São Paulo - Um projeto em São Carlos está provando que robótica não é assunto apenas para jovens e adultos. Crianças entre 4 e 6 anos da creche da Universidade de São Paulo (USP) estão aprendendo os princípios básicos de montagem e programação de robôs. Após quatro meses de trabalho, os resultados estão surpreendendo pais e professores.
A chamada Turma do Vulcão é um projeto-piloto criado pela professora Roseli Romero, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos. O projeto forneceu à creche um kit robótico específico para a faixa etária das crianças.
Esse kit é composto por robôs semimontados, com peças não muito pequenas já prontas para serem encaixadas. O objetivo é fazer as crianças descobrirem para quê serve cada peça.
Uma das técnicas é comparar as partes de um robô com o corpo humano. "Por exemplo, quando elas tentam encaixar os olhos. Precisam relacionar a função de enxergar o ambiente. Mostramos a elas os sensores de luz e como devem ser acoplados. A reação delas foi tentar descobrir o lugar certo", conta Roseli.
Além disso, a atividade dá mais foco na ação do que na teoria. "Irá propiciar um conhecimento gradativo sobre o funcionamento do hardware e da programação. A atividade do robô é simulada e os alunos devem fazer isso se tornar realidade", explica a professora.
Segundo Roseli, as crianças deixam de enxergar o robô como uma máquina misteriosa. "Elas entendem que, para que o robô deixe de ser apenas um monte de peças e passe a interagir com o meio ambiente, é preciso colocar sensores e programá-lo", diz.
O projeto faz parte do Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP e recebeu o apoio da empresa Pete, que forneceu os kits de robótica usados nas aulas.
Monitores
Quem orienta as crianças são dez alunos de graduação dos cursos de engenharia mecatrônica e de ciência da computação do ICMC.
Para poder orientar as crianças, os monitores passaram por treinamento para conhecer melhor os kits. "Também tivemos retorno positivo deles. Estão empolgados em poder passar esse tipo de conhecimento à crianças", diz Roseli.
Os recursos vêm da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que concedem bolsa de iniciação científica aos universitários.
Retorno
Roseli afirma que o retorno dos alunos superou as expectativas iniciais. "Quando realizam as atividades na prática, se motivam muito mais que o ensino convencional", diz a professora.
A motivação se reflete quando as crianças chegam em suas casas, o que está fazendo os pais aprovarem a iniciativa. "Eles contam que seus filhos buscam ferramentas para montar objetos em casa", diz Roseli.
Segundo a professora, as escolas ainda não desenvolvem a criatividade dos alunos. "O ensino ainda é muito enquadrado. Essas crianças crescem com acesso à novas tecnologias, mas não têm possibilidade de desenvolvê-las".