, segundo dados também compilados por Chaimovich e publicados na edição mais recente da revista Pesquisa Fapesp. E de lá para cá, a situação só piorou. De 2012 para 2021, a redução é de dramáticos 84% — de R$ 11,5 bilhões para R$ 1,8 bilhão, em valores atualizados pela inflação.