São Paulo - O grafeno ainda é pouco conhecido do público brasileiro, mas este cenário está para mudar. A descoberta de novos usos do material em áreas bem distintas - que vão desde a indústria de telefonia e telecomunicações até a têxtil ou de artigos esportivos - tem suscitado um interesse crescente entre empresas e universidades.
"O grafeno não é um produto em si, mas um material usado não pelo usuário final, mas pelas empresas e indústrias", explica o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Christiano José Santiago de Matos, um dos pesquisadores do recém-inaugurado MackGraphe.
O laboratório, orçado em R$ 100 milhões e erguido no campus da universidade paulistana, é o primeiro da América Latina voltado a pesquisa e desenvolvimento de compostos e produtos que tenham o grafeno como base.
O grafeno é, grosso modo, a matéria-prima do grafite, já famoso por municiar artigos corriqueiros como o lápis. Sua "descoberta", contudo, só aconteceu em 2004, quando dois pesquisadores da Universidade de Manchester, na Inglaterra, encontraram uma maneira de obter o material puro - trabalho que rendeu até um Nobel da Física, em 2010.
"Quando se consegue delaminar ou esfoliar o grafite, você chega ao grafeno", explica Matos - a estimativa é que de cada quilo daquele seja possível extrair 150 gramas deste.
O que torna este material tão valoroso são algumas de suas particularidades: além de ser mais resistente que o aço, o grafeno é muito leve e capaz de conduzir eletricidade. Soma-se a tudo isso o fato de sua composição ser transparente.
"Sua aplicação mais 'pé no chão' neste momento envolve compósitos e nanocompósitos", conta o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do centro de tecnologia CTNanotubos, Andre Ferlauto. Trocando em miúdos: quando este pequenino material é misturado a polímeros como o plástico, o resultado implica em produtos mais resistentes, leves e baratos - algo que já está beneficiando a produção de artigos para esporte.
Touchscreen
Seu uso no mercado de telefonia ou de telecomunicações, contudo, é ainda mais disruptivo. "Como o grafeno só absorve 2% ou 3% da luz, conduz energia e é transparente, ele é muito importante para a tecnologia touchscreen", explica Matos, em referência às cada vez mais populares telas sensíveis ao toque, fundamentais em smartphones. "Atualmente, elas são feitas com materiais não abundantes e quebradiços. Substituindo, isso se tornaria bem mais barato". Ferlauto, da UFMG, destaca outra oportunidade: baterias e supercapacitores mais eficientes. "Ele é uma ótima solução para substituição do silício."
Também há potencial para o mercado de redes ópticas: sua capacidade ímpar de converter luz em eletricidade elétrica deve permitir conexões mais rápidas e menos custosas. "Já temos inclusive conversas com empresas de telecomunicações nacionais. Há chances de começarmos [projetos de colaboração] até o final de 2016", conta Matos, do MackGraphe.
Futuro
Além de área consolidadas, o grafeno vai colaborar com o desenvolvimento de produtos "inteligentes" e que, por enquanto, estão longe do consumidor, como roupas. "No caso de misturarmos o grafeno com tecidos, além deles se tornarem mais resistentes, também permitiriam a presença de sensores, que poderiam medir batimentos cardíacos, por exemplo", aponta Matos, citando ainda a possibilidade de janelas inteligentes.
"Há uma gama enorme de produtos. Já tem gente fazendo tintas inteligentes e condutoras", destaca André Ferlauto, do CTNanotubos. "O potencial de uso do material é muito grande", sinaliza, apontando que muito ainda está por vir.
GOVERNO TAMBÉM TEM INTERESSE
- Tanto o MackGraphe quanto o CTNanotubos contaram com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para saírem do papel. No centro mineiro, a Petrobras também está envolvida - confluência de forças que vai permitir a construção de um polo novo para pesquisa .
Já o MackeGraphe - que pretende se tornar autossustentável em até cinco anos - contou com um aporte de R$ 20 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que desenvolverá projetos no laboratório.