Duas pesquisas recém-publicadas por cientistas brasileiros ajudam a entender fatores genéticos que protegem algumas pessoas da infecção ou até mesmo de desenvolver a forma grave da covid-19. Um dos estudos foi realizado com um grupo de idosos acima de 90 anos resistentes ao SARS-CoV-2 e o outro descreve o caso de gêmeos idênticos com desfecho diferente para a chamada covid longa.
Em uma das pesquisas, os cientistas buscavam possíveis genes de resistência ao SARS-CoV-2 e queriam entender mecanismos envolvidos nos extremos – casos de idosos resilientes à doença, mesmo podendo ter comorbidades, em contraponto a pessoas mais jovens sem comorbidades que tiveram formas muito graves, algumas letais. Para isso, trabalharam com uma corte de 87 indivíduos chamados de “superidosos”, ou seja, com mais de 90 anos que se recuperaram da covid-19 com sintomas leves ou que permaneceram assintomáticos após teste positivo para o novo coronavírus. A média de idade foi de 94 anos, sendo que uma mulher tinha, à época do estudo, 114 anos e foi considerada a pessoa com mais idade no Brasil a se recuperar da doença.
Os dados foram comparados com os de 55 pessoas com menos de 60 anos e que contraíram a forma grave ou morreram, além de uma base da população idosa geral da cidade de São Paulo, obtida por meio de banco genético. O trabalho foi publicado na Frontiers in Immunology e recebeu apoio da FAPESP por meio do CEPID, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Envelhecimento e Doenças Genéticas e de mais quatro projetos (19/19998-8, 20/09702-1, 13/17084-2 e 17/19223-0).
Pós-covid
No outro estudo, os cientistas relataram um caso de gêmeos idênticos (monozigóticos), com 32 anos à época, que apresentaram simultaneamente covid-19 grave com necessidade de internação e uso de oxigênio, apesar da idade e das boas condições anteriores de saúde. Coincidentemente os dois foram internados e intubados no mesmo dia, mas um dos irmãos passou oito dias a mais no hospital e somente ele apresentou a covid longa, ou seja, continuou com sintomas, principalmente fadiga, mesmo após sete meses da infecção.
Depois de avaliar o perfil de células imunes e das respostas específicas ao SARS-COV-2, além de sequenciamento completo do exoma (a parte do genoma responsável por codificar as proteínas), os cientistas apontaram que a evolução clínica diferente entre ambos reforça o papel da resposta imune e da genética no desenvolvimento da doença.
Segundo o trabalho, publicado na Frontiers in Medicine, embora os gêmeos idênticos compartilhem as mesmas mutações genéticas que podem estar associadas ao aumento do risco de desenvolver a forma grave, a evolução clínica foi diferente. Já em relação à síndrome pós-covid, corroborou uma associação entre o tempo de internação e a ocorrência de sintomas de longa duração.
.
.