O laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, descartou a reinfecção de Covid-19 em seis testes que foram encaminhados pelo Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública), em Santa Catarina, até novembro do ano passado.
A informação foi confirmada à reportagem do pela Dive (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) na manhã desta segunda-feira (11).
Com isto, não há casos de reinfecção confirmados no Estado até o momento. As cidades dos casos suspeitos não foram divulgadas pela Dive. Segundo apurado pela reportagem, dois dos casos investigados foram em São Miguel do Oeste.
O resultado diz respeito aos critérios técnicos adotados para estabelecer se houve uma nova infecção, ou uma reativação do vírus. Segundo a Dive, esses critérios são “bastante rígidos e podem ser influenciados pela qualidade dos testes que foram aplicados aos pacientes”.
Os testes catarinenses foram enviados à Fiocruz para confirmar se os mesmos pacientes foram infectados em mais de uma ocasião. A reinfecção é estabelecida pelo Ministério da Saúde casos onde a pessoa tem testes positivos de PCR, com pelo menos 90 dias de diferença entre um e outro, e com a comprovação que a cepa, ou seja, o tipo de vírus, não seja o mesmo.
No caso dos pacientes de Santa Catarina, que testaram positivo duas vezes, não é descartada a possibilidade de que haja reativação, resquícios da primeira infecção. Especialistas tentam resolver essa que ainda é uma das principais dúvidas sobre a doença.
Pesquisadores das faculdades de Medicina e de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo), campus de Ribeirão Preto, identificaram um dos fatores que tornaram mais infecciosa a nova variante do coronavírus SARS-CoV-2, a B.1.1.7, originária do Reino Unido e com dois casos confirmados no Brasil pelo Instituto Adolpho Lutz.
Eles constataram que a proteína spike da nova cepa viral – que forma a estrutura de coroa que dá nome à família dos coronavírus – estabelece maior força de interação molecular com o receptor ACE2, presente na superfície das células humanas e com o qual o SARS-CoV-2 se liga para viabilizar a infecção.
O aumento na força de interação molecular da nova linhagem é causado por uma mutação já identificada no resíduo de aminoácido 501 da proteína spike do SARS-CoV-2, chamada de N501Y, que deu origem à nova variante do vírus, observaram os pesquisadores.
Para isso, é necessário o sequenciamento de genoma do vírus, o que é feito pela Fiocruz. Os pesquisadores consideram que o vírus mudaria entre uma infecção e outra, porque o novo coronavírus tem apresentado mutações constantes.
No caso dos pacientes de Santa Catarina, que tiveram testes positivos duas vezes, não se descarta a possibilidade de que haja reativação – ou seja, resquícios da primeira vez em que foram infectados pelo coronavírus. Essa é uma das muitas dúvidas que os especialistas ainda tentam resolver. Nesse caso, a pessoa mantém o vírus e pode voltar a ter sintomas, mesmo passado algum tempo depois de ter se contaminado.
“Vimos que a interação entre a proteína spike da nova cepa do coronavírus com a mutação N501Y é muito maior do que a apresentada pela primeira linhagem do vírus isolado em Wuhan, na China”, diz à Agência FAPESP Geraldo Aleixo Passos, professor da FMRP e da FORP-USP e coordenador do projeto.