Notícia

Correio Popular (Campinas, SP)

CRÔNICAS INFLAMADAS

Publicado em 21 fevereiro 2000

Por Heraldo Curti
O desencanto com a ciência é tido como um dos fatores para a volta a uma "medicina naturalista", "holística", ou baseada na terapia com plantas in natura ou, então, fundamentada exclusivamente na experiência particular do terapeuta - que, muitas vezes, não é nem médico. Isto é a contramão do progresso científico que, para admitir um tratamento como digno de confiança, exige que seus resultados e a maneira como a sua pretensa eficácia foi comprovada sejam conhecidos e repetidos por toda comunidade acadêmica envolvida com assuntos médicos. Outra razão para a relativa popularidade das chamadas medicações alternativas é a falta de preparo de jornalistas na divulgação de assuntos técnicos que não depuram as informações fornecidas pelo interessado na divulgação de certo tratamento e que sempre douram a pílula ou o peixe que querem vender. Não é à toa que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está financiando bolsa para formar jornalistas especialistas em áreas específicas do conhecimento. Precisamos de menos "curas de câncer do Fantástico", aos domingos à noite, e mais artigos ou programas televisivos equilibrados, em que se confrontem a novidade com a opinião de pesquisadores respeitáveis. Aquela instituição quer formar pessoal da imprensa especialistas em Medicina, Física Nuclear, Genética, Agronomia, Ciência Espacial, etc. Mas esta desilusão com tudo o que recebe a denominação de científico não é um fenômeno só nosso. Na Alemanha a falta de engenheiros químicos (quem diria, o país da Bayer - empresa que também já serviu ao Füehrer) já atingiu um nível crítico e eles estão importando estes profissionais (atenção desempregados!). Em Paris o número de inscritos em carreiras científicas o ano passado caiu 40% em relação a 1994. Coisa semelhante também ocorreu na Grã Bretanha e Suécia. Nos Estados Unidos, o número de formados em Física e Matemática vem caindo e Washington já planeja atrair estrangeiros. As razões? As conquistas da ciência não resolveram o nível alarmante de desemprego, não eliminaram a degradação do meio ambiente, surgiram novas doenças (entenda-se Aids) e recrudesceram outras tidas como resolvidas como a tuberculose, lepra ou psicopatias decorrentes de más condições de vida. Leitor antigo da revista norte-americana Skeptical Inquirer, que tem no seu corpo editorial prêmios nobel, cientistas diversos e até um mágico famoso - o Randi (que destronou o mega farsante Uri Geler, entortador de colheres), sou fã incondicional da associação que montaram lá para contrapor a divulgação, pela TV, de fatos inverídicos ou pouco estudados como verdade científica comprovada. Talvez em nenhum outro país do mundo se encontre um número tão grande de crédulos em raptos por alieníginas, infiltração de agentes marcianos disfarçados ou morte por uma inexplicável combustão espontânea do próprio corpo. Gozado. Não é que quando eu lembro do prefeito Pitta, estas três crenças tipicamente americanas também vêm à minha mente? A primeira e a última como soluções e a do meio, como uma possível estratégia extra terrena para tentar acabar com a cidade mais poderosa da América Latina. Xô, Bichano! Toxoplasmose é uma doença que ataca 600 recém-nascidos, anualmente, em nosso País. Retardo mental, cegueira, abortos são consequências desta doença adquirida pela mãe grávida ao ter contato com gatos contaminados. Por isso, senhoras barrigudas, nunca cheguem perto deles, mesmo dos mais aparentemente saudáveis.