Estudo apoiado pela Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa de São Paulo) aponta que mais de 100 diferentes linhagens do novo coronavírus (SARS-CoV-2) chegaram ao Brasil entre fevereiro e março.
Porém somente três, provavelmente vindas da Europa, continuaram a se expandir e originaram os mais de 984 mil casos de Covid-19 confirmados até 18 de junho.
De acordo com o estudo, essas três linhagens emergiram nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro entre 22 e 27 de fevereiro. A transmissão comunitária já estava estabelecida no início de março, bem antes de os órgãos de saúde recomendarem a restrição de viagens aéreas e a adoção de "intervenções não farmacológicas" --NPIs, na sigla em inglês-- para conter a disseminação do vírus.
O Ministério da Saúde regulamentou no dia 13 de março os critérios de isolamento social e quarentena, que foram implementados por governadores e prefeitos cerca de uma semana depois. As fronteiras terrestres só foram fechadas em 19 de março e a entrada de estrangeiros por voos internacionais só foi restringida em 27 de março.
"Nossos resultados evidenciam a existência de duas fases da epidemia no país. A primeira é de transmissão a curta distância, dentro das fronteiras estaduais de São Paulo e Rio", disse à Agência Fapesp a pesquisadora Ester Sabino, do IMT (Instituto de Medicina Tropical) da USP (Universidade de São Paulo), uma das coordenadoras da pesquisa.
"No início de março teve início a fase dois, de longa distância. Ou seja, as pessoas contaminadas nesses dois estados já estavam levando o vírus para as demais regiões do país quando foram adotadas as NPIs", completou.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas usaram informações sobre viagens aéreas e sobre as mortes confirmadas por Covid-19 entre fevereiro e abril foram cruzadas com dados genômicos do coronavírus obtidos pelo sequenciamento de quase 500 isolados virais de pacientes diagnosticados em 21 dos 27 estados brasileiros (contando o Distrito Federal).
"Nossos resultados lançam luz sobre o papel de grandes centros populacionais altamente conectados na ignição rápida e no estabelecimento do SARS-CoV-2 e fornecem evidências de que as atuais intervenções permanecem insuficientes para manter a transmissão do vírus sob controle no Brasil", aponta a pesquisa.
Segundo o estudo, embora as de isolamento tenham sido adotadas quando a transmissão comunitária já estava estabelecida, elas conseguiram "conter significativamente a disseminação da doença"..