É difícil dizer onde começa e termina, exatamente, o Vale do Silício. Seu núcleo é o condado de Santa Clara, mas também inclui uma porção razoável dos condados vizinhos de San Mateo, Santa Cruz e Alameda. A todos eles, visivelmente, faltam atrativos. Não são mais que um conjunto esparramado e amorfo de auto-estradas, fábricas baixas, shopping centers e casas californianas de subúrbio, triviais, mas extremamente caras.
Segundo Ed Zschau, um antigo deputado federal pelo Vale do Silício, atualmente professor da Escola de Economia de Harvard, o vale é uma "criação existencial; ninguém disse 'vamos construir um centro empresarial de tecnologia". Entretanto, o vale poderia nunca ter existido, entretanto, sem Fred Terman, um professor de engenharia elétrica na Universidade de Stanford. Em 1938, aborrecido com o fato de que seus estudantes precisassem ir à Costa Leste para encontrar trabalho, ele persuadiu dois de seus alunos, Bill Hewlett e David Packard, a estabelecer uma empresa produtora de equipamentos eletrônicos de medição, numa garagem atrás da casa de Hewlett. Nos anos 50, a Hewlett-Packard, com várias outras empresas convencidas por Terman, transferiu-se para o novo parque industrial da Universidade de Stanford.
Ao longo das duas décadas seguintes, o número de empresas novas se multiplicou continuamente. As companhias atraíram uma rede de fornecedores especializados e de serviços de assistência técnica, além de uma nova geração de capitalistas de risco. Mas o progresso foi lento. O nome "Vale do Silício " - uma alusão à sua indústria principal, chips de silício —foi inventado em 1971 por um jornalista local, da área de tecnologia. Cinco anos depois, nascia, numa outra garagem, a Apple Computer. A revolução do computador pessoal estava a caminho. Mas a expansão durou apenas até meados dos anos 80, quando a indústria de chips do Vale do Silício viu-se ultrapassada por concorrentes japoneses. O vale respondeu reformando suas próprias operações de manufatura, terceirizando muitas delas e diversificando-separa outras áreas, particularmente softwares de computador.
Desde 1992, o vale vem progredindo rapidamente: foram criados mais de 125 mil empregos e as suas exportações anuais dobraram, atingindo cerca de US$ 40 bilhões, um quinto de sua produção total. A principal força motriz tem sido o software. É um mercado imenso (no valor de aproximadamente US$ 120 bilhões em todo o mundo neste ano, de acordo com a International Data Corporation), e cada vez mais diversificado. Atualmente, "software" compreende um labirinto de setores diferentes, entre os quais softwares aplicativos, sistemas operacionais, bancos de dados, a Internet, projetos com auxílio de computador e redes. Mas o Vale do Silício não vive apenas de chips e software. Segundo a Collaborative Economics, uma consultoria local, sua população economicamente divide-se, hoje, entre pelo menos sete setores diferentes, inclusive biotecnologia e ciências ambientais. O salário médio nesses "grupos industriais" ultrapassa os US$ 60 mil ao ano. Mas o Vale do Silício tem os trabalhadores mais produtivos da indústria nos EUA, cada um responsável por cerca de US$ 114 mil de valor agregado em 1992 (a última estatística disponível).
O atual "boom" no Vale do Silício parece se espalhar até para seus serviços de suporte. O Gunderson Detmer, um escritório de advocacia fundado há três anos, conta hoje com mais de 50 advogados.
Uma lição a tirar dessa história embriagante é que os grupos empresariais são um investimento de longo prazo. A Hewlett-Packard levou quase 40 anos para chegar a receitas de US$ 1 bilhão. Mas, uma vez que o grupo esteja implantado, o processo caminha rapidamente; a Netscape, a empresa produtora do mais conhecido browser para a Internet, parece pronta para alcançar a marca de US$ 1 bilhão em faturamento, em menos de cinco anos.
Notícia
Gazeta Mercantil