Orçamento bilionário e emendas fazem com que Centrão cobice a pasta desde o início do governo, já de olho em maneiras de garantir a reeleição
A exibição de uma denúncia de precarização e desperdício de insumos e próteses nos hospitais federais do Rio de Janeiro pelo Fantástico, no último domingo (17), fez com que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, voltasse ao epicentro de uma nova crise frente à pasta. Cresceu, no meio político e na grande mídia, a pressão para que Nísia deixasse novamente o cargo.
Para entender este imbróglio, o programa TVGGN 20H recebeu o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que explicou que as recorrentes crises em torno do Ministério da Saúde fazem parte de uma estratégia do Centrão para assumir a pasta.
“Observando o que está acontecendo com o Ministério da Saúde é que houve uma confluência de pressões e coisas mal acertadas também. A Nísia não é uma política e ela está sujeita a uma carga, a uma pressão monstruosa como se demonstrou” , observou o deputado.
Segundo Valente, o Centrão está de olho no ministério desde o primeiro dia de governo Lula. “São bilhões de orçamento e em emendas. Muita emenda, muito recurso. Eles querem gerir o recurso, querem saber de reeleger a tropa.”
Cabe ao Planalto, agora, oferecer assistência política para manter a ministra no cargo e prepará-la para enfrentar as próximas cobranças, até porque Nísia herdou um dos ministérios mais importantes e também com pior legado da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Crises
Ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade tem perfil técnico adequado para chefiar o Ministério da Saúde. No entanto, desde o início da gestão, segundo Valente, ela herdou uma série de problemas causados durante as gestões anteriores.
“A crise de dengue que apareceu com uma força gigantesca. Superamos no segundo, terceiro mês [de 2024] toda a estatística de anos anteriores que eram de crise e ainda temos o ano todo pela frente. Pode chegar a 100 milhões de casos. Agora isso não é responsabilidade de um processo que entra agora. A vacinação não existe. É uma vacina japonesa, o [Instituto] Butantan vai criar. E o bolsonarismo criou no Brasil uma resistência à vacina, ainda tem mais essa” , pontuou o deputado federal.
Valente chama a atenção também para a crise dos Yanomamis, que teria caído no colo de Nísia. Apesar dos esforços do governo, em fevereiro, o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde apontou que o número de mortes dos indígenas cresceu 6% em 2023 em comparação ao ano anterior.
O secretário de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, atribuiu a alta à subnotificação. Já Ivan Valente acredita que o volume foi consequência de uma sabotagem das Forças Armadas, que se negaram a prestar a devida assistência entregando alimentos para os Yanomami porque demandaram maior verba para as operações.
Sufoco
Sobre o desempenho de Lula enquanto chefe do Executivo, o deputado federal acredita que o governo está sufocado por não ter maioria no Congresso.
“E olha que eu sou da linha de frente. Nós estamos em desvantagem nas redes sociais. O esgoto bolsonarista não voltou para o bueiro, pelo contrário, está cada dia mais insolente. A grande mídia brasileira que não é bolsonarista raiz, mas é ultraneoliberal como qualquer outra grande mídia. Então, o processo para você ganhar setores, que é o processo de gerar emprego, distribuir renda, fazer o país crescer, mostrar um horizonte educacional, de desenvolvimento sustentável é difícil porque eles fizeram um trilho. Os juros têm de ficar lá em cima, a dívida tem de ser religiosamente tratada. Aliás, ela não é tratada na mídia, não existe R$ 500, R$ 600 bilhões de juros por ano” , acredita Valente.
O convidado conta ainda que os setores neoliberais não querem um governo progressista e democrático como o de Lula. Eles querem construir uma terceira via e viram em Bolsonaro uma possibilidade.
“O Centrão comprou o bolsonarismo, então não é o velho Centrão só fisiológico, clientelista e corrupto. É um Centrão também ideológico, porque ele é privatista até o fim, ele só defende a questão dos bancos, ele quer as emendas, quer a conta do orçamento, mas também defende o déficit zero”, conclui.
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