Notícia

Jornal do Brasil

Crianças têm taxas de colesterol alteradas

Publicado em 21 abril 1996

Por ALICIA IVANISSEVICH
Um estudo feito pelo Hospital de Cardiologia Laranjeiras com 151 crianças de 6 a 16 anos em quatro escolas de classes sociais diferentes mostrou que 25% delas apresentavam alterações no colesterol consideradas perigosas. Os resultados, para o diretor do hospital, Carlos Scherr, provam que a prevenção da doença coronariana (que afeta artérias do coração) deve começar na infância. "Vários países desenvolvidos têm programas de controle da doença coronariana nas escolas. A partir dos três anos de idade, a criança já está formada e pode comer as quantidades de proteínas, carboidratos, vitaminas e gordura preconizadas pelas autoridades de saúde", conta Shcerr. "Mas, no Brasil, são raras as escolas que adotam programas alimentares equilibrados." O que prevalece no país são escolas com lanchonetes que oferecem comida do tipo fast-food, com altos teores de gordura e calorias. É comum também que os pais apresentem atestados médicos para livrar seus filhos da prática de exercícios físicos. Os programas de controle de saúde adotados nos EUA baseiam-se nas recomendações da Associação Americana do Coração: comer menos sal, menos açúcar, menos gordura, evitar o álcool e o fumo. As merendas são balanceadas e, desde cedo, ensina-se à criança a importância de manter uma dieta saudável e de praticar exercícios. Pesquisa - Os quatro colégios pesquisados pelo hospital foram o São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, o Eduardo Guimarães, em Botafogo, o Eleizer Steimberg, em Laranjeiras, e o Lar Frei Luís, em Jacarepaguá. A equipe responsável selecionou aleatoriamente 78 meninas e 83 meninos, com idade média de 10 anos. Um questionário foi distribuído aos pais para traçar um perfil familiar das crianças. Para medir as taxas de colesterol (total, HDL ou bom colesterol e LDL ou mau colesterol) foi usado um aparelho que colhe o sangue com um pequeno furo no dedo. Os resultados foram comparados aos índices médios globais considerados normais para essa faixa etária: 175mg/dl para o colesterol total, 51 mg/dl para o HDL e 95mg/dl para o LDL. "Uma em cada quatro crianças examinadas apresentou índices de colesterol fora do normal, algumas com alterações significativas", revela Scherr. "Duas delas - uma do Eleizer e outra do São Vicente - tinham uma taxa de 270mg/dl de colesterol total, muito acima da média. Um garoto do Eduardo Guimarães tinha o HDL muito baixo (28mg/dl), assim como uma menina do Eliezer (32mg/dl) e dois meninos do Lar Frei Luís (19mg/dl e 24mg/dl)." A proporção de alterações nos níveis de colesterol dos alunos ficou assim divida: 28,3% para as crianças do Eduardo Guimarães, 34% para as do Eliezer, 23% para as do São Vicente e 16% para as do Lar Frei Luís. "Esses resultados derrubam o tabu de que a alimentação das classes baixas é pior", ressalta Scherr. "Apesar de carentes - várias crianças não têm pais e todas moram no Lar - os alunos do Lar Frei Luís seguem uma dieta balanceada. Duas nutricionistas preparam o cardápio, baseado em carnes magras, hortaliças e frutas. Além disso, os meninos percorrem distâncias grandes lá dentro." O médico lembra que a maioria das crianças que apresentou alterações é dos três colégios de classe média. "A porcentagem de alunos do Lar Frei Luís com níveis alterados é menor e eles ocorrem sobretudo no HDL, o tipo de colesterol que não sofre influência da alimentação." O que se pode concluir, segundo Scherr, é que a criança que se preocupa com a dieta tem mais chances de não ter problemas de coração. "Aquelas que têm história familiar da doença devem dosar o sangue regularmente. E mesmo as que não têm parentes com o mal devem adotar bons hábitos de vida", recomenda. "Sem paranóia, as crianças devem aprender a cortar excessos."