Quanto mais os jovens brasileiros assistem a propagandas de cerveja, mais bebem. A constatação é de um estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os pesquisadores analisaram o comportamento de 282 adolescentes, de 14 a 17 anos, diante de 32 propagandas de cerveja. O consumo de bebidas alcoólicas era de cinco a dez vezes maior entre aqueles que haviam sido previamente expostos a mais comerciais do produto.
"O estudo desfaz o mito de que a publicidade serve apenas para fidelizar a marca", afirmou Alan Vendrame, um dos autores da pesquisa, ao Jornal do Brasil. Segundo ele, o estudo poderia ser usado para a criação de políticas públicas que restrinjam a veiculação e o conteúdo dos comerciais.
A lei atual já proíbe a publicidade de bebidas na TV entre 6h e 2lh, mas só as de teor alcoólico superior a 13 graus, como uísques e vodcas - as cervejas, que têm entre 4 e 5 graus, estão liberadas. Para o presidente da Associação Brasileira de Agência de Publicidade (Abrap), Dalton Pastore, mais restrições são desnecessárias, pois "a autor-regulamentação do setor é muito mais rigorosa do que as leis vigentes".
A pesquisa da Fapesp também constatou que 12 das 16 regras para publicidade de bebidas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Autor-regulamentação Publicitária (Conar) são violadas. Sobretudo a que impede o uso de imagens ou ideias que contribuam para o êxito profissional, social ou sexual. Segundo Vendrame, os comerciais que mais chamaram a atenção dos estudantes monitorados eram as associadas a sexualidade, humor e futebol.
Na Folha de S.Paulo, o escritor José Roberto Torero tratou da nova propaganda da cerveja Brahma com o atacante Ronaldo, do Corinthians: "Um atleta ainda gordo, em recuperação, fazendo comercial de cerveja? Me parece ruim para os dois", anotou. "Para a cerveja, porque eu, vendo o comercial, penso 'Poxa, cerveja engorda pra caramba!' Para o jogador porque mostra que ele não é um atleta sério. E um cara que bebe mesmo ainda estando longe da sua melhor forma. Obviamente, futebol e álcool não combinam."