A estagnação da economia e conseqüente redução dos investimentos públicos em pesquisa agravaram as dificuldades da comunidade científica de Piracicaba em desenvolver projetos e também conseguir um emprego, provocando uma debandada de pesquisadores da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) para outros países.
Somente no ano passado, pelo menos cinco estudiosos dos dois centros de pesquisa piracicabanos foram para os Estados Unidos, segundo relatos de professores ligados às instituições. Durante todo o ano de 2003,130 doutores foram formados nessas faculdades, só que apenas onze vagas de professores foram abertas. Das vagas, seis foram preenchidas na Esalq e cinco serão completadas no Cena. Para ser docente nesses locais, profissional que vai coordenar pesquisas, além de dar aulas, é necessário ter doutorado.
"O que nos vemos é a dificuldade de alunos com doutorado e pós doutorado encontram para ter uma oportunidade, já que os investimentos em pesquisa são poucos e tem se limitado muito o número de professores", disse a professora do setor de biotecnologia agrícola da Esalq Helaine Carrer.
Segundo Elaine, o único grande investimento em pesquisa feito no país, de cerca de US$ 10 milhões, foi no projeto genoma, do qual a Esalq teve participação ativa entre 1998 e 2000.
"O problema foi que essa fase terminou e não teve uma continuidade. Chegamos ao seqüenciamento de organismos, mas só isso não adianta. Fizemos, por exemplo, o seqüenciamento de genes relacionados à bactéria amarelinha, que causa doenças em laranjas. Mas agora precisamos criar estratégias para que esses genes sejam eliminados ou maior resistência nas plantas. Mas isso demanda recursos", disse.
"A maioria do dinheiro que recebemos é do poder público e a verba disponível muda conforme a economia. Isso é diferente nos países desenvolvidos, nos quais a participação do setor privado no financiamento à pesquisa é muito grande", completou Helaine.
A pesquisadora Claudia Barros Monteiro Vitorello, que desenvolve análise comparativa de genomas que causam doença na cana-de-açúcar na Esalq, é uma das que temem não conseguir emprego fixo após o término de seu projeto.
"Sou pós-doutorada pela Michigan State University, mas estou desenvolvendo pesquisa graças a uma bolsa que obtive na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). É isso que me sustenta e o financiamento é de quatro anos. Mas não tenho garantia de emprego fixo quando ele terminar", disse.
Ela afirmou que vê como uma alternativa a procura de emprego nos EUA, onde se doutorou, caso persistam os problemas para ocupação de um cargo. Ela é casada com um pesquisador do Cena e disse não querer deixar o Estado de São Paulo, onde está o centro da pesquisa brasileira.
"Eu quero ficar. Se for é por questão de emprego e para um aprimoramento, mas não quero me estabelecer lá. Mas tenho um colega do Cena e outro da Esalq que foram para o exterior no ano passado sem nenhuma intenção de voltar."
A direção da Esalq foi procurada mas preferiu não se manifestar sobre o assunto. O diretor do Cena Reynaldo Vitória foi procurado na última quarta-feira mas estava em viagem.
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Jornal de Piracicaba