São Paulo - A crise cambial, que elevou o dólar de R$ 2,37 em 1° de maio para cerca de R$ 3,00, atingiu em cheio a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Tida como modelo de agência de financiamento da ciência, a Fapesp, pela primeira vez, teve de suspender por tempo indeterminado a liberação de recursos destinados à importação de bens e serviços - como computadores e reagentes, por exemplo para projetos de pesquisas, novos ou em vigência.
Segundo o diretor-científico da instituição, José Fernando Perez, a agência foi obrigada a tomar essa decisão porque muitos dos compromissos foram assumidos com o dólar em torno de R$ 2,50. "Com a valorização da moeda americana, gastamos mais de R$ 60 milhões apenas com correção cambial", explica Perez. "Isso representa 15,7% do nosso orçamento, que é de R$ 380 milhões."
Além da suspensão de importações, a Fapesp não fará a correção do valor real dos auxílios já concedidos, eventualmente afetados pela desvalorização cambial. Isso vale também para bens a serem adquiridos no País. Outra medida adotada é a retenção dos recursos da reserva técnica-dinheiro extra que cada projeto recebe além de seu orçamento, para despesas imprevistas -, referentes ao gasto com importações, que também serão retidos. Eles vão ser usados como uma espécie de seguro cambial para cobrir variações do dólar.
GASTOS
Apesar dessas medidas, Perez garante que nenhum projeto corre o risco de sofrer perdas irreparáveis. "Se a compra de algum material ou peça de reposição for inadiável para uma pesquisa, nós daremos um jeito", tranqüiliza. "O máximo que poderá ocorrer é o atraso na conclusão de alguns projetos." Para Perez, o tempo de vigência das novas diretrizes dependerá da evolução da taxa de câmbio.
A Fapesp não é a única agência às voltas com problemas financeiros. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve 45% do seu orçamento cortado pelo governo federal. Isso tem causado preocupação e revolta na comunidade científica.
Para pressionar o governo, 670 pesquisadores de todo o País - representantes de sociedades científicas, universidades e instituições de pesquisa - liderados pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),-assinaram um manifesto, exigindo uma solução.
Notícia
A Folha (São Carlos, SP)