O novo coronavírus (Sars-CoV-2) afeta o corpo humano causando uma inflamação nos pulmões do paciente, mas testes clínicos realizados ao redor do mundo mostram evidências de que ele também pode afetar outras regiões do corpo.
Além dos problemas respiratórios, a Covid-19 também pode afetar o coração, intestino, rins, funções neurológicas e até mesmo o fígado. Estes quadros complicam ainda mais o tratamento de casos severos da doença, segundo os médicos.
Quando o vírus ataca outros órgãos, as funções de defesa do corpo humano são afetadas, causando grande dano ao organismo, dizem os pesquisadores. Quase metade dos pacientes hospitalizados com a Covid-19 estão excretando sangue ou proteínas pela urina, indicando dano nos rins, segundo o doutor Alan Kliger, da Universidade de Medicina de Yale.
Em Wuhan (China), médicos apontaram que entre 14 e 30% dos pacientes da UTI perderam funções renais, com a necessidade de realizar diálise ou terapia. Nas unidades de tratamento de Nova York, a presença de profissionais para tratar este tipo de problema com urgência está cada vez mais requisitada.
“Há um grande número de pessoas com este problema. É algo novo para mim”, disse o Dr. Kliger ao Washington Post. “É possível que o vírus também tenha atuação nas células dos rins”. Novos testes poderão trazer conclusões sobre o assunto.
Estudo realizado no Instituto de Biociências (IBB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) indicou potencial alvo para tratamento da Covid-19 . Um gene identificado pelos pesquisadores pode estar associado a interações entre proteínas pulmonares e o novo coronavírus, o que pode indicar um método de combate à doença.
Os pesquisadores identificaram a alteração na expressão de um gene chamado TRIB3, responsável pela produção de uma proteína de mesmo nome e que tem alta probabilidade de interagir com a proteína do novo coronavírus em células epiteliais do pulmão – essas células fazem o revestimento interno do órgão e são alvos preferenciais do novo coronavírus . Segundo o estudo, essa proteína já foi anteriormente relatada como capaz de diminuir a infecção e a replicação de outros vírus.
“A TRIB3 tem o potencial de interagir com proteínas do vírus e isso pode, por exemplo, diminuir a replicação do vírus dentro da célula, como já demonstrado para o vírus da hepatite C. Ou seja, existe a possibilidade de que uma interação da TRIB3 com proteínas do SARS-CoV-2 [novo coronavírus] iniba o ciclo biológico do vírus”, disse o pesquisador do IBB da Unesp, Robson Carvalho, que lidera o estudo.
O gene TRIB3 diminui sua expressão em pessoas idosas do sexo masculino, o que pode ajudar a explicar a ocorrência de casos mais graves nessa população. Com esses resultados, de acordo com os pesquisadores, compostos capazes de reverter esse processo e que consigam estimular a expressão de TRIB3 devem ser avaliados como potencial tratamento contra o novo coronavírus.
Segundo Carvalho, na Europa, já há uma empresa espanhola realizando ensaios clínicos com um medicamento contra o câncer de endométrio que é capaz de aumentar a atuação da TRIB3.
Início do estudo
O trabalho de pesquisa começou há cerca de um ano, mas estava voltado para o estudo da caquexia – perda de peso e atrofia muscular – em pacientes com câncer de pulmão. Os pesquisadores estudavam o perfil da expressão do gene ao longo do envelhecimento do pulmão. Em março, com a pandemia da covid-19, os cientistas redirecionaram o trabalho para pesquisar a doença, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“A nossa ideia inicial era identificar moléculas que são secretadas pelo pulmão e que podem eventualmente atuar em outros órgãos e tecidos. Conversamos e pensamos ‘se estamos analisando moléculas liberadas pelo tumor do pulmão que podem atuar em outros órgãos, poderíamos pensar em uma abordagem semelhante e avaliar a interação entre proteínas pulmonares e proteínas do vírus da covid-19'”, explicou Carvalho.