Um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que mais de 50% da população adulta brasileira - o que corresponde a 86 milhões de pessoas -, apresenta, ao menos, um dos fatores que aumentam o risco de manifestações graves de Covid-19.
Para a coleta de informações dos brasileiros, foram utilizados dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) em 2013.
"Infelizmente, esse é o levantamento mais recente que reúne todas as informações necessárias para a análise", afirmou Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coordenador da pesquisa. “Em 2019, teve uma nova edição da PNS, que ainda não foi concluída", ressaltou o professor.
Segundo o pesquisador, se forem comparados os dados da PNS com os de levantamentos mais recentes, como o Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis do Ministério da Saúde) de 2018, realizado nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal, nota-se que a prevalência de diabetes (de 6,9% em 2013 para 7,7% em 2018) e hipertensão (de 21,5% entre os homens para 22,1%) variou pouco na população brasileira nos últimos anos, enquanto o número de fumantes diminuiu de 14,4% para 12,1%. Por outro lado, houve um crescimento considerável na proporção de obesos (de 17,5% para 19,8%) e de pessoas com doenças crônicas associadas ao envelhecimento.
Fatores de risco
Os pesquisadores levaram em consideração tanto fatores explorados no início da propagação do vírus, estudados por países asiáticos, quanto os observados recentemente por europeus e norte-americanos.
“Inicialmente, foram incluídas no grupo de risco as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, portadores de doenças crônicas e os pacientes com câncer diagnosticados há menos de cinco anos. Os últimos estudos, porém, propuseram novos fatores de risco: pacientes em diálise ou outro tratamento para doença renal crônica, obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo”, afirmou Rezende.
Os estados com maior proporção de pessoas que se adequam ao grupo de risco são o Rio Grande do Sul (58,4%), São Paulo (58,2%) e Rio de Janeiro (55,8%). Em oposição, aqueles com as menores taxas apresentadas foram Amapá (45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%).
“Há duas possíveis explicações para essa diferença. Uma tem relação com a maior expectativa de vida nos estados do Sul e Sudeste, onde o nível socioeconômico da população é maior e, portanto, há mais idosos. A outra seria o menor acesso ao diagnóstico médico no Norte e Nordeste, que poderia ter enviesado os dados sobre a prevalência de doenças como diabetes e hipertensão, que, muitas vezes, são assintomáticas no início”, afirmou Rezende.
Desigualdade social
A análise mostra considerável desigualdade social entre os brasileiros que apresentam maiores fatores de risco. Adultos que concluíram apenas a primeira etapa do ensino fundamental, que configuram a população de menor nível socioeconômico do índice, possuem o dobro de chances de apresentar tais fatores do que aqueles que completaram o ensino superior.
“Embora a desigualdade social no país seja um fato conhecido, nos assustamos com os números. Cerca de 80% dos adultos com baixa escolaridade podem ser incluídos no grupo de risco, enquanto entre as pessoas com nível superior essa proporção é de 46%”, relatou o pesquisador.
Rezende também destacou que a prevalência de doenças é maior em áreas mais afastadas e vulneráveis, onde mora grande parcela da população brasileira.