Os resultados do Programa de Projetos do Instituto Municipal de Artes e Cultura Rioarte continuam sendo uma incógnita. A última notícia é que os nomes dos contemplados devem ser divulgados dentro de 15 dias. Só para lembrar, o programa, lançado no final do ano passado, oferecia patrocínio, apoio financeiro, apoio institucional, pauta nos teatros ou centros culturais do município, serviços ou apoios estratégicos para projetos de dança, artes visuais, música, editoração e teatro.
"O que se sabe até agora é que várias pessoas receberam cartas negando seus pedidos", diz Dudu Sandroni. O diretor teatral participa do Fórum das Artes, que acontece todas as segundas no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá. Foi parte desse grupo que se mobilizou para evitar que o programa fosse paralisado, depois da entrada de Miguel Falabella como gestor de teatros. "O prefeito deslocou os teatros da estrutura da Rioarte e passou para o gabinete do gestor, esvaziando o órgão", lembra. Dudu lembra que, ao se anunciar o programa, a classe artística comemorou: "Era um projeto informal, que viria para acabar com o 'balcão' daquelas pessoas que conheciam um e outro e assim tentavam emplacar seus espetáculos. Consideramos um avanço a transparência com que tudo estava sendo tratado. Mas aí o governo mudou...", conta.
"Foi um equívoco da Secretaria falar em manutenção do programa de projetos e transformar isso numa verdadeira burocracia", opina Antônio Guedes, diretor do Teatro do Pequeno Gesto. O mais grave, segundo ele, é o privilégio que ha atualmente para espetáculos que têm respaldo no mercado e, conseqüentemente, não precisariam de apoio público.
O programa teve seus prazos alterados - ao todo foram 1054 inscritos -, mas as datas dos resultados não foram respeitadas. "Em abril, 90 produtores foram falar com a Fátima França (diretora de projetos da Rioarte), ela nos recebeu e prometeu que até 15 de maio teria os resultados", reforça. E é esta data desatualizada que ainda consta no site do órgão...
BOLSAS CANCELADAS
A mudança de governo também acarretou no cancelamento do tradicional programa de bolsas de pesquisa da Rioarte. "As bolsas já tinham passado pela primeira fase de julgamento - inclusive com publicação, em janeiro, dos números de inscrições dos aprovados no Diário Oficial do município - quando tudo foi interrompido", lembra Ísis Baião, autora teatral. O argumento para a interrupção da oitava edição do programa foi que ele seria elitista, deixando de fora pessoas de baixa renda. "Uma de nossas sugestões é que a divulgação seja ampliada para alcançar o maior número de interessados", diz Ísis.
A diretora Ana Kfouri revela que há uma reunião marcada para o próximo dia 8 entre o Secretário Municipal das Culturas Ricardo Macieira e uma comissão formada por selecionados e representantes da classe artística. "Queremos dizer que não somos contra mudanças, mas vamos pedir que sejam asseguradas as bolsas para os vencedores. Afinal, é um programa respeitado, que sempre teve uma boa estrutura e não pode perder a credibilidade", diz Ana.
O detalhe é que, na última sexta-feira, foi publicado no DO a informação de que já havia sido nomeada uma comissão para o 9º Programa de Bolsas. "Resolvemos então divulgar à imprensa a carta que havíamos redigido para o Secretário. Nossa opção agora é pedir que esse novo programa venha com um caráter excepcional e que se respeite os concorrentes do anterior", finaliza Ana.
Na carta dirigida ao Secretário Municipal das Culturas, Ricardo Macieira, e assinada por 87 nomes da classe artística - entre eles Ana Achcar, Ana Kfouri, André Paes Leme, Antônio Abujamra, Antônio Guedes, Celina Sodré, Ísis Baião, Ivan Sugariam, Luiz Fernando Lobo, Marcia Milhazes, Marcos Ribas de Faria, Paulo Caldas e Walter Lima Torres - o grupo pede a manutenção do 8º Programa de Bolsas da Rioarte.
A ÍNTEGRA DA CARTA ENVIADA PELOS ARTISTAS
Rio de Janeiro, 25 de junho de 2003
Prezado Ricardo Maciera,
O Programa de Bolsas do Instituto Municipal de Artes e Cultura - RIOARTE, nos últimos sete anos. prestou um relevante papel no desenvolvimento das artes em nossa cidade. Estimulando a carreira de promissores artistas, esta iniciativa só pode ser comparada ao bem sucedido exemplo da Fundação Vitae de São Paulo.
Podemos arrolar os motivos que transformaram o Programa em uma referência nacional para projetos artísticos e culturais. A idéia de incentivar a pesquisa em diferentes campos da arte, apoiando a diversidade cultural da cidade, é um dos marcos de destaque.
Os candidatos não podem estar vinculados a nenhum outro órgão público ou privado de apoio à pesquisa, o que revela a preocupação de abrigar projetos fora da área acadêmica.
Os critérios transparentes de avaliação e o alto nível das comissões julgadoras, compostas de expressivos representantes da área cultural, sempre engrandeceram o Programa. Todos estes critérios tornaram o RIOARTE uma agência financiadora da arte tão respeitada quanto àquelas que financiam as pesquisas acadêmicas (Capes, CNPq, FAPERJ, FAPESP, FAPEMIG etc) em nosso país.
As bolsas são distribuídas mediante critérios técnicos e, independentemente dos gestores públicos, das administrações e dos governos, todos os contratos são respeitados, fator fundamental para a manutenção da credibilidade dessas instituições e dos profissionais envolvidos, isto é, bolsistas, seus orientadores e os julgadores dos pleitos. O 8º Programa de Bolsas do RIOARTE foi suspenso. Em plena fase de seleção final dos projetos, o edital foi cancelado sob a alegação de ser elitista.
Na atual conjuntura de nosso país, ninguém, em sã consciência, pode ser contra a democratização do acesso a este Programa. Dividir as bolsas em duas categorias - veteranos e iniciantes - certamente conta com amplo apoio da sociedade.
Mas cancelar o Edital, em sua fase final, pode ferir a credibilidade do Programa. Os concorrentes, seus "orientadores", os vencedores das últimas edições e a Comissão Julgadora ficaram apreensivos com esta medida que pode comprometer as ações futuras deste prestigioso Instituto. Se, realmente, queremos admitir jovens talentos, criar a bolsa para iniciantes, é fundamental que o Programa não sofra nenhum tipo de abalo.
Afinal, o que valoriza uma bolsa não é o seu valor pecuniário e sim a credibilidade da Instituição que a confere.
Notícia
Tribuna da Imprensa